quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Eu ando pelo mundo

Imagem do google

            “Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que nem sei o nome...”
 Assim começa uma canção da Adriana Calcanhoto que gosto muito, mas confesso que isso é uma coisa que definitivamente não sou de fazer: prestar muita atenção...
          Tenho um defeito crasso que já me prejudicou muito, principalmente na minha profissão de arquiteta: a distração e total carência de senso de observação.
            Sou lesa no olhar, totalmente auditiva, mas também gosto das coisas escritas...
            Todavia, não estou escrevendo para falar dos meus gostos e das minhas deficiências, até porque (as deficiências principalmente), não caberiam numa crônica só, e ainda sou prolixa e me enredo por caminhos que fogem do assunto.
            Acho que já escrevi isso antes.
        Tentando retornar ao assunto, não sou de prestar muita atenção nas coisas, muito menos nas cores que sei ou não o nome, mas outro dia dei de cara com um carro cor de abóbora na rua. Não, não era “laranja”, nem “cenoura”, “ocre”, “salmão”, “tijolo”, ou qualquer nuance semelhante. Era cor de abóbora mesmo. Daquele “abóbora”, usado em gravuras psicodélicas dos anos 70.
            Sei que esse é um assunto, digamos bocó, e não vai acrescentar nada de novo ou de bom ao planeta, mas a crônica é minha e escrevo sobre o que me vem à cabeça, sem querer ser impertinente.
            Fiquei fascinada, pois me chamou a atenção e isso é coisa difícil de acontecer, ainda mais considerando o estado meio apático que ando. Então me peguei observando inevitavelmente as cores dos carros das ruas.
            Entre um ou dois vermelhinhos ou “vinho”, a maioria vai do preto ao branco com muito mais de cinquenta tons de cinza, parafraseando o título do livro de E. L. James, que apesar de ser um fenômeno de vendas não comprei e não li. Não tive vontade.
            Por que será?
            Não sobre a vontade, mas por que será que os carros não têm mais cores?
       A Fiat até trouxe ao mercado, visando os jovens motoristas, uma safra de carros coloridos, o Uno college. Aliás, mais que coloridos, quase neon.
            Mas não os vejo muito pelas ruas, o que me leva a crer que, ou não venderam muito ou os compradores se arrependeram e ficaram com vergonha de andar com eles por aí... Sabe-se lá
            Eu andei pesquisando alguns carros para comprar e encontrei um que gostei e era azul. Um tom de azul lindo!
            Queria de todo jeito. Acho que “rolou” uma nostalgia, pois era cor da Variante da que meu pai tinha quando eu era criança. 
            Fui inteiramente demovida da ideia por todos que se arrebataram a debochar e opinar sobre a cor do carro, mesmo sem eu ter pedido. Chamava muita atenção, era brega, difícil de revender, que isso, e  aquilo...
            Eu ainda nem comprei e nem estou pensando em vender!
      Terminei por desistir, obviamente, mas ficou em mim uma sensação de ter sido manipulada e de não ter prosseguido com uma decisão que me cabia.
            Senti-me uma frouxa e sem opinião.
        Observando a rua hoje e avistar o carro cor-de-abóbora, que nem bonito era, percebi que quase todo mundo teme ousar e prefere ficar na zona de conforto, variando entre o preto e o branco para não chamar a atenção.  Nossa necessidade de fazer parte...
            Parece que nem os ladrões querem roubar carros coloridos, veja só.
            A psicologia também tem sua explicação. A maioria das pessoas opta por preto, prata ou branco ao comprar um carro, porque busca status e sofisticação, mas a escolha por essas cores também revela insegurança, pois impede que os motoristas expressem seus verdadeiros sentimentos, blá-blá-blá...
            Eu sinceramente sinto falta de cores e parece que estamos vivendo tempos de Henry Ford e seus carros pretos...
        Concluo que o que influencia toda essa engrenagem é mesmo a capacidade de revenda do veículo, pois no que se refere ao valor da tinta, as mais caras são as metálicas de qualquer cor, portanto os carro podem ser coloridos sem custar mais por isso.
      Algumas indústrias automobilísticas pelo mundo têm ousado com cores mais espalhafatosas em seus carros, mas não chegam à América do Sul, que tem 72% de sua frota pintada nesses tons acinzentados que nem podem ser chamada de cores...
            Na Europa, Japão e EUA é fácil encontrar carros azul-neon, verde-limão, amarelo-ouro, azul-piscina e tem até tintas especiais que deixam o carro bicolor de acordo com a luz.
              Ok, também não precisamos exagerar...
            Está cada vez mais raro deparar com automóveis coloridos e me sinto vítima dessa ditadura ou “moda” das cores sem cor.
            Algumas revendedoras até atendem pedidos especiais, mas além de ser demorado é muito caro.
            Confesso que não me conformo com o encolhimento do mercado dos carros coloridos que afinal, expressam a personalidade dos donos e alegram nossas ruas e avenidas.
            Entretanto, parece que os carros coloridos são uma prerrogativa dos caros modelos esportivos, ou dos modelos para a garotada que não tem medo de ser feliz.
            Veio-me uma ideia agora: O governo proporciona um transporte público de qualidade,  bonito e colorido e a gente diminui a compra de carros de todas as cores e tons.
             Que tal?