sexta-feira, 20 de junho de 2014

Ficando velhinhas?

               

              A gente percebe que está ficando velha quando sua irmã, quase da mesma idade, começa a fazer paninhos de crochê para dar de presente”, disse zombeteiramente e algo estupefata a minha irmã um ano mais nova, ao receber meu presentinho.
            Dei-me conta na hora o quanto ela tinha razão porque era uma situação surreal, como deve ter parecido a ela.
            Digo isso, primeiro porque parece coisa de "senhorinhas" ( o que somos, mas não nos achamos) dar paninhos de crochê de presente e depois, porque nunca tive habilidades manuais, a não ser gostar de desenhar o que culminou até por determinar minha profissão equivocadamente. Se você desenha bem, não significa que você deva ser arquiteto. Essa é a lição da minha vida que tenho a passar a esses moços, pobres moços.
            Mas voltando ao mote principal, nunca fui de fazer nenhuma arte manual a não ser algumas pulseirinhas em macramê que aprendi com um hippie velho, ainda na minha adolescência.
            Ah sim, esqueci-me de uma coisa. Pinto óleo sobre telas há muito tempo. E gosto bastante, mas não sei se tenho algum talento e talvez nunca venha saber, mas deixo claro aqui que sou uma pintora bienal já que minha produção consiste em um quadro a cada dois anos, se tanto.
            Recentemente me transferi para um setor da prefeitura do município, onde trabalho, que credencia artesãos e convivendo com esse pessoal eu descobri que adoro fazer artesanato e trabalhar com as mãos. Desse momento em diante nunca mais consegui ficar parada. Todos os dias eu produzo alguma coisa.
            Comecei com “scrappbook” que para quem não sabe o que é, “roubo” a explicação do Wikipédia que está bem sucinta e clara: O “scrapbook” é uma terminologia em inglês para definir um livro com recortes, é, entretanto uma técnica de personalizar álbuns de fotografias ou agendas com recortes de fotos, convites, papel de balas, flores secas e qualquer outro material que possa ser colado e guardado no interior de um livro.
            Começando com o “scrap”, nome mais íntimo, comecei complementar fazendo também a encadernação e após, cartonagem que usa tecido nas colagens das capas de álbuns, em bolsas, etc. É um trabalho extremamente lúdico, onde se retorna no tempo, é como voltar a ser criança cortando e colando papeis coloridos, carimbando, entre outras diversões, tudo isso usando a criatividade e desenvolvendo um estilo. E ainda se guarda as boas lembranças com fotografias especiais. É tudo de bom!
            O comércio criou uma enorme quantidade de ferramentas e variedade de papéis que tornaram a brincadeira bem séria e já tem um mercado enorme no ramo das decorações de festas, lembrancinhas, etc.
            Mas para mim é apenas um “hooby”, uma atividade praticada por prazer nos tempos livres, só que extremamente dispendioso já que a maioria do material bom vem dos Estados Unidos onde a técnica é muito difundida.
            Então resolvi variar um pouco com coisas mais baratas. Com falta de panos de prato em minha casa, comecei pintando alguns. Depois aprendi uma técnica com tecido autocolante chamada de “patch aplique” (procurem no Google), mas faltava um acabamento legal nos panos, então, por fim pesquisei no “youtube”, sim no “youtube” e assistindo alguns vídeos aprendi vários modelos de pontos de crochê para panos de prato o que deu origem a essa crônica, se é que pode ser assim chamada. 
                 Essa internet é fantástica!
              Num desses dias inspiradores, sem mais nem menos, fui até uma dessas lojas de eletrodomésticos e comprei uma máquina de costura sem jamais ter usado uma. 
                  Imaginam isso? Quem me conhece sabe do que estou falando.
            As habilidades em costura dessa pessoa que vos fala, ou melhor, vos escreve, resumem-se em pregar botões e fazer mais ou menos uma “bainha” numa calça ou saia. Prefiro até pagar para alguém fazer de tão ruim.
             Escolhi um modelo simples (de máquina de costura) e lá fui eu toda feliz com minha mais nova aquisição para casa, sem saber nem como ligava.
             Bom, como nem tudo é impossível nessa vida, eu comprei alguns panos, uma amiga me deu algumas dicas, li o manual, e saí fazendo dezenas de almofadas tortas. Eu e minha máquina tivemos algumas brigas feias, pois eu não sabia que meu pé era o único responsável pela peleja. A velocidade da máquina é determinada pela força com que o pé pisa no pedal, então foi um duro e pândego aprendizado.
            Só que aconteceu algo estranho, pois não obstante minha pouca habilidade, senti uma empatia, uma espécie de identificação com o utensílio. Alguns movimentos que eu fazia com as mãos eram mecânicos, como se meu subconsciente soubesse o que fazer.
                  É claro! Óbvio ululante!
            Desde os dois ou três anos de idade, lembro-me de minhas avós a paterna e a materna, assim como minha mãe, costurando. Interessante o que fica gravado em nossa memória.
            Daí virou uma questão de treino. O pano já não sai correndo de mim, mas só faço linha reta ou tento. Por enquanto...
            Então me apresentaram um tear de pregos. Fiz dezenas de cachecóis e enjoei. Aí aprendi fazê-los em tricô. Duas agulhas, uma meada de lã, alguns pontos e lá vou eu...
            Bordei um jogo de toalhas em “ponto cruz”, mas vi que não tenho paciência para bordados. Aprendi a fazer “fuxico”, mas acho chato, Já vi a técnica de fazer flores de E.V.A., mas não gostei, contudo ainda quero aprender muitas coisas inspirada por esses artesãos maravilhosos.
            Para ser bem sincera, não me aprofundei em nada e faço o quase básico das coisas que tenho vontade, exceto o scrap, a encadernação e a cartonagem que me apaixonei. Mas meu objetivo é todos os dias fazer alguma coisa útil com minhas mãos, mesmo que apenas alguns pontos de crochê num paninho.
            Assim sendo, minha irmãzinha caçoadeira, não vou presenteá-la com uma colcha de crochê jamais, pois sei que não terei paciência para tanto, mas você ainda vai receber muitas lembrancinhas feitas por mim de várias técnicas que vou aprendendo por aqui.   


            Pode até significar que estamos ficando velha e isso até que é bem bonito.

2 comentários:

Dulce disse...

Amei.....mas ainda nao me sint velhinha...apesar de ser uma maquininha de fazer croche....ahahahaha...bjs

Tania regina Contreiras disse...


Ah, como arteterapeuta, acho que trabalhar com as mãos, descobrir ou redescobrir as mãos uma maravilha. Nada a ver com velhice, eu diria. Vontade de criar, de fazer original, de presentear com algo feito por nós: isso é uma delícia e um rejuvenescimento.

Beijos,