Passava dos setenta e morava no
interior.
Violeiro competente, e além de ser comerciante era também um
político atuante na cidadezinha.
Conforme se soube, o velho era sistemático, teimoso, e por
que não dizer, um caipira rabugento.
Como se tornou político tendo essa conduta antipática é uma
incógnita. Um enigma, aliás, para quase todos os políticos desse país
E cá entre nós, soube que o tal era meio
transtornado.
Imaginem vocês, que eventualmente cercava
a própria loja com fita de isolamento “zebrada” de amarelo e preto, vedando a
entrada de clientes.
Daí sentava-se na porta e tocava viola o dia inteiro.
Azar se alguém quisesse comprar alguma coisa. Ali não
entrava!
Incontáveis às vezes em que deixou o
cliente experimentar, examinar e escolher uma peça. Na hora do “vou levar”... Não
levava! O velho não vendia. Ou por que só tinha uma peça. Ou por que não foi
com a cara do freguês, ou por qualquer motivo que lhe desse na telha.
Birrento.
Não vendia e pronto! Louco ou não?
Contam que quando visitou a viúva de um
correligionário que inexplicavelmente cometeu suicídio, inquiriu contumaz à
inconsolável:
- Foi formicida?
- Não. Respondeu a viúva. – Foi “Diabo Verde” (Um ácido
desentupidor).
- É “bão” também! Filosofou...
De vez em quando se “arvorava” a passear
de bicicleta pela cidadela. Sempre com o cenho fechado e cara embirrada. O
delegado da cidade, que era velho conhecido, o chamou um dia quando estava
dando suas pedaladas:
- Que foi, seu delegado? Por acaso tô sendo preso? Indagou o
invocado.
- Que nada amigo, só queria dar uma voltinha nessa
bicicleta. Posso? Perguntou o delegado.
- É claro que não! De jeito nenhum! Se “ocê” me rouba a
bicicleta eu vou dar queixa pra quem?
Existe coerência...
Ah sim! Ele tinha um temor de voltar
sozinho para casa quando estava escurecendo, já que morava afastado do centro
urbano.
Se não tinha companhia - o que era habitual devido a sua
ranhetice - ia entrando de bar em bar para ver se topava com algum “vizinho”.
Assim se detinha em todos eles, que não eram poucos e tomava
uma cachaçinha para “não fazer desfeita”. Só ia para casa quando o teor alcoólico
ficava maior que o medo.
Dormia embriagado todas as noites, o que
talvez explique seu constante mau humor:
Pura ressaca.