quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Reflexões irrefletidas



      É certo que os dias atuais não passam mais como antigamente, eles voam.
Esse parece ser o consenso e tenho que dar minha ‘mão à palmatória’ que também ando a sentir esse apressamento dos tempos. Um diagnóstico de ligeireza se apossa de todos nós. Parece que adormecemos numa noite de janeiro e sem nos darmos conta, acordamos em dezembro com lembrança de ter um friozinho no meio. A sensação é de que mal começou o ano e já é hora de cantar “Adeus ano velho” outra vez.
Será que é apenas uma sensação? Hum...
Saibam que existem terríveis teorias conspiratórias de que a Terra anda dando suas voltinhas mais rápidas que antigamente e que o tempo está mesmo mais célere. Isso quer dizer que se tudo está mais rápido, nossa vida passa mais rápido também. Não sei se gostei disso... Só sei que quando acabo de guardar a última bolinha da árvore de natal, já é hora de montá-la de novo.
Pelo menos ainda lembro onde guardei...
Ando pensando em deixar tudo pronto ad infinitum, só para não ter mais essa trabalheira. Deixo tudo decorado o ano inteiro, inclusive o presépio, e pronto! É sempre Natal!
Pode parecer procrastinação de gente preguiçosa e é mesmo, pois já estou meio cansada dessa correria, e que tem alguma coisa muito errada tem...
Se for apenas uma percepção ilusória, o que sinceramente espero, é certo que pelo menos a velocidade da evolução tecnológica é real. Principalmente nos últimos anos.
Todo essa enrolação acima é para costurar um assunto que eu não sabia por onde começar e como minha lógica feminina me permite devaneios lá vou eu.
Só tem uma coisa que ficou mais lenta nesse nosso mundo: O nosso amadurecimento! 
Quer dizer, nossa forma de encarar a vida com as necessárias responsabilidades, assumindo os papéis que nos cabem. 
Maturidade, pura e simples!
       Observem comigo: Dia desses, eu li numa reportagem, que os cinquentões de hoje são os “trintinhas” de vinte anos atrás. Bom, cinquenta menos vinte é igual a trinta. A conta até que dá certo!
A verdade é que as pessoas de cinquenta anos hoje estão agindo como se tivessem trinta e dessa forma convivem, se vestem, se articulam, namoram, falam e vivem com mais alegria de juventude. Frequentam academias, comem bem, cuidam-se melhor, viajam e divertem-se mais... Uma geração sábia. Principalmente a mulherada.
Acho que se Balzac fosse vivo, hoje escreveria “Mulher de cinquenta anos”.
Voltando à reportagem, esta seguia dizendo que, como a expectativa de vida aumentou sobremaneira nas últimas décadas, a sensação de proximidade com a morte diminuiu e consequentemente modificou a atitude das pessoas, principalmente dos cinquentões.
Faz todo sentido!
Encontram-se mais pessoas de cinquenta anos (que há trinta anos atrás, prestes a se aposentar, se preparavam para ir jogar dominó de pijama na praça), que estão hoje procurando novos ofícios , viajando e recomeçando sob muitos aspectos.
Estar próximo dos cinquenta anos não dá mais aquela sensação de que é agora ou nunca. Passou a ser uma idade de plenitude.
Mas é claro que tudo tem seu lado ruim.
Não... Não sou chata, sou só libriana e gosto de analisar todos os lados das questões.
Se os “cinquentões” agem como se tivessem trinta, como agem estes? O que estaria acontecendo com os homens e mulheres de trinta anos?
Bom, as mulheres de trinta estão vorazes, invadindo ferozmente o mercado de trabalho, morando sozinhas, fazendo seu próprio caminho. Por quê? Ora porque não tem mais maridos disponíveis na faixa etária “adequada”.
Os homens de trinta anos?
Rá! Esses só vão completar os seus trinta anos mentais daqui a vinte anos, se seguirem a tendência e, portanto agem como se tivessem dez anos: Não querem mais se casar na idade ‘apropriada’ se é que existe isso, e querem continuar vivendo, comendo e dormindo na casa da mamãe.
Afinal são meninos ainda...
Os de vinte? Ora, esses mal acabaram de nascer...
Portanto, ficam esses meninos de trinta anos grudados na barra da saia da mãe com o aval do pai, por anos; Às vezes trabalham e outras nem isso. O fato é que não estão a fim de nada, muito menos de compromisso sério e de construir seu próprio lar.
Também... Para que? Ainda é cedo para se “amarrar”. Melhor curtir a vida e deixar para pensar nisso mais tarde. Depois dos quarenta, ou cinquenta...
Entretanto, tem certas coisas que a natureza não deixa barato.
Olha a libriana de novo...
Se uma mulher não tem filhos até os trinta e poucos anos, seu corpo começa a dificultar gradativamente a concepção. Então, num desespero talvez inconsciente, quiçá para a perpetuação da espécie, a mulherada sai tendo filhos através de produção independente. Isso já vem acontecendo há algum tempo.
Que fique claro que estou fazendo uma observação laica, já que não sou nenhuma analista do IBGE, mas o próprio apresentou um estudo de que famílias sem pai cresceram sobremaneira nas últimas décadas. 
Do meu lado, eu só fico observando os “meninos de trinta” e está mesmo muito esquisito.
A mãe compra a roupa, lava e passa também, além da comida. O pai empresta o carro, dá o dinheiro do motel, que ele guarda, pois “transa” com a namorada em casa mesmo, o que é permitido e até incentivado ao infante trintão com a desculpa de que é mais seguro, mais confortável e menos perigoso.
Para que, o pimpolho quer crescer?
Flávio Gikovate fez essa análise há tempos, observando que o que movia os garotos era a necessidade sexual, e por conta disso eles corriam atrás de um emprego, queriam  comprar um carro e ter dinheiro para sair com a namorada ou equivalente. Tudo pelo sexo que é a coisa mais importante na cabeça da maioria dos jovens.
Com tantas facilidades, conivência dos pais, emancipação das mulheres, não é preciso fazer muito. As meninas vêm até eles com os próprios carros, com a permissão dos pais delas e deles e nem é preciso ter emprego, nem sair a “caça”, nem nada.
Basta um quarto na casa dos pais e uns trocos de mesada para uma balada eventual. Até a bebida alcoólica os pais financiam com a desculpa da procedência e qualidade.
Melhor beber em casa...
Fala a verdade, casar pra quê?

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Rock and roll



Vou abrir meu coração e confidenciar uma coisa que reluto em admitir até para mim mesma: Eu tenho pavor de pessoas com mais de doze e menos de dezoito anos.
“Pavor” há de ser um adjetivo exagerado, mas não achei palavra mais apropriada num dicionário de quatrocentos mil verbetes, que expressasse adequadamente esse sentir.  
Faço uma observação desnecessária, mas sou uma tagarela contumaz além de ser dispersa: Eu não contei os verbetes. Apenas “chutei” um número que imagino que esteja próximo da realidade.
Voltando ao assunto, não é exatamente “terror” o que eu sinto, e sim aversão misturada com compaixão, admiração e total incapacidade de compreensão.
Analisando que atualmente tudo é considerado doença e tem um nome, fui procurar no “São Google” as aversões patológicas e inexplicáveis que residem na mente humana.
Achei “pedofobia” (medo de criança), “gerontofobia” (medo de idosos), mas nada encontrei sobre “fobia de adolescentes”.
Entretanto, descobri uma fobia interessantíssima "Anatidaefobia'" que é o medo de ser observado por patos.
Dá para acreditar? Mas não riam porque parece que o negócio é muito sério.
Só não encontrei a minha que resolvi inaugurar, batizando de “adolescentofobia”.  
Confesso que esse meu problema é antigo, mas não tenho lembrança de como começou, ou quando.
O fato é que tenho enormes dificuldades em lidar com a intensidade dos sentimentos dos adolescentes, a veemência com que se manifestam e a certeza que eles têm do que estão dizendo e fazendo, e exatamente por isso os acho meio ameaçadores para si mesmos e às vezes para outros. Essa confiança insolente e convicta é absurdamente imatura e pode ser perigosa.
          Além disso, são de uma impulsividade quase cruel, e uma rebeldia sem motivo, têm vontade de chamar a atenção, de chocar, além de uma raiva hormonal de quase todo mundo, principalmente dos próprios pais.
Os adolescentes são uma bomba-relógio ligada.
Tudo bem... Capaz que eu esteja exagerando, mas  sabem por quê? Eu estou mãe de uma adolescente. Yes! Minha filha está com quinze anos.
Têm noção do nível do meu estresse?
Descobri que existe até fobia dos próprios filhos que se chama “Uiofobia”, mas esse definitivamente não é o meu caso. Absolutamente nenhum problema em ser mãe. Adoro!
Meus problemas com ela começaram quando ela adentrou nessa etapa nebulosa e irritadiça da puberdade.
Gente, que medo! Que raiva! Sei lá...
Às vezes penso em fugir de casa, mas já me disseram que mães não devem fazer isso. Então tá...
Mas que dá vontade, isso dá!
Recentemente ela e alguns amigos montaram uma banda de rock. Pois é, ela é vocalista de uma banda... Pensem!
E não é qualquer rock. Eles curtem uma mistura de “heavy metal” ou “hard metal” com “punk rock”. Isso foi o que ouvi, pois não entendo patavinas do assunto, mas descobri que o rock tem inúmeras vertentes.
Sou apenas uma apreciadora de MPB, blue, jazz e do antigo e bom “rock and roll” dos Beatles entre outros.
Bom, isso nem vem ao caso, o que interessa é que os ensaios são na minha casa e só quem tem filhos músicos sabe o poder enlouquecedor de uma banda de garagem sem parede. Pobre de mim, dos vizinhos e dos cachorros lá de casa.
Outro dia eles tinham uma apresentação na escola e o baterista adoeceu exatamente no dia do "show".
Como se isso significasse o armajedon, minha filha entrou em desespero. Achando-se uma “band leader” tomou para si a ingrata tarefa de conseguir um baterista de imediato a qualquer custo e que tocasse as músicas que eles já tinham ensaiado com o outro.
Estava trabalhando quando recebi um telefonema dela aos prantos, dizendo que eu tinha que arrumar um baterista urgente para a apresentação da banda que seria à noite.
Eu?!!?
Claro! Afinal uma mãe tem obrigação de ajudar, ela deixou bem claro. Pensando bem, para que serve uma mãe que nem consegue arrumar um baterista de última hora?
Tive intimamente um pequeno acesso de rebeldia contra o Divino: Onde está escrito no meu contrato - que além de carregar nove meses no ventre, amamentar, contar histórias, dublar todos os personagens do Mauricio de Souza, assistir noventa e quatro vezes o vídeo da “Xuxa para baixinhos Nº 2”, vestir, alimentar, ajudar nas tarefas escolares, ouvir ensaio de banda de rock - ainda sou obrigada a encontrar um baterista? E com prazo apertado?
Só se foi escrito em letras miúdas e em aramaico...
Enfim, assim que passou esse momento de revolta, até cogitei sair a cata e contratar um baterista profissional só para que a menina se acalmasse, quando o pai me ligou dizendo que estava na mesma luta.
Então ela não confiou na minha capacidade e recorreu ao pai. Ora vejam só...
Resolvi, portanto passar o bastão, ou no caso, a baqueta, para que eles se entendessem e desisti do assunto em benefício da minha sanidade mental.
           Resumindo, os integrantes do grupo resolveram eles mesmos o problema. O guitarrista tocou bateria, e chamou um amigo para tocar guitarra no lugar dele.
Não foi o melhor show deles, mas afinal, no final deu tudo certo.
E minha fobia?
Piorou, é claro!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Precisa-se de empregada!




Uma semana sem uma empregada doméstica me permite a consciência de que esse texto será provavelmente tendencioso, considerando certo rancor que ando alimentando por essa categoria específica.
Adianto que sou e sempre fui uma patroa generosa, pontual no pagamento e bastante compreensiva e flexível. Aliás, do ponto de vista dos empregadores, sou uma anátema na categoria “patrão”, mas isso tudo não garante encontrar e manter uma boa funcionária, não importa o quanto se disponha a pagar.
Acredito que a profissão de “empregada doméstica” deva estar em extinção, ao menos no seu papel mais notório que é cuidar de uma casa, que consiste em limpar e organizar a tal, cozinhar para a família, lavar e passar roupas. Pelo menos era assim que faziam as empregadas de “antigamente”.
Atualmente, ao tentar contratá-las, elas já trazem consigo um inventário de exigências, que antes era prerrogativa do patrão. São elas que escolhem os dias que podem, o horário e o tipo de serviço que querem fazer.
Estão se “especializando”, se é que podemos assim descrever. Ficando parecidas com médicos. Se eu quiser alguém que passe roupas, terei que contratar uma “passadeira”, pois quem cozinha não lava, nem passa. E o antigo trocadilho vira realidade.
Que fique claro que essa “particularização” dos serviços, não significa benefícios na qualidade do trabalho. Muito pelo contrário! Por algum motivo que não atino, essa qualidade vem piorando consideravelmente. Um declínio vertiginoso, diria.
Mudando um pouco o foco, tenho para mim, que minha família me acusa de ser “boazinha”, demais. Dizem que é por isso que minhas empregadas “deitam e rolam”. Também sou culpada injustamente de fazer uma pré seleção cujos requisitos são “feiura”, “ignorância” e “incompetência”.
Como explicar que não consigo achar nada melhor?
Quem eles querem, afinal? A Gisele Bündchen lavando nosso banheiro enquanto declama Edgar Allan Poe?
O fato é que mesmo feias, ignorantes e/ou incompetentes, está quase impossível manter uma empregada por muito tempo.
Só sei que nos últimos tempos andei aceitando qualquer pessoa que quisesse trabalhar como empregada doméstica na minha casa, sem nenhuma exigência, referências, nadica de nada...
Nem assim!
A minha penúltima “secretária” como gostava de ser chamada, escrevia totalmente errado na lista de compras. Quantas vezes eu comprei alho no lugar de óleo, e por aí vai... No entanto, conhecia toda a legislação trabalhista concernente à profissão de “doméstica”. Sabia cada artigo, item, emenda, adendo... Sabia de todos os seus direitos, melhor que qualquer advogado. Dava até assessoria às colegas do bairro.
Deveres? Essa parte ela não se interessou em ler.
Chegava atrasada, fugia antes do horário, faltava, fazia tudo correndo e mal feito, e assim, por pressão da família tive que dispensá-la, não sem antes sofrer um desfalque nas contas.
Mal sabia que podia piorar.
E sabem o que aconteceu?
Piorou!
Se a penúltima escrevia errado, a última que consegui arrumar não sabia nem escrever. Ler tampouco. E ainda tinha raiva de quem sabe. Uma analfabeta convicta.  
Senti pena e me propus a ensiná-la, depois do expediente, ao que ela rebateu insultadíssima que aquele era o horário da hidroginástica dela.
Então tá, ué...
Todo mundo tem o direito a escolhas.
Depois, para que eu preciso de uma pessoa alfabetizada em casa? Eu só preciso de alguém que faça uma comidinha caseira para três pessoas e passe a maldita pilha de roupas que não para de crescer, enquanto os guarda-roupas esvaziam. Alguém que mantenha a casa mais ou menos organizada e me engane que limpou, pois eu trabalho fora em período integral e só quero ter paz ao chegar.
No entanto, essa se superou no quesito “pior dos piores do mundo”. Era grosseira ao atender ao telefone, e além de não anotar o recado (óbvio), também não se lembrava do nome de quem ligou ou o que queria.
Uma lista de compras a essa altura dos acontecimentos, era um luxo que não mais me pertencia.
Meus familiares me fitavam zangados todos os dias porque a comida era uma “gororoba” intragável, e além de cozinhar mal, a dita conseguia fazer uma baderna colossal na cozinha durante o processo. Totalmente desordeira e atrapalhada. Jamais vi nada parecido.
Nossa hora do almoço era um caos.
Confesso que tive ganas de fugir de casa ou passar a comer fora, esquecendo que eu é que sou a mãe.
A geladeira entulhada com dezenas de potinhos, cada um guardando um resto de alguma coisa que jamais seria reaproveitada: uma fatia de tomate num, uma azeitona noutro, um restinho de molho, um pedaço de frango velho, elementos não identificados, etc.
Não satisfeita com tanto defeito, ela se dava ao luxo de ser mandona, se intrometia nas conversas da família, não gostava dos animais e para fechar com chave de ouro, reclamava da empregada anterior, que eu, saudosa já comparava a uma governanta britânica.
Quando ela se queixou (quase dois meses depois de contratada), que o chão da cozinha estava sujo porque a outra empregada não limpava, eu tive a audácia de dizer que agora era ela quem tinha que fazer isso. “Fuzilou-me” com um olhar que variava entre furiosa e estupefata.
Quase fui limpar o chão eu mesma.
Mas de números ela entendia! Tinha dois celulares e ligava o dia inteiro sei lá para quem.
Mesmo com toda a família contra mim, cheguei a defendê-la, só para não ter que recomeçar todo o processo de procurar, entrevistar, contratar, ensinar...
E ainda assim, o inesperado aconteceu.
Ao receber seu terceiro salário, sem aviso prévio, sem despedidas, sem sequer uma carta de adeus, ela se foi...
Já faz uma semana que não vem trabalhar.
Ao ligar para casa dela para obter notícias, não me atendeu e mandou recado pela filha. “A mãe disse que não quer mais trabalhar aí porque vocês são muito desorganizados.”
É isso aí.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O rabugento





        Passava dos setenta e morava no interior.
Violeiro competente, e além de ser comerciante era também um político atuante na cidadezinha.
Conforme se soube, o velho era sistemático, teimoso, e por que não dizer, um caipira rabugento.
Como se tornou político tendo essa conduta antipática é uma incógnita. Um enigma, aliás, para quase todos os políticos desse país
        E cá entre nós, soube que o tal era meio transtornado.
       Imaginem vocês, que eventualmente cercava a própria loja com fita de isolamento “zebrada” de amarelo e preto, vedando a entrada de clientes.
Daí sentava-se na porta e tocava viola o dia inteiro.
Azar se alguém quisesse comprar alguma coisa. Ali não entrava!
    Incontáveis às vezes em que deixou o cliente experimentar, examinar e escolher uma peça. Na hora do “vou levar”... Não levava! O velho não vendia. Ou por que só tinha uma peça. Ou por que não foi com a cara do freguês, ou por qualquer motivo que lhe desse na telha.
Birrento.
Não vendia e pronto! Louco ou não?
     Contam que quando visitou a viúva de um correligionário que inexplicavelmente cometeu suicídio, inquiriu contumaz à inconsolável:
- Foi formicida?
- Não. Respondeu a viúva. – Foi “Diabo Verde” (Um ácido desentupidor).
- É “bão” também! Filosofou...
      De vez em quando se “arvorava” a passear de bicicleta pela cidadela. Sempre com o cenho fechado e cara embirrada. O delegado da cidade, que era velho conhecido, o chamou um dia quando estava dando suas pedaladas:
- Que foi, seu delegado? Por acaso tô sendo preso? Indagou o invocado.
- Que nada amigo, só queria dar uma voltinha nessa bicicleta. Posso? Perguntou o delegado.
- É claro que não! De jeito nenhum! Se “ocê” me rouba a bicicleta eu vou dar queixa pra quem?
        Existe coerência...
        Ah sim! Ele tinha um temor de voltar sozinho para casa quando estava escurecendo, já que morava afastado do centro urbano.
Se não tinha companhia - o que era habitual devido a sua ranhetice - ia entrando de bar em bar para ver se topava com algum “vizinho”.  
Assim se detinha em todos eles, que não eram poucos e tomava uma cachaçinha para “não fazer desfeita”. Só ia para casa quando o teor alcoólico ficava maior que o medo.
      Dormia embriagado todas as noites, o que talvez explique seu constante mau humor:
Pura ressaca.

domingo, 8 de julho de 2012

Ano eleitoral




A passeata passeia.
Trânsito congestionado...
Dois amigos compartilham carona.
- O que é agora? Outra passeata?
- São os invasores das casas daquele conjunto da Prefeitura.
- Cada dia é uma coisa diferente. Tenha dó!
- Ano eleitoral...
Trânsito congestionado...
- Ai minha paciência...
- São muitas as reivindicações...
- Mas já não faz um tempão que eles invadiram?
- Faz.
- Então o que mais eles querem?
- Sei lá! Vai ver, querem regularizar a situação. Quer sair do carro e ir lá perguntar?
- É ruim, heim!
- Ano eleitoral...
Trânsito congestionado.
- Tá vendo aquele moço, lá?
- Qual moço?
-Aquele de camiseta vermelha.
-Tá cheio de gente de camiseta vermelha.
- Aquele ali ao lado da mulher com o megafone.
- Sei qual é.
- Então, ele estava naquela manifestação de ante ontem.
- Na outra passeada?
- É!
- Aquela dos aposentados?
- Hum hum...
-Mas nem idoso ele é!
- Pois eu me lembro dele muito bem. Era o mais animado e indignado da passeata.
- Ano eleitoral...
Trânsito congestionado...
- Vou chegar atrasado do almoço de novo!
- O que ele está fazendo nessa aqui também?
- Sei lá! Vai ver que gosta de passear e gritar pela rua, ou então o pai aposentado  invadiu o tal conjunto residencial...
- Tá me gozando?
- Na verdade, é só algum candidato da oposição.
- Como você sabe disso?
- Ano eleitoral... 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Então?!




Como qualquer mulher que tem mais de quarenta anos deve fazer, lá fui eu me submeter aos exames preventivos triviais: mamografia e ultra-sonografia.         
Tenho mais de quarenta e mais não digo...         
São exames chatíssimos e desagradáveis, mas muito importantes. Apoio e divulgo toda campanha de prevenção e combate ao câncer de mama e outras doenças femininas.         
E depois, cá entre nós, não é nada com que não possamos lidar.         
O que é uma mamografiazinha perto de depilar pernas, axilas e até virilha? E tirar pelos da sobrancelha com pinças, parir um filho (será que é pleonasmo?), entre outras coisinhas abstrusas pelas quais estamos carecas de passar?         
Quase nada, ainda mais quando se trata da nossa saúde.                Ressalto que o termo “careca” foi empregado por mera força de expressão, pois esse desgosto costuma ficar para os homens para contrabalançar um pouquinho.         
Sei que os “meninos” também padecem com o tal exame da próstata, mas eu estou a falar de nós mulheres, ora bolas. Afinal é o assunto que entendo!         
Contudo, esses exames, sempre nos deixam um pouco apreensivas, pois os resultados podem decretar nosso futuro, mesmo quando se trata apenas de rotina.   Então, comparecer num laboratório desses não é lá uma coisa muito divertida.
Falando nisso, vale ressaltar que a sala de espera desses laboratórios para exames de imagem é um lugar onde o socialismo é exercido com extremo rigor.
Tanto faz se o plano de saúde é o básicão ou um top-vip-mega-blaster, pois somos todas obrigadas a nos vestir iguais, com um modelito básico especialmente criado para a ocasião. Um pano com dois buracos para os braços e uma faixa para amarrar. Medonho.
Obviamente, o “estilista” desse indumento não teria competência para escolher cores menos repugnantes.

Custava criar uma roupinha mais estruturada, adicionar alguns detalhes delicados e optar por uma cor mais alegre? Parece uma conspiração laboratorial. Já passei por vários laboratórios e todos eles querem nos enfear propositalmente. Um conluio com um intuito que ainda não consegui determinar, mas vou descobrir.
Não é suficiente o nosso padecer?
Sei bem que esses mimos são supérfluos quando o assunto é sério, ainda assim, nada justifica esse traje ridículo. 
Não há auto estima que resista!
Entretanto, não deixa de ser interessante quando nos tornamos todas iguais ao deixarmos de lados o que nos identifica: nossos pertences. Tudo fica trancado num armarinho, e seguimos portando apenas uma chave do lugar onde guardamos quem pensamos que somos. 
E somos dezenas por dia, centenas por semana, milhares...
Ali, olhando aquelas mulheres sentadas ao meu lado, em silêncio, a espera de serem chamadas, quase não sei discernir quem é pobre ou rica, quem é a grã fina, a doméstica, a estudante, a funcionária pública, a empresária... Estamos ali despojadas de nossos adornos e posses materiais.
Continuamos únicas e ao mesmo tempo passamos a ser tão parecidas, sem as coisas que nos distinguem, vestindo um uniforme de gosto duvidoso e de praticidade evidente, enfrentando nossos piores temores...
Mulheres no mesmo barco.
Entre nós quase não há palavras, mas uma cortesia implícita, uma cumplicidade silenciosa.
Quem pode saber o que cada uma carrega dentro de si? Na mente e no corpo? Estarão ali apenas pelo exame de rotina?
Talvez, entre nós exista alguma bem assustada ou o travando uma luta declarada com a doença, acompanhando a regressão ou o avanço de seus próprios receios. Eu não saberia apontar qual.
Quem sabe, apenas mulheres serenas, fazendo um simples e rotineiro exame, como eu, e agradecendo a Deus pelos avanços tecnológicos que permite sermos diagnosticadas com precisão e antecedência de qualquer indício de doença.
Entretanto, nem toda a tecnologia da medicina moderna solucionou um grande transtorno pela qual temos que passar: A tal da mamografia!
Preciso manifestar aqui a minha decepção com a classe científica que despende tanto dinheiro e esforço em modernizar os maquinários de exames por imagem, e não se dedica a pesquisar uma máquina que não trate nossos peitinhos como massa de pão.
Durante uma mamografia, nossos seios são colocados em uma plataforma especial e comprimidos gradualmente por uma placa até igualar de espessura, de modo que todo o tecido possa ser visualizado numa tela e isso é feito na horizontal e depois na vertical. Cada um...
Parece ruim? Pois é pior, já que as atendentes costumam achar que a espessura ideal para visualização de um peito, é a de uma folha de papel.
Quem nunca fez uma mamografia não tem noção do martírio.
Para os homens terem uma idéia, eu explico numa linguagem de macho: Imaginem seus testículos sendo comprimidos por uma morsa até ficarem da finura de uma pizza.
Então?!
É um procedimento quase medieval, mas que ainda é o mais eficaz no diagnóstico precoce do câncer de mama.
Portanto, apesar dos pesares, o custo benefício compensa.
Assim, conclamo as garotas dos vinte aos setenta anos para que se mantenham em dia com seus exames.
Já dizia o velho e sábio ditado: Prevenir é melhor que remediar!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Quando o inverno chegar...

imagem do google 

Meio de abril. Outono...
Um ventinho frio começa a soprar pelas manhãs e ao por do sol; e um arrepio frio começa a soprar dentro de mim.
Pavor...
Tenho aversão ao inverno e mal principia o outono, já começo a sofrer de véspera.
Oh malfadada friúra!
Obviamente posso estar exagerando, já que sou uma criatura hiperbólica e tenho noção de que no Brasil, o inverno nem é tão rigoroso como em outros muitos lugares do mundo, todavia, definitivamente não somos devidamente preparados para dias mais frios.
Talvez, por sermos um país tropical, e bonito por natureza, nossas casas, locais de trabalho ou lazer, não têm calefação adequada, ao menos para minha pouca resistência à friagem.
Eu sou, confessadamente uma criatura solar e necessito do calor! No outono, começo a ficar melancólica e descobri que isso é uma doença, espécie de depressão sazonal.
Quem diria! Eu achava que era só frio...
É no inverno que percebo o quanto gosto do verão.
Sei que muita gente adora o frio e é quase consenso, que o inverno é a estação mais legal, aconchegante e elegante que existe!
Sei! Vai ser pobre e morar na rua para ver quanta elegância!
Sei que não moro na rua, mesmo assim o frio dói, paralisa, e confesso que estou pouco ligando para essa tal elegância desconfortável do inverno. Gosto mesmo é de pouca roupa, de andar de sandálias, vestidinhos esvoaçantes, blusinhas frescas. Gosto da liberdade, sem ter meus movimentos limitados por montes de casacos, botas, meias, cachecóis, luvas, etc...
Por conta disso tudo que registrei aí em cima, é que fico ponderando durante outono em me mudar para algum lugar bem quente durante o inverno.
Resido na região sudeste, no estado de São Paulo. Vale do Paraíba. Entre a linda Serra da Mantiqueira e a Serra do Mar, e por aqui, quando o clima resolve esfriar, ele faz isso bem feitinho!
E eu? Sofro para acordar, para levantar, para tomar banho e para viver...
Então fico imaginando, idealizando um lugar diferente, onde todos os dias sejam quentes.
É apenas um exercício lúdico que faço sem grandes esperanças, já que trabalho diariamente e tenho uma filha em idade escolar. Não existe, portanto, a menor possibilidade de “fugir” - de maio até setembro -  para lugar nenhum.
Mas planear me ajuda a sobreviver.
Pode ser um lugar aqui mesmo no Brasil, que é meu lindo e querido país, com todas as estações, cores e climas a minha escolha. Além disso, é meu idioma.
Falando em “idioma”, penso logo que quero morar num lugar com nome bonito.
Tendo o calor como mote, pego um mapa do Brasil e campeio logo no alto. Região norte!
“Boa Vista”! Essa sim é uma cidade quente! Quase uma estufa para falar a verdade. Acho que é demais até para mim, além de ser longe pra dedéu. Mas veja que nome mais bonito: “Boa Vista”!  
O nome é tão bonito como “Belo Horizonte”, mas já decidi que não quero nada aqui no sudeste e isso vale igualmente para “Vitória” que também é um nome formoso.
No sul então, nem cogito. Friorenta como sou!
Aos meus amigos da região sul, meus respeitos sinceros pela coragem.
Insisto ainda ali no norte.
Que sabe Belém! Que nome mais fofo para uma cidade. Foi onde nasceu o menino Jesus... Tá, eu sei que é Belém do Pará, cidade da Fafá e não de Jesus! Foi só uma piada boba...
Entretanto, me contaram que em Belém chove muito. Mas muito mesmo! E não sou lá grande fã de muita chuva e umidade.
Dou uma espiadela no nordeste atrás de calor e cidades com nomes bonitos. Confesso que não gosto do nome “Aracaju” que além de ser feinho (o nome), significa “luz baixa”, ou “onde o sol nasce”. É a capital mais oriental do Brasil e pode ser um ótimo lugar para se comer caranguejo nas férias, mas eu, definitivamente não gosto de caranguejos.
Ando mais um bocadinho e chego em “Fortaleza”. Um nome forte, para uma cidade quente e bonita. O Ceará é lindo, mas se fosse para morar no Ceará, eu ia querer morar em Jericoacoara. Um paraíso de areia.
“Natal” também está bem cotada nessa minha infatigável busca. O nome é bonito, a cidade é bonita, praias maravilhosas, sol, dunas... Verdadeiro éden tropical, mas vou analisar todas as opções para não haver arrependimentos.
Macapá, Maceió, Manaus...
Cidades que começam com a letra “eme”. Todas as minhas tias maternas têm nomes que se iniciam com essa letra. Pode ser um sinal... E se for, é para ir ou para não ir? Não sei...
Vejamos “João Pessoa”. Apesar de conhecida como “Porta do sol”, me faz lembrar que o dito, o tal do João, foi assassinado por um amante humilhado. História triste...
Não estou podendo com tragédias.
Cogito “Recife”... Uma grande cidade! Pessoalmente, acho que o Pernambuco é um dos Estados que melhor fala a nossa língua pátria, sem erros e com um sotaque lindo, mas e essas histórias de tubarões, gente? Vai que eu resolvo surfar na praia da boa viagem e um tubarão resolve ficar com alguma parte minha? Acho que Recife está fora.
Eu bem podia fugir para “Brasília”, que quase não chove e é quente do jeitinho que eu gosto. Mas tem nome de carro velho. Péssima escolha seu José Bonifácio! Além disso, abriga o Congresso Brasileiro e  nem praia tem...
“Palmas” e “Porto Velho” começam com “P” que é como principia o nome dos meus tios (maternos), e também não tem praia, assim como “Rio Branco”.
Bom, ao menos está decidido que quero uma cidade quente, com nome bonito e que tenha praia.
Já posso descartar “Goiânia”, “Cuiabá”, “Campo Grande” e “Teresina.”
“São Luís” tem praia, mas também tem a família Sarney. Nem pensar!
“Salvador” parece legal e todo baiano que conheço tem saudades da Bahia, o que é um bom indicativo, mas cá entre nós, se fosse bom mesmo, eles não saiam de lá...
Sei que estou arrumando desculpas, mas é uma forma de me consolar já que sinceramente, sou refém de um cotidiano sem expectativas.
Resta-me sonhar, me agasalhar feito um urso e tentar sobreviver a mais um inverno sonhando com o regresso da minha amada primavera, nas manhãs ensolaradas de setembro.

            

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Santa hipocrisia


- Alô? Oi meu amor...

- Saudades, gata.

- Eu também, meu lindo. Nós vamos ficar juntos esta sexta-feira, né?

- Impossível, gata. É sexta-feira santa.

- Então, amor... É feriadão e não quero ficar sozinha.

- Mas é Sexta-feira da Paixão. Não vai dar...

- Se é sexta feira da "paixão", você devia ficar comigo. Por acaso vai viajar com a sua mulher?

- De jeito nenhum. Vamos ficar por aqui mesmo, e a sexta-feira santa é chamada de sexta-feira da Paixão porque é o dia que se celebra a paixão e morte de Jesus, Odete.

- Ah tá, tá... Entendi. Só não entendo o que tem uma coisa a ver com a outra.

- Como assim? É sexta-feira santa!

- Você já disse isso, Reinaldo! Mas o que é que a paixão de Cristo tem a ver com a nossa paixão?

- Daí que eu não posso trair minha esposa bem na sexta-feira Santa! É muito pecado!

- Tenha dó, Reinaldo! Você já pecou tudo o que podia e mais um pouco. Que diferença faz? Você trai sua mulher o ano inteiro!

- Eu também como carne o ano inteiro, Odete, mas não como na sexta feira santa!

- Você está me comparando a um pedaço de carne?

- Não foi isso que eu quis dizer, gata! É que em respeito a Jesus, eu não como carne na sexta feira santa e também abro mão da coisa que eu mais gosto. Um sacrifício, entende?

- Você está tentando me dizer que eu sou a coisa que você mais gosta, meu lindo?

- Você sabe que é, gata! Tem gente que faz abstinência a quaresma inteira, mas não sou forte para ficar todo esse tempo sem você. Mas pelo menos um dia no ano... 

- Ôoo meu lindinho... Tudo bem, então. Mas sábado a gente se vê, né?

- Claro! Eu passo na sua casa à tarde.

- Aleluia!