Férias de inverno de 2015.
Como não gosto de frio, fui a
busca de calor.
E
lá fomos nós de novo para Orlando. Eu e minha filha.
Sei que devíamos procurar
destinos mais culturais, mas no momento era o que queríamos e pronto! Fomos.
Destino do dia:
Magic Kingdom, um dos parques
temáticos da Disney dos mais legais. Não era nossa primeira vez. Confesso:
somos reincidentes.
Como
chegamos cedo ao Parque e
algumas atrações ainda estavam vazias, resolvemos
variar e assistir a um show que por enquanto estava com fácil acesso.
Era com os personagens do filme de animação
“Monstros S.A”, ou “Monsters Inc.”, como
quiserem.
Conforme
me foi explicado, sem muita paciência pela minha
filha (que fala inglês fluente), o tal show era uma atração interativa, inaugurada
em 2007, com os personagens do filme acima citado e apresentado pelo simpático monstrinho de um olho só, Mike Wazowski e
pela secretária assustadora e muito sarcástica, Roz.
Antes
de entrarmos no salão principal, assistimos num saguão a um pequeno filme, onde fomos
instruídos sobre a possibilidade
de enviarmos mensagens de texto com sugestões de piadas para os humoristas, em tempo
real, graças a uma nova tecnologia desenvolvida
pelo pessoal de criação do Parque. Tudo para criar maior
interatividade com o público.
Muita tecnologia, que obviamente para
mim não serviria de nada...
Até leio em inglês, mas só
falo fluentemente a minha língua pátria e uma
espécie “portunholglês”, onde me faço ser compreendida mal e parcamente.
Entretanto
não entendo o que respondem... De que adianta?
Continuando a saga, ao
adentrarmos ao teatro com capacidade para cerca de 400
pessoas ou mais, nos sentamos
aleatoriamente numa cadeira que escolhemos, prontos para
assistirmos a um show ambientado num
clube noturno, onde Mike apresenta novos comediantes (monstros,
é claro), tudo montado com holograma, luzes, espelhos ou coisa parecida. Tecnologia
de última geração e absurdamente
real.
Esses monstros comediantes
(no show) têm o objetivo
de entreter a plateia com piadinhas e improvisações tentando arrancar o máximo
possível de gargalhadas que servirão como
energia para alimentar a cidade de “Monstrópolis”,
ou seja lá que nome tenha em inglês. Como no filme, tinha até um
medidor...
Deve ser
muito engraçado quando se entende o idioma, pois minha filha e o resto da
plateia se divertiam muito.
Minha cara era de paisagem sem
vento...
Minha
filhota tentava me traduzir parte da
coisa, mas nem tudo era possível de ser entendido a tempo. Piadas rápidas e afiadas com
muitas expressões idiomáticas.
Para ilustrar melhor o local, no
fundo do palco existia uma tela gigante
além de várias câmeras instaladas pelo teatro, e que
são utilizadas durante o show para focalizar fortuitamente
(ou não) algumas
pessoas da plateia e fazer piadas com elas ou sobre elas. A maioria entrava na brincadeira,
dançava, respondia perguntas, cujas respostas eram utilizadas pelos ”comediantes”
para valorizar a piada.
Nesse
processo a pessoa aparecia na tal tela, cujo tamanho era absurdo, e que todos enxergavam muito bem. A plateia se divertia muito, o que me fez crer que os humoristas por detrás dos monstros
deviam profissionais da melhor estirpe.
Os monstrinhos se sucediam até aparecer um e começar a falar sobre seu show.
E
adivinhem o que aconteceu?!?
Sim. Isso mesmo...
Enquanto
minha filha tentava me explicar o que dizia
o tal, que ia
fazer uma mágica com alguém da plateia, etc,
olhei para o telão e quem estava lá?
Euzinha!
Em
carne e osso, ou melhor,
em zilhões de pixels...
Meu
Deus! Tudo, menos isso.
Dei um sorriso e um tchauzinho e
desviei os olhos esperando que fosse coisa só de passagem, mas não. Não, não
era! Parece que a piada ia ser comigo.
Era pior que isso... Subitamente
da escuridão aparece um senhor uniformizado, com
um microfone quase enfiado na
minha cara e para completar o “mico do século”, o monstro inicia um diálogo, ou o
que deveria ser um diálogo comigo.
-
Hi! What ‘s your name?
Ok,
ok. Calma. Isso eu entendi.
Respondi
com sotaque italiano, sabe-se lá por que: - My name is Rossana. Risada geral.
Não entendi...
Ele
fez uma reverência engraçada e me disse: - Hello Houxanna!
Remedando meu sotaque, o que gerou mais
risadas.
Eu olhava
para meu rosto naquela tela gigantesca, olhos arregalados, sorrindo não
sei do quê, uma vez que me encontrava em pânico e me afligia
enquanto um holograma de monstro falava comigo
achando que eu estava entendendo alguma coisa. Uma situação surreal para dizer
o mínimo.
Descobri
bem depois, quando minha filha conseguiu me
explicar o que deveria acontecer. O tal monstro queria fazer um número de
mágica com minha ajuda.
Porque eu? Havia quatrocentas
pessoas ali!!!
O fato é que no suposto show, eu
teria que pensar num número de zero a dez,
e ele iria descobrir o tal número através de algumas perguntas. Tratava-se
disso. Simples.
Mas quando ele começou a falar
sem parar e minha filha tentava traduzir simultaneamente, eu, em completo
desespero não pensei, falei! Pronto!
Só queria me livrar daquilo.
Não entendi que era para imaginar
um número e ficar quieta. Só imaginar um número de zero a dez...
Eu falei um numero!
Mas não, não parei aí...
Além de falar um número ao invés de
pensar, eu falei “seventy”, que obviamente não está entre
zero e dez.
Setenta, Rossana??? My God. Que
vexame...
O monstro ficou atônito por
alguns segundos sem saber se eu era uma grande piadista ou uma louca. Logo após
teve um ataque no palco, arrancou apropria orelha ou
coisa do tipo, enquanto a
plateia vinha abaixo de tanto gargalhar.
Imagino que deve ter sido hilário para todos, menos para mim.
Enquanto isso,
minha cara de pateta continuava no telão.
Somebody, help-me!
Mas nem assim ele desistiu. Monstro
maldito! Tentou me explicar tudo novamente. E minha cara continuava no telão.
Em dado momento, sublimei e deixei
de ouvir. Fiquei me olhando no telão. Até que estava bonitinha, não fosse um tique
nervoso que adquiri. Meu lábio superior não parava de tremer...
Voltei a mim com a gritaria do
monstro e da plateia. Foi quando percebi que a essa
altura, até minha filha desistiu de
mim e se juntou à plateia que gargalhava sem trégua. Enquanto minha cara
bisonha continuava no telão, sem entender nada.
Sei que num ápice de coragem ou
de constrangimento profundo, eu reagi. Mirei o tal microfone e confessei
em alto e bom tom para aquelas quatrocentas pessoas
e aquele monstrinho que estava me fazendo de idiota: - I dont undertand you,
because I don’t speak english. Stop, please!
Parece
que foi a melhor piada do dia.
Monstrópolis
bombou!
Alimentei a cidade com energia
para uns trinta anos.
Não tinha jeito. A plateia me
achava mesmo engraçada...
Bem, o monstro falou e
brincou mais um pouco enquanto minha cara continuava no telão, mas não
conseguiu levar sua mágica adiante.
Acabei com o show dele. Bem feito!
Enfim (ufa!), ele me
agradeceu, se despediu e disse que eu
era um “espetáculo”.
Isso
eu entendi. Só não sei em que sentido...
Foram os quinze
minutos mais longos e embaraçosos da todas as minhas encarnações, até
as luzes se acenderam.
Então piorou!
Ao levantarmos para sair, todos
me reconheceram, apontavam, alguns vieram conversar comigo e eu só queria sair dali.
Fugi meio que correndo, com minha
filha rindo atrás.
Ser a piada do dia foi motivo de
quase voltar para o Brasil ou cometer suicídio em terras internacionais.
Deixei que o destino decidisse
por mim, e foi assim que experimentei as
montanhas russas mais ignorantes do mundo!
Se eu morresse, pelo menos
morreria com emoção.
Dois coelhos com uma cajadada.
Só consegui rir e escrever sobre isso
mais de seis meses depois...