quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Rock and roll



Vou abrir meu coração e confidenciar uma coisa que reluto em admitir até para mim mesma: Eu tenho pavor de pessoas com mais de doze e menos de dezoito anos.
“Pavor” há de ser um adjetivo exagerado, mas não achei palavra mais apropriada num dicionário de quatrocentos mil verbetes, que expressasse adequadamente esse sentir.  
Faço uma observação desnecessária, mas sou uma tagarela contumaz além de ser dispersa: Eu não contei os verbetes. Apenas “chutei” um número que imagino que esteja próximo da realidade.
Voltando ao assunto, não é exatamente “terror” o que eu sinto, e sim aversão misturada com compaixão, admiração e total incapacidade de compreensão.
Analisando que atualmente tudo é considerado doença e tem um nome, fui procurar no “São Google” as aversões patológicas e inexplicáveis que residem na mente humana.
Achei “pedofobia” (medo de criança), “gerontofobia” (medo de idosos), mas nada encontrei sobre “fobia de adolescentes”.
Entretanto, descobri uma fobia interessantíssima "Anatidaefobia'" que é o medo de ser observado por patos.
Dá para acreditar? Mas não riam porque parece que o negócio é muito sério.
Só não encontrei a minha que resolvi inaugurar, batizando de “adolescentofobia”.  
Confesso que esse meu problema é antigo, mas não tenho lembrança de como começou, ou quando.
O fato é que tenho enormes dificuldades em lidar com a intensidade dos sentimentos dos adolescentes, a veemência com que se manifestam e a certeza que eles têm do que estão dizendo e fazendo, e exatamente por isso os acho meio ameaçadores para si mesmos e às vezes para outros. Essa confiança insolente e convicta é absurdamente imatura e pode ser perigosa.
          Além disso, são de uma impulsividade quase cruel, e uma rebeldia sem motivo, têm vontade de chamar a atenção, de chocar, além de uma raiva hormonal de quase todo mundo, principalmente dos próprios pais.
Os adolescentes são uma bomba-relógio ligada.
Tudo bem... Capaz que eu esteja exagerando, mas  sabem por quê? Eu estou mãe de uma adolescente. Yes! Minha filha está com quinze anos.
Têm noção do nível do meu estresse?
Descobri que existe até fobia dos próprios filhos que se chama “Uiofobia”, mas esse definitivamente não é o meu caso. Absolutamente nenhum problema em ser mãe. Adoro!
Meus problemas com ela começaram quando ela adentrou nessa etapa nebulosa e irritadiça da puberdade.
Gente, que medo! Que raiva! Sei lá...
Às vezes penso em fugir de casa, mas já me disseram que mães não devem fazer isso. Então tá...
Mas que dá vontade, isso dá!
Recentemente ela e alguns amigos montaram uma banda de rock. Pois é, ela é vocalista de uma banda... Pensem!
E não é qualquer rock. Eles curtem uma mistura de “heavy metal” ou “hard metal” com “punk rock”. Isso foi o que ouvi, pois não entendo patavinas do assunto, mas descobri que o rock tem inúmeras vertentes.
Sou apenas uma apreciadora de MPB, blue, jazz e do antigo e bom “rock and roll” dos Beatles entre outros.
Bom, isso nem vem ao caso, o que interessa é que os ensaios são na minha casa e só quem tem filhos músicos sabe o poder enlouquecedor de uma banda de garagem sem parede. Pobre de mim, dos vizinhos e dos cachorros lá de casa.
Outro dia eles tinham uma apresentação na escola e o baterista adoeceu exatamente no dia do "show".
Como se isso significasse o armajedon, minha filha entrou em desespero. Achando-se uma “band leader” tomou para si a ingrata tarefa de conseguir um baterista de imediato a qualquer custo e que tocasse as músicas que eles já tinham ensaiado com o outro.
Estava trabalhando quando recebi um telefonema dela aos prantos, dizendo que eu tinha que arrumar um baterista urgente para a apresentação da banda que seria à noite.
Eu?!!?
Claro! Afinal uma mãe tem obrigação de ajudar, ela deixou bem claro. Pensando bem, para que serve uma mãe que nem consegue arrumar um baterista de última hora?
Tive intimamente um pequeno acesso de rebeldia contra o Divino: Onde está escrito no meu contrato - que além de carregar nove meses no ventre, amamentar, contar histórias, dublar todos os personagens do Mauricio de Souza, assistir noventa e quatro vezes o vídeo da “Xuxa para baixinhos Nº 2”, vestir, alimentar, ajudar nas tarefas escolares, ouvir ensaio de banda de rock - ainda sou obrigada a encontrar um baterista? E com prazo apertado?
Só se foi escrito em letras miúdas e em aramaico...
Enfim, assim que passou esse momento de revolta, até cogitei sair a cata e contratar um baterista profissional só para que a menina se acalmasse, quando o pai me ligou dizendo que estava na mesma luta.
Então ela não confiou na minha capacidade e recorreu ao pai. Ora vejam só...
Resolvi, portanto passar o bastão, ou no caso, a baqueta, para que eles se entendessem e desisti do assunto em benefício da minha sanidade mental.
           Resumindo, os integrantes do grupo resolveram eles mesmos o problema. O guitarrista tocou bateria, e chamou um amigo para tocar guitarra no lugar dele.
Não foi o melhor show deles, mas afinal, no final deu tudo certo.
E minha fobia?
Piorou, é claro!