“A gente percebe que está ficando velha
quando sua irmã, quase da mesma idade, começa a fazer paninhos de crochê para
dar de presente”, disse zombeteiramente e algo estupefata a minha irmã um
ano mais nova, ao receber meu presentinho.
Dei-me
conta na hora o quanto ela tinha razão porque era uma situação surreal, como
deve ter parecido a ela.
Digo
isso, primeiro porque parece coisa de "senhorinhas" ( o que somos, mas não nos achamos) dar paninhos de crochê de presente
e depois, porque nunca tive habilidades manuais, a não ser gostar de desenhar o
que culminou até por determinar minha profissão equivocadamente. Se você desenha bem, não significa que você
deva ser arquiteto. Essa é a lição da minha vida que tenho a passar a esses
moços, pobres moços.
Mas
voltando ao mote principal, nunca fui de fazer nenhuma arte manual a não ser algumas
pulseirinhas em macramê que aprendi com um hippie velho, ainda na minha
adolescência.
Ah
sim, esqueci-me de uma coisa. Pinto óleo sobre telas há muito tempo. E gosto
bastante, mas não sei se tenho algum talento e talvez nunca venha saber, mas deixo
claro aqui que sou uma pintora bienal já que minha produção consiste em um
quadro a cada dois anos, se tanto.
Recentemente
me transferi para um setor da prefeitura do município, onde trabalho, que
credencia artesãos e convivendo com esse pessoal eu descobri que adoro fazer artesanato
e trabalhar com as mãos. Desse momento em diante nunca mais consegui ficar
parada. Todos os dias eu produzo alguma coisa.
Comecei
com “scrappbook” que para quem não sabe o que é, “roubo” a explicação do
Wikipédia que está bem sucinta e clara: O “scrapbook” é uma
terminologia em inglês para definir um livro com recortes, é, entretanto uma
técnica de personalizar álbuns de fotografias ou agendas com recortes de fotos,
convites, papel de balas, flores secas e qualquer outro material que possa ser
colado e guardado no interior de um livro.
Começando
com o “scrap”, nome mais íntimo, comecei complementar fazendo também a
encadernação
e após, cartonagem que usa tecido nas colagens das capas de álbuns, em bolsas,
etc. É um trabalho extremamente lúdico, onde se retorna no tempo, é como voltar
a ser criança cortando e colando papeis coloridos, carimbando, entre outras
diversões, tudo isso usando a criatividade e desenvolvendo um estilo. E ainda se guarda
as boas lembranças com fotografias especiais. É tudo de bom!
O
comércio criou uma enorme quantidade de ferramentas e variedade de papéis que
tornaram a brincadeira bem séria e já tem um mercado enorme no ramo das decorações
de festas, lembrancinhas, etc.
Mas
para mim é apenas um “hooby”, uma atividade praticada por prazer nos tempos
livres, só que extremamente dispendioso já que a maioria do material bom vem
dos Estados Unidos onde a técnica é muito difundida.
Então
resolvi variar um pouco com coisas mais baratas. Com falta de panos de prato em
minha casa, comecei pintando alguns. Depois aprendi uma técnica com tecido autocolante
chamada de “patch aplique” (procurem no Google), mas faltava um acabamento
legal nos panos, então, por fim pesquisei no “youtube”, sim no “youtube” e assistindo
alguns vídeos aprendi vários modelos de pontos de crochê para panos de prato o
que deu origem a essa crônica, se é que pode ser assim chamada.
Essa internet é
fantástica!
Num
desses dias inspiradores, sem mais nem menos, fui até uma dessas lojas de eletrodomésticos
e comprei uma máquina de costura sem jamais ter usado uma.
Imaginam isso? Quem
me conhece sabe do que estou falando.
As
habilidades em costura dessa pessoa que vos fala, ou melhor, vos escreve, resumem-se
em pregar botões e fazer mais ou menos uma “bainha” numa calça ou saia. Prefiro
até pagar para alguém fazer de tão ruim.
Escolhi
um modelo simples (de máquina de costura) e lá fui eu toda feliz com minha mais
nova aquisição para casa, sem saber nem como ligava.
Bom,
como nem tudo é impossível nessa vida, eu comprei alguns panos, uma amiga me
deu algumas dicas, li o manual, e saí fazendo dezenas de almofadas tortas. Eu e
minha máquina tivemos algumas brigas feias, pois eu não sabia que meu pé era o único
responsável pela peleja. A velocidade da máquina é determinada pela força com
que o pé pisa no pedal, então foi um duro e pândego aprendizado.
Só
que aconteceu algo estranho, pois não obstante minha pouca habilidade, senti
uma empatia, uma espécie de identificação com o utensílio. Alguns movimentos
que eu fazia com as mãos eram mecânicos, como se meu subconsciente soubesse o
que fazer.
É
claro! Óbvio ululante!
Desde
os dois ou três anos de idade, lembro-me de minhas avós a paterna e a materna, assim
como minha mãe, costurando. Interessante o que fica gravado em nossa memória.
Daí
virou uma questão de treino. O pano já não sai correndo de mim, mas só faço
linha reta ou tento. Por enquanto...
Então
me apresentaram um tear de pregos. Fiz dezenas de cachecóis e enjoei. Aí
aprendi fazê-los em tricô. Duas agulhas, uma meada de lã, alguns pontos e lá
vou eu...
Bordei
um jogo de toalhas em “ponto cruz”, mas vi que não tenho paciência para bordados.
Aprendi a fazer “fuxico”, mas acho chato, Já vi a técnica de fazer flores de E.V.A.,
mas não gostei, contudo ainda quero aprender muitas coisas inspirada por esses
artesãos maravilhosos.
Para
ser bem sincera, não me aprofundei em nada e faço o quase básico das coisas que
tenho vontade, exceto o scrap, a encadernação e a cartonagem que me apaixonei. Mas
meu objetivo é todos os dias fazer alguma coisa útil com minhas mãos, mesmo que
apenas alguns pontos de crochê num paninho.
Assim
sendo, minha irmãzinha caçoadeira, não vou presenteá-la com uma colcha de
crochê jamais, pois sei que não terei paciência para tanto, mas você ainda vai
receber muitas lembrancinhas feitas por mim de várias técnicas que vou
aprendendo por aqui.
Pode
até significar que estamos ficando velha e isso até que é bem bonito.