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Meio de abril. Outono...
Um ventinho frio começa a soprar pelas manhãs e ao por do sol; e um arrepio frio começa a soprar dentro de mim.
Pavor...
Tenho aversão ao inverno e mal principia o outono, já começo a sofrer de véspera.
Oh malfadada friúra!
Obviamente posso estar exagerando, já que sou uma criatura hiperbólica e tenho noção de que no Brasil, o inverno nem é tão rigoroso como em outros muitos lugares do mundo, todavia, definitivamente não somos devidamente preparados para dias mais frios.
Talvez, por sermos um país tropical, e bonito por natureza, nossas casas, locais de trabalho ou lazer, não têm calefação adequada, ao menos para minha pouca resistência à friagem.
Eu sou, confessadamente uma criatura solar e necessito do calor! No outono, começo a ficar melancólica e descobri que isso é uma doença, espécie de depressão sazonal.
Quem diria! Eu achava que era só frio...
É no inverno que percebo o quanto gosto do verão.
Sei que muita gente adora o frio e é quase consenso, que o inverno é a estação mais legal, aconchegante e elegante que existe!
Sei! Vai ser pobre e morar na rua para ver quanta elegância!
Sei que não moro na rua, mesmo assim o frio dói, paralisa, e confesso que estou pouco ligando para essa tal elegância desconfortável do inverno. Gosto mesmo é de pouca roupa, de andar de sandálias, vestidinhos esvoaçantes, blusinhas frescas. Gosto da liberdade, sem ter meus movimentos limitados por montes de casacos, botas, meias, cachecóis, luvas, etc...
Por conta disso tudo que registrei aí em cima, é que fico ponderando durante outono em me mudar para algum lugar bem quente durante o inverno.
Resido na região sudeste, no estado de São Paulo. Vale do Paraíba. Entre a linda Serra da Mantiqueira e a Serra do Mar, e por aqui, quando o clima resolve esfriar, ele faz isso bem feitinho!
E eu? Sofro para acordar, para levantar, para tomar banho e para viver...
Então fico imaginando, idealizando um lugar diferente, onde todos os dias sejam quentes.
É apenas um exercício lúdico que faço sem grandes esperanças, já que trabalho diariamente e tenho uma filha em idade escolar. Não existe, portanto, a menor possibilidade de “fugir” - de maio até setembro - para lugar nenhum.
Mas planear me ajuda a sobreviver.
Pode ser um lugar aqui mesmo no Brasil, que é meu lindo e querido país, com todas as estações, cores e climas a minha escolha. Além disso, é meu idioma.
Falando em “idioma”, penso logo que quero morar num lugar com nome bonito.
Tendo o calor como mote, pego um mapa do Brasil e campeio logo no alto. Região norte!
“Boa Vista”! Essa sim é uma cidade quente! Quase uma estufa para falar a verdade. Acho que é demais até para mim, além de ser longe pra dedéu. Mas veja que nome mais bonito: “Boa Vista”!
O nome é tão bonito como “Belo Horizonte”, mas já decidi que não quero nada aqui no sudeste e isso vale igualmente para “Vitória” que também é um nome formoso.
No sul então, nem cogito. Friorenta como sou!
Aos meus amigos da região sul, meus respeitos sinceros pela coragem.
Insisto ainda ali no norte.
Que sabe Belém! Que nome mais fofo para uma cidade. Foi onde nasceu o menino Jesus... Tá, eu sei que é Belém do Pará, cidade da Fafá e não de Jesus! Foi só uma piada boba...
Entretanto, me contaram que em Belém chove muito. Mas muito mesmo! E não sou lá grande fã de muita chuva e umidade.
Dou uma espiadela no nordeste atrás de calor e cidades com nomes bonitos. Confesso que não gosto do nome “Aracaju” que além de ser feinho (o nome), significa “luz baixa”, ou “onde o sol nasce”. É a capital mais oriental do Brasil e pode ser um ótimo lugar para se comer caranguejo nas férias, mas eu, definitivamente não gosto de caranguejos.
Ando mais um bocadinho e chego em “Fortaleza”. Um nome forte, para uma cidade quente e bonita. O Ceará é lindo, mas se fosse para morar no Ceará, eu ia querer morar em Jericoacoara. Um paraíso de areia.
“Natal” também está bem cotada nessa minha infatigável busca. O nome é bonito, a cidade é bonita, praias maravilhosas, sol, dunas... Verdadeiro éden tropical, mas vou analisar todas as opções para não haver arrependimentos.
Macapá, Maceió, Manaus...
Cidades que começam com a letra “eme”. Todas as minhas tias maternas têm nomes que se iniciam com essa letra. Pode ser um sinal... E se for, é para ir ou para não ir? Não sei...
Vejamos “João Pessoa”. Apesar de conhecida como “Porta do sol”, me faz lembrar que o dito, o tal do João, foi assassinado por um amante humilhado. História triste...
Não estou podendo com tragédias.
Cogito “Recife”... Uma grande cidade! Pessoalmente, acho que o Pernambuco é um dos Estados que melhor fala a nossa língua pátria, sem erros e com um sotaque lindo, mas e essas histórias de tubarões, gente? Vai que eu resolvo surfar na praia da boa viagem e um tubarão resolve ficar com alguma parte minha? Acho que Recife está fora.
Eu bem podia fugir para “Brasília”, que quase não chove e é quente do jeitinho que eu gosto. Mas tem nome de carro velho. Péssima escolha seu José Bonifácio! Além disso, abriga o Congresso Brasileiro e nem praia tem...
“Palmas” e “Porto Velho” começam com “P” que é como principia o nome dos meus tios (maternos), e também não tem praia, assim como “Rio Branco”.
Bom, ao menos está decidido que quero uma cidade quente, com nome bonito e que tenha praia.
Já posso descartar “Goiânia”, “Cuiabá”, “Campo Grande” e “Teresina.”
“São Luís” tem praia, mas também tem a família Sarney. Nem pensar!
“Salvador” parece legal e todo baiano que conheço tem saudades da Bahia, o que é um bom indicativo, mas cá entre nós, se fosse bom mesmo, eles não saiam de lá...
Sei que estou arrumando desculpas, mas é uma forma de me consolar já que sinceramente, sou refém de um cotidiano sem expectativas.
Resta-me sonhar, me agasalhar feito um urso e tentar sobreviver a mais um inverno sonhando com o regresso da minha amada primavera, nas manhãs ensolaradas de setembro.