quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Não fui poupada...

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          Parti não muito animada para renovar minha Carteira de Habilitação no “Poupatempo”, e tenho que admitir que a reunião de vários serviços públicos num mesmo local, facilita muito a vida.
O posto de atendimento situa-se num ‘shopping’ pertinho da minha casa, e lá fui eu crente que estaria vazio, afinal era véspera de feriado.
Quanta ingenuidade!
           O ‘shopping’ estava lotado, e mais cheio ainda estava o tal “Poupatempo”. Decerto que a cidade inteira precisava resolver suas pendengas administrativas justamente no mesmo dia que eu, e pelo menos dois terços estava lá para renovar a Carteira de Habilitação.
            Resultado? Três horas de puro êxtase, que vou tentar resumir.
            Primeiro peguei a lista de documentos que me entregaram no balcão de informações. Era confusa, exigia alguns procedimentos válidos somente para a “Filial Sé” na capital entre outros conflitos informativos.
            Munida da documentação necessária (cópia e originais) entrei numa fila para pegar uma senha e de posse dessa sentei-me para esperar, orando para a Santa Paciência da qual sou grande devota. Entretanto, em menos de cinco minutos já fui convocada a entregar a documentação.
Gente! Que coisa boa (Pensei feliz).
             – Aperte o painel conforme avalia os nossos serviços, solicitou a mocinha do balcão. Entre as opções “ótimo”, “bom”, “regular” e “ruim”. Ótimo, é claro! Tudo eficientemente rápido...
            Recolhida a papelada, fui orientada a aguardar para tirar foto. Chamariam pela mesma senha. Sentei-me, já um tanto arrependida pela avaliação precipitada. Restava esperar, e prestar atenção ao painel.
Nessas horas nossos olhos começam a passear e observar as pessoas presentes no local e acabam vendo coisas que poderíamos viver sem, como por exemplo, a moça a minha frente espremendo uma espinha da pessoa ao lado dela. Desviei os olhos, enjoada. Menos repugnante olhar só os painéis eletrônicos.!
            Algumas dezenas de minutos e finalmente lá estava ele (o meu número), piscando no painel acompanhado de uma campainha estridente e irritante. Corri para o retrato!
            Logo que sentei ouvi a advertência:
            - Não mexa no banco. 
            Óbvio que já era tarde! Eu já tinha movido o dito que fica numa posição extremamente desconfortável e é claro que todo mundo fazia a mesma coisa, pela cara irritada da atendente.    
            - Desculpe. Eu não sabia...
            Nem respondeu.
            Tentei ser simpática e engraçada. Acho que queria ser amada pela mocinha antipática do balcão. Tem momentos que a gente tem umas carências estranhas...
            Pois é aí que as coisas ficam piores. Minhas digitais não queriam colaborar e tive que apertar aquela maquininha umas três vezes para cada dedo e a atendente só não me agrediu porque a culpa não era minha, mas da tal leitora excessivamente sensível.
Mas ela não deixou barato: - Não aperte tanto os dedos, moça!
O engraçado é que ela é que estava apertando meus dedos contra o visor de leitura da máquina. Quase quebra. Dedos e máquina! Fulaninha mal-humorada! Não tenho culpa se ela estava trabalhando no feriadão. Eu também já estaria em casa, se ela fosse mais rápida.
            Na hora de bater a foto, mais repetições. Tenho certeza que ela escolheu a pior para juntar ao meu documento por pura ruindade! Ela não foi com a minha cara, a azeda.
            A próxima parada era a fila do banco. Mais uns vinte minutos até ser atendida e pagar as taxas.
            Mas espere! Ainda não acabou.
            Hora de voltar para a primeira fila, lembram? Aquela da primeira senha, quando eu cheguei.
Lá me foi dada outra senha para fazer o exame médico. Nesse momento, dentro de mim a Santa Paciência estapeava a Santa Inocência na cara!
            Ao voltar (de novo) aos painéis, percebi que tinham cerca de 30 pessoas na minha frente, e apenas três médicos oftalmologistas fazendo exame. A coisa estava difícil.
            Entendi porque só temos acesso ao painel de avaliação na primeira fila.
Não adianta se irritar. Sentar e esperar são as únicas alternativas.
            Ainda bem que espremedora de espinhas alheia já tinha se retirado, mas um molequinho do meu lado (com seus três ou quatro anos) pulava no banco e cantava feliz demais para meu estado de espírito.
            Minha metade boa ponderou que era legal ver uma criancinha alegre e rumorosa, enquanto a minha metade malvadinha queria enforcar a cria alheia. Comecei a discutir comigo mesma em pensamento.
- Isso lá é lugar de trazer criança?
- Quer que a mãe faça o quê? Deixe a criança sozinha em casa?
            - Quero que ela amordace esse moleque, pois não sou obrigada a ficar ouvindo “A canoa virou” até virar todo o líquido do meu labirinto!
            - Olhe a sua volta, ninguém está se incomodando com a criança. Só você.
            - Vai ver que é porque todo mundo é surdo.
            - Ou porque gostam de crianças...
            Quietas! As duas!
            Nesse ponto, resolvi me levantar. Era muita discussão interna somada ao som da campainha de cinco painéis eletrônicos mais uma criança cantora.
            Resolvi dar uma escapada antes de enlouquecer e dirigi-me para uma livraria ao lado.
            Súbito desejo de comprar um livro de poesias de Manoel de Barros. Eu não tenho nenhum, vocês acreditam?
Continuei não tendo, pois na livraria não havia unzinho sequer. Nas prateleiras de títulos brasileiros, literalmente caiu-me aos pés um livro do Rubem Alves que ainda não tinha: “Ostra feliz não faz pérolas”. Adorei o título, comprei e voltei ao meu calvário.
            Sentei-me novamente e abri meu livro novo, agora muito mais feliz. Adoro cheiro de livro novinho!
Nem percebi o tempo passar, de tão gostoso que é ler Rubem Alves. Devia ter comprado o livro antes de começar essa “via crucis”.
            Não me zanguei nem quando o oftalmologista disse que eu representava um perigo para o trânsito e a partir daquele momento decretou que eu só poderia dirigir de óculos.
            Fazer o quê?

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Super poderes

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         Imaginar!
         Um passatempo que voltei a exercitar durante o crescimento de minha filha que hoje tem treze anos.
         Na hora de dormir, quando a acompanhava para se deitar, ela tentava, por todas as formas, delongar nossas conversas e brincadeiras, tudo para evitar adormecer.
Aliás, faz isso até hoje.
Perguntas despropositadas, questionamentos acerca de qualquer assunto e eu, apesar de cansada, deixo-me engabelar um tantinho...
Faz parte da arte e manha de ser mãe.
Lembro-me de uma noite em especial quando ela tinha entre dez e onze anos, e me perguntou de supetão quais os "super poderes" que eu gostaria de ter.
         - Só podem três, mãe!  Estabeleceu autoritária. Ela adora inventar regras.
         Tinha que responder rápido, pois com ela, tudo tem que ser rápido. Com a impetuosidade das crianças, me deixei levar por esse devaneio e disse que queria ter o poder de curar dores e doenças, o poder de me tele transportar, e finalmente, o mais legal de todos os super poderes: a invisibilidade!
         Dando asas a imaginação, empolguei-me, entrando de vez na brincadeira e já aproveitei para enumerar mais alguns como “voar”, “respirar em baixo d'água”, “mudar de aparência”, “jamais engordar mesmo comendo muito” e...
          - Não pode mãe! São só três! Retrucou
         Ok! Está bem! Só esses três já está “louco de bom"...
Ah que maravilha a imaginação!
Tinha me esquecido como é gostoso dar asinhas a essa capacidade da mente humana em elaborar e simular situações em contraponto às nossas angústias reais e existenciais, independente de poder realizar.
         Só o ato de imaginar é por si só fantasticamente prazeroso...
         A menina já tinha seus três desejos na ponta da língua: ser elástica, para poder pegar as coisas sem ter que sair do lugar; voar (que gostaria também) e o último, que não entendi muito bem, que é poder ouvir a freqüência de energia de qualquer pessoa invisível ou alma (?), ela também não soube explicar. Estranhei esse último desejo, mas acho que tinha a ver com algum filme recém assistido.
         Ela me perguntou por que eu gostaria me tele transportar e ser invisível. Brinquei que era para espioná-la na escola, com o que ela replicou: - Você não confia em mim mãe?
         Conversamos mais um pouco, até que consegui desvencilhar-me de vários "eu te amo", "fica mais um pouquinho", "dá mais um abraço"...
         Fui deitar-me sonolenta, dando “tratos à bola”...
         O pensamente é mesmo um passarinho desnorteado. Voa sem rumo...
         Comecei a analisar, quase sem querer os nossos desejos.
A primeira coisa que me veio à cabeça foi interpretar que minha filha  talvez seja preguiçosa. “Elástica"?  Alcançar e pegar coisas sem sair do lugar?
Que desperdício de desejo!
O desejo de voar é auto-explicável. Inato da natureza humana, mas ser elástica? Que bobagem! Ri-me sozinha.
         Analisando então os meus, “curar dores e doenças” até que é altruísta e generoso, se desconsiderarmos que pensei muito mais nas pessoas da minha família e em mim mesma. Mas fiquei satisfeita comigo por ter pensado nisso, como se houvesse alguma possibilidade mágica entre o imaginário e a realização.
         “Tele transportar-se” é um desejo antigo do ser humano. Nos episódios da série "Star Trek" no final da década de 60, os homens já davam mostras desse desejo. Seria sensacional, podermos nos transportar para qualquer lugar de forma instantânea, sem precisar percorrer uma distância física. Nem tempo e nem espaço. Visitar antigos e queridos amigos. Estar em qualquer parte do mundo, conhecer novos lugares...
Mas, querer ser invisível? Por quê?
         Esse desejo me deixou intrigada. É uma daquelas coisas que a gente fala sem pensar, um ato falho. Um equívoco sintomático que tem profunda relação com a consciência e os desejos reprimidos do inconsciente.
Fehlleistung... Freud explica!
         “Invisibilidade”! Aonde isso nos leva?
Ver sem ser visto.
Especulo se eu sou uma bisbilhoteira, uma espreitadeira que quer “xeretar” a vida das pessoas. E por quê? Pura curiosidade? Necessidade de poder?
         Confesso que fiquei desapontada comigo ao constatar esse sentimento feinho e penso que as consequências seriam devastadoras para minha alma, caso tivesse esse poder que agora, pensando bem, não quero. É tão assustador quanto ser telepático e descobrir todo o mal, inerente aos pensamentos humanos.
          Eu não quero conhecer o "ruim" que existe em ninguém porque não quero perder a esperança na humanidade e acredito realmente que todos têm o bem e o mal habitando dentro de si, travando um combate íntimo e contínuo - que ninguém mais precisa saber - até que um deles vença...
Poderoso mesmo é quem consegue dormir com um barulho desses...       

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Tietagens

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Sou uma pessoa tímida!
Pode não parecer, mas eu juro!
Essa declaração, dada assim de supetão não é para causar impacto, e sim para contar-lhes uma historinha.
Sou aquele tipo de tímida que finge que não é.
Disfarço meu acanhamento tentando parecer “descolada”, e claro que isso só piora as coisas. Dar mancadas é comigo mesmo!
Eu seria - por exemplo - incapaz de pedir um autógrafo a um artista, mesmo que fosse um ídolo meu, por várias razões:
Primeiro porque não sei o que faria com a assinatura do dito. Segundo, eu acho que artistas não gostam muito de dar autógrafos, embora finjam que sim e finalmente porque eu simplesmente não teria coragem.
Teve uma exceção! Sempre tem...
Fui assistir a um show bem bacana de uma cantora que adoro, e ao ser apresentada pra ela no final do evento, pressenti que ela queria me dar um autógrafo.
“Pressentir” não é a palavra exata, mas ela veio em minha direção empunhando uma caneta e antes que ela fizesse uso indevido da dita fui logo tirando uma agenda da bolsa e pedindo um autógrafo.
Mas foi um ato de legítima defesa, juro!
Uma situação bem esquisita, lembrando agora...
Confesso que perdi a agenda com autógrafo e tudo. Mas andei a exibi-la por algum tempo, daí entendi o “espírito da coisa”.
Estou dando voltas para contar a minha história, eu sei, mas é que há algumas semanas atrás, eu ataquei de novo.
Ai que vergonha!
Apesar de tímida, tive a cara de pau de escrever para Rubem Alves.
Oh céus! Eu sei que isso é coisa de gente sem noção, mas eu posso explicar: O cronista, que também é teólogo, filósofo e psicanalista, escreve no portal da escola da minha filha onde consta seu endereço eletrônico.
Considerando que tenho vários livros dele que adoro e que escrevi algumas crônicas que fazem referência a ele, uma coisa levou a outra e eis me aqui confessando essa tietagem mais que inconveniente!
Eu até que fui comedida ao dizer o quanto gostava de seus livros e mencionei as ditas crônicas que escrevi em outro blog, com o intuito oportunista (confesso), de despertar nele uma irresistível curiosidade a ponto dele se interessar em lê-las.
Parva de tudo, eu sei...
Imagine se pessoas renomadas em qualquer arte, vão ter paciência ou tempo para dar atenção e avaliar o talento ou a falta deste, de fãs que nunca viram nem ouviram falar.
Seria diferente talvez, se fossem esses já famosos ou importantes.
Pelo menos eu tentei! Venci o acanhamento e enviei um “e-mail” para ele, a confiada...
Durante alguns dias, eu verificava diariamente se havia resposta ou indícios de que ele teria ao menos recebido o recado, até que “caiu minha ficha” e dei-me por vencida.
Deixei para lá...
Pois não é que em menos de duas semanas após ter mandado o e-mail, recebi um recadinho dele?
Dizia assim, com seu jeitinho mineiro de ser e com letras maiúsculas: “ROSSANA: OBRIGADO! BEIJO. RUBEM”
Provável que ele nem tenha lido as crônicas que escrevi, e se leu, pode nem ter gostado. Aliás, não tenho nem certeza de que foi ele quem respondeu o “e-mail”. Talvez algum Assessor para Assuntos Azucrinantes, mas na qualidade de fã, isso é quase desimportante.
Só precisava partilhar com vocês.
Eu recebi um e-mail do Rubem Alves com quatro palavras, dois pontos, uma exclamação e um ponto final!!!
Isso me deixou tão feliz quanto acertar na mega sena.
Fãs são mesmo sem noção!
Rubem: Obrigada! Beijo Rossana

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A[hu]MOR

Renato Aragão - Imagem do Google


Hoje é dia de conselho!
Meu amigo, minha amiga, se você tem verve humorística, não se case nem tenha filhos!
Jamais!
A menos é claro, que seu parceiro ou parceira tenha se apaixonado por você exatamente pelo seu senso de humor e não por outro motivo, ou tenha lhe conhecido sabendo dessa sua “aptidão” e aceite incondicionalmente.
A grande exceção é quando o talento para o humor traz benefícios financeiros, e nesse caso (e só assim), será benquisto.
Em qualquer outra situação você será inconivente para os seus, que farão de tudo para anular a sua propensão à gracinhas e não existe nada para deixar uma criatura mais sem graça do que um cônjuge, exceto é claro, filhos!
Não importa se você é a pessoa mais hilária do planeta e o quão espirituosa tenha sido a vida inteira.
Não importa se as pessoas adoram ouvir suas pilhérias e que suas piadas são super engraçadas.
Cônjuges e filhos provavelmente não vão gostar e como disse antes, filhos são censores ainda piores que os parceiros no quesito “humor”. Depois que atingem certa idade (por volta dos oito ou nove anos), passam a achar que os pais não têm nenhuma graça, e estes, constrangidos, passam mesmo a se sentir desajeitados e desagradáveis.
Difícil entender os filhos, porque quando eles têm entre três e sete anos de idade, somos praticamente uns bufões e qualquer gracejo nosso, desperta as mais gostosas gargalhadas nas criaturinhas. Ô coisa boa!
Tudo bem... Eu acho que nos acostumamos ao sucesso e, quando este acaba, ficamos saudosos e até meio rancorosos, eu diria.
Falando especificamente do meu caso, eu me lembro de que quando minha filha era pequenininha, me via como uma combinação de Xuxa com Didi.
Linda e engraçada! Eu era demais, gente!
Mas meu talento para a comédia foi diminuindo na proporção inversa aos aniversários da pequena, até que, em algum momento (que não me dei conta), devo ter me tornado uma pessoa capaz de envergonhá-la. Tipo: bêbado em velório, “manja”?
Claro que não desisti facilmente já que minha propensão ao humor estava sempre se impondo, mas esse “bulling” filial tornou-se tão avassalador que acabou por fazer-me esquecer de todas as piadas que sabia. Até das mais infames e ordinárias, dessas que todo mundo sabe, além de minar minha criatividade.
Dei-me por vencida, pois se insistisse mais um pouco acabaria perdendo a guarda da menina.
Só passei a me sentir “menos pior”, quando percebi que era assim com todos os adolescentes: Pais são sinônimos de “mico”.
Pelos filhos, pai e mãe jamais abririam a boca na frente de um colega e de preferência, seriam cegos e surdos também. Aliás, se fossem robôs, o vexame seria menor.
Não posso me esquecer do início dessa crônica, onde comentava sobre os cônjuges e aproveitando-me da experiência de ser mulher, alerto as meninas de plantão, que uma esposa fazendo gracinha é humilhação que justifica um “haraquiri” para a grande maioria dos maridos. Acreditem!
Só a esposa alheia é engraçada! Estas podem falar besteiras, contar piadas bobas, dar vexames, dançar esquisito, etc., que só pelo fato de serem  esposas de alguém, serão consideradas divertidas e até espirituosas.
Mas, se por uma eventualidade do destino, a protagonista de fato similar for você, prepare-se para o pior!
No mínimo uma semana de mutismo total, com risco de exílio voluntário do fulano para a casa da mãe, ou pior, a sua substituição sumária.
Nesse aspecto, as mulheres são muito mais condescendentes, pois conseguem lidar com esses embaraços com mais complacência. Talvez sejam mais dissimuladas...
Eu, do meu lado, nem me importaria de ter um parceiro palhaço. Melhor que um político.