domingo, 8 de janeiro de 2012

Casamento

          

Fomos ao casamento da filha de uns amigos há alguns meses. 
Lembro-me que a igrejinha estava primorosamente arrumada  e os convidados, estavam todos muito elegantes.
          As mulheres, com seus vestidos de festa pareciam flores em começo de primavera, quando as flores querem se exibir para os passarinhos. Assemelhavam-se às princesas de Walt Disney. Cabelos penteados e arranjados com esmero com os adornos mais formosos resgatados de seus guardados.
E os sapatos?
GENTE!!!
Os sapatos eram dignos de exposição de Bienal de Artes! Verdadeiras esculturas nas mais diversas texturas e cores, e mesmo eu, uma aficionada pelos ditos, custo a crer na criatividade dos “designers”. Mais ainda em como algumas mulheres conseguem se manter em pé neles.
            Ok, ok... Sei que o assunto aqui não é “sapatos”, mas eu me empolgo com o tema.
Voltemos ao casamento! Porque mesmo estou escrevendo sobre isso?
Os homens... Bom, os homens estavam vestidos do jeito que os homens sempre se vestem para alguma ocasião formal. Camisa, terno e gravata. Eu acho charmosos os homens de terno, mas nunca sei se estão arrumados para uma festa ou para uma reunião de negócios. Jamais tive sensibilidade de intuir a diferença, se é que existe. Mas estavam alinhados, perfumados, barbeados, e iguais, exceto pela tonalidade das camisas claras e dos ternos que variavam entre o “quase preto” e o “cinza escuro”. Sou mesmo uma negação para roupa masculina e eu que nunca tinha entendido a utilidade de gravata, percebi nesse dia, que elas representam o único “toque pessoal” do traje. A única forma de manifestação da individualidade masculina. Que dó...
Padrinhos e madrinhas alvoroçados na entrada da igreja, preparando-se para a solenidade mais social que religiosa, pois parece que voltou à moda, assim como as grandes firmas de eventos, os casamentos com pompa e muita ostentação. Tudo em grande estilo, com direito a orquestra e até Trompetes Triunfais.
        A quantidade de padrinhos, por pouco não supera o número de convidados. Quando os vi se organizando na entrada da igreja, a fila era maior que a de Lotérica em véspera de sorteio da Mega Sena acumulada. Ia lotar o altar...
Enquanto rolava o burburinho dentro e fora; no coro, os músicos reunidos afinavam seus instrumentos “discretamente” (como se fosse possível).
Finalmente inicia-se o espetáculo, digo, a cerimônia.
Na verdade uma prévia da dita, pois para criar certo suspense, se delonga a entrada dos protagonistas (os noivos), para fazer um extenso desfile com os coadjuvantes (pais, padrinhos, daminhas...).
A orquestra principia uma música e de cara percebi que a viola não afinou como devia. ‘Coma’ de quase um semitom; sabe como é? Não dói, mas incomoda.
Tá bom. Acho que ninguém prestou atenção mesmo.
Como eu disperso!
Resumindo: Foi uma emoção na entrada dos padrinhos, uma comoção na entrada dos pais e do noivo, culminando com a apoteótica entrada da noiva ao lado do pai notoriamente nervoso. 
Ela estava linda dentro de seu longo vestido branco, com parecença de Cinderela que nunca foi "borralheira" em toda sua existência. Delicada, elegante e obviamente emocionada.
            A música dava um tom sentimentalista e alguns casais se enterneciam. Os mais velhos renovavam votos em silêncio e os mais novos e apaixonados imaginavam como seria sua vez.
Muitos, com certeza estavam (em silenciosa oração), agradecendo a situação de descasados.
Por um momento quase não chorei, entretida estava com um sabiá que adentrou à ‘nave’, dando “rasantes” nos penteados, até ouvir um excelente tenor cantando “Nessum Dorma” (Puccini).
Derreti-me, junto com minha maquiagem.
       Até meu cinismo diante dos casamentos se rendeu prostrado ante a interpretação brilhante da música. Chorei aos cântaros. Que raiva me dá quando eu perco o controle assim, mas não consegui segurar as lágrimas que escorriam copiosamente; comovida pela música, mais que pelo evento, confesso.
Até o sabiá sossegou para ouvir. Acomodou-se solenemente no lustre central da nave. Dalí não mais saiu.
Entretanto, esse momento passou rápido, para meu alívio e do que restou de minha maquiagem, pois nem a música foi suficiente para disfarçar as gafes do jovem sacerdote que celebrava a cerimônia. Não é que o pobre padre ficou hipnotizado com o decote bronzeado da noiva? Tenho para mim, que seu celibato se deve a um enorme esforço, considerando sua instabilidade emocional diante da beleza da jovem noivinha.
 Balbuciava frases feitas e clichês religiosos, sem conseguir completar o raciocínio. Não se concentrava de jeito nenhum. Seria cômico se não fosse constrangedor.
O noivo teve a elegância de ignorar o fato. Decerto para não piorar as circunstâncias.
Ah sim!
Lembrei-me enfim o porque de escrever sobre esse assunto. É que recebi um novo convite de casamento e constatei que os três últimos casamentos que compareci se desfizeram em menos de dois anos. Alguns duraram menos que os preparativos para o evento.
Inclusive o aqui descrito.
Tem algo muito errado acontecendo com as pessoas ou com a tal ‘instituição’.
Ou será que eu dou azar?