domingo, 17 de janeiro de 2016

Famosa na Disneylândia


Férias de inverno de 2015.
Como não gosto de frio, fui a busca de calor.
E lá fomos nós de novo para Orlando. Eu e minha filha.
Sei que devíamos procurar destinos mais culturais, mas no momento era o que queríamos e pronto! Fomos.
Destino do dia: Magic Kingdom, um dos parques temáticos da Disney dos mais legais. Não era nossa primeira vez. Confesso: somos reincidentes.
Como chegamos cedo ao Parque e algumas atrações ainda estavam vazias, resolvemos variar e assistir a um show que por enquanto estava com fácil acesso. Era com os personagens do filme de animação “Monstros S.A”, ou “Monsters Inc.”, como quiserem.
Conforme me foi explicado, sem muita paciência pela minha filha (que fala inglês fluente), o tal show era uma atração interativa, inaugurada em 2007, com os personagens do filme acima citado e apresentado pelo simpático monstrinho de um olho só, Mike Wazowski e pela secretária assustadora e muito sarcástica, Roz.
Antes de entrarmos no salão principal, assistimos num saguão a um pequeno filme, onde fomos instruídos sobre a possibilidade de enviarmos mensagens de texto com sugestões de piadas para os humoristas, em tempo real, graças a uma nova tecnologia desenvolvida pelo pessoal de criação do Parque. Tudo para criar maior interatividade com o público.
Muita tecnologia, que obviamente para mim não serviria de nada...
Até leio em inglês, mas só falo fluentemente a minha língua pátria e uma espécie “portunholglês”, onde me faço ser compreendida mal e parcamente.
Entretanto não entendo o que respondem... De que adianta?
Continuando a saga, ao adentrarmos ao teatro com capacidade para cerca de 400 pessoas ou mais, nos sentamos aleatoriamente numa cadeira que escolhemos, prontos para assistirmos a um show ambientado num clube noturno, onde Mike apresenta novos comediantes (monstros, é claro), tudo montado com holograma, luzes, espelhos ou coisa  parecida. Tecnologia de última geração e absurdamente real.
Esses monstros comediantes (no show) têm o objetivo de entreter a plateia com piadinhas e improvisações tentando arrancar o máximo possível de gargalhadas que servirão como energia para alimentar a cidade de “Monstrópolis”, ou seja lá que nome tenha em inglês. Como no filme, tinha até um medidor...
Deve ser muito engraçado quando se entende o idioma, pois minha filha e o resto da plateia se divertiam muito.
Minha cara era de paisagem sem vento...
Minha filhota tentava me traduzir parte da coisa, mas nem tudo era possível de ser entendido a tempo. Piadas rápidas e afiadas com muitas expressões idiomáticas.
Para ilustrar melhor o local, no fundo do palco existia uma tela gigante além de várias câmeras instaladas pelo teatro, e que são utilizadas durante o show para focalizar fortuitamente (ou não) algumas pessoas da plateia e fazer piadas com elas ou sobre elas. A maioria entrava na brincadeira, dançava, respondia perguntas, cujas respostas eram utilizadas pelos ”comediantes” para valorizar a piada.
Nesse processo a pessoa aparecia na tal tela, cujo tamanho era absurdo, e que todos enxergavam muito bem. A plateia se divertia muito, o que me fez crer que os humoristas por detrás dos monstros deviam profissionais da melhor estirpe.
Os monstrinhos se sucediam até aparecer um e começar a falar sobre seu show.
E adivinhem o que aconteceu?!?
Sim. Isso mesmo...
Enquanto minha filha tentava me explicar o que dizia o tal, que ia fazer uma mágica com alguém da plateia, etc, olhei para o telão e quem estava lá?
Euzinha!
Em carne e osso, ou melhor, em zilhões de pixels...
Meu Deus! Tudo, menos isso.
Dei um sorriso e um tchauzinho e desviei os olhos esperando que fosse coisa só de passagem, mas não. Não, não era! Parece que a piada ia ser comigo.
Era pior que isso... Subitamente da escuridão aparece um senhor uniformizado, com um microfone quase enfiado na minha cara e para completar o “mico do século”, o monstro inicia um diálogo, ou o que deveria ser um diálogo comigo.
- Hi! What ‘s your name?
Ok, ok. Calma. Isso eu entendi.
Respondi com sotaque italiano, sabe-se lá por que: - My name is Rossana. Risada geral. Não entendi...
Ele fez uma reverência engraçada e me disse: - Hello Houxanna!  Remedando meu sotaque, o que gerou mais risadas.
Eu olhava para meu rosto naquela tela gigantesca, olhos arregalados, sorrindo não sei do quê, uma vez que me encontrava em pânico e me afligia enquanto um holograma de monstro falava comigo achando que eu estava entendendo alguma coisa. Uma situação surreal para dizer o mínimo.
Descobri bem depois, quando minha filha conseguiu me explicar o que deveria acontecer. O tal monstro queria fazer um número de mágica com minha ajuda.
Porque eu? Havia quatrocentas pessoas ali!!!
O fato é que no suposto show, eu teria que pensar num número de zero a dez, e ele iria descobrir o tal número através de algumas perguntas. Tratava-se disso. Simples.
Mas quando ele começou a falar sem parar e minha filha tentava traduzir simultaneamente, eu, em completo desespero não pensei, falei! Pronto!
Só queria me livrar daquilo.
Não entendi que era para imaginar um número e ficar quieta. Só imaginar um número de zero a dez...
Eu falei um numero!
Mas não, não parei aí...
Além de falar um número ao invés de pensar, eu falei “seventy”, que obviamente não está entre zero e dez.
Setenta, Rossana??? My God. Que vexame...
O monstro ficou atônito por alguns segundos sem saber se eu era uma grande piadista ou uma louca. Logo após teve um ataque no palco, arrancou apropria orelha ou coisa do tipo, enquanto a plateia vinha abaixo de tanto gargalhar. Imagino que deve ter sido hilário para todos, menos para mim.
Enquanto isso, minha cara de pateta continuava no telão.
Somebody, help-me!
Mas nem assim ele desistiu. Monstro maldito! Tentou me explicar tudo novamente. E minha cara continuava no telão.
Em dado momento, sublimei e deixei de ouvir. Fiquei me olhando no telão. Até que estava bonitinha, não fosse um tique nervoso que adquiri. Meu lábio superior não parava de tremer...
Voltei a mim com a gritaria do monstro e da plateia. Foi quando percebi que a essa altura, até minha filha desistiu de mim e se juntou à plateia que gargalhava sem trégua. Enquanto minha cara bisonha continuava no telão, sem entender nada.
Sei que num ápice de coragem ou de constrangimento profundo, eu reagi. Mirei o tal microfone e confessei em alto e bom tom para aquelas quatrocentas pessoas e aquele monstrinho que estava me fazendo de idiota: - I dont undertand you, because I don’t speak english. Stop, please!
Parece que foi a melhor piada do dia.
Monstrópolis bombou!
Alimentei a cidade com energia para uns trinta anos.
Não tinha jeito. A plateia me achava mesmo engraçada...
Bem, o monstro falou e brincou mais um pouco enquanto minha cara continuava no telão, mas não conseguiu levar sua mágica adiante.
Acabei com o show dele. Bem feito!
Enfim (ufa!), ele me agradeceu, se despediu e disse que eu era um espetáculo.
Isso eu entendi. Só não sei em que sentido...
Foram os quinze minutos mais longos e embaraçosos da todas as minhas encarnações, até as luzes se acenderam.
Então piorou!
Ao levantarmos para sair, todos me reconheceram, apontavam, alguns vieram conversar comigo e eu só queria sair dali.
Fugi meio que correndo, com minha filha rindo atrás.
Ser a piada do dia foi motivo de quase voltar para o Brasil ou cometer suicídio em terras internacionais.
Deixei que o destino decidisse por mim, e foi assim que experimentei as montanhas russas mais ignorantes do mundo!
Se eu morresse, pelo menos morreria com emoção.
Dois coelhos com uma cajadada.
Só consegui rir e escrever sobre isso mais de seis meses depois...