Era uma tarde modorrenta de sábado. Chovia copiosamente...
Grande coisa! Mas numa casa na praia, longe da cidade, sem
nada para fazer, sem internet ou sinal de telefone, só tínhamos uma televisão
de poucos canais abertos.
Essa pequena introdução
é para justificar o que estava assistindo: Programa do Raul Gil!
Tudo bem, gente! Sei que não é lá muito legal, mas tem quem
goste e assista. Decididamente não
é o meu caso, mas respeito quem gosta.
Só que nesse dia sem opções
era o que tínhamos. Passava o “quadro” de tirar o chapéu. Explico: Uma “celebridade” é convidada para
ler alguns nomes dentro de vários chapéus e decide se “tira” ou não
o chapéu pra algumas pessoas ou situações
conforme seu gosto.
A minha desculpa é
que o convidado era Fabio Porchat, com toda sua sagacidade, o que torna a coisa menos
degradante, considerando que ele é um dos nomes mais conceituados da nova geração
de humoristas.
Durante o quadro, ele não
tirou o chapéu para certa pessoa na qual Raul Gil fez grande estardalhaço
que delongou em vários minutos de enrolação,
suspense barato e alguns minutos de comerciais.
Pois é, por isso que dizem por aí que o ócio é oficina do
diabo.
Devia ter pegado um livro ou meu violão,
saído para tomar uma enxurrada com raios e trovões,
qualquer coisa mais fecunda, mas confesso que fiquei firme por lá, esperando. Para
piorar minha situação vergonhosa, eu confesso que estava ansiosa para saber
quem era o fulano, como se isso fosse mudar alguma vírgula na minha vida.
Sabem para quem o Fabio não
tirou o chapéu? Para o Datena!
Certamente isso agrava ainda mais minha confiabilidade
entre vocês leitores, se é que existe algum, certo?
Em seguida vieram as explicações
de Fábio, justificando que o tal Datena criticou um facínora desqualificado xingando
o de “ateu”, afirmando que a criatura só era bandido porque não
acreditava em Deus.
Fábio explicou que além de ser totalmente contra o preconceito
religioso, acredita que ateus e agnósticos também devam receber o
mesmo respeito e que qualquer coisa diferente disso é preconceito. Não
é porque uma pessoa não
acredita em Deus que é bandido, no que concordo plenamente. “Ateu” não é
xingamento!
É
evidente que uma criatura temente a Deus há de pensar algumas vezes antes de
cometer uma atrocidade, porque quando ela crê firmemente, sabe que isso terá
consequências futuras, além da vida ou nessa mesma, dependendo de sua religião.
Entretanto o contrário não é recíproco, pois o fato de uma
pessoa não crer em Deus, não
faz dela uma pessoa má ou diferente dos outros, muito menos um facínora
assassino.
Tudo isso que descrevi aí em cima serve apenas para eu
poder falar de mim, acreditam? É que eu sou mesmo meu único assunto.
Eu sou cristã,
e tenho tanta fé em Deus e Jesus Cristo, que me recuso a institucionalizar
minha crença e submetê-la a qualquer religião.
Não gosto das religiões
que em sua história vêm sempre acompanhadas de guerra, destruição,
poder e vaidade. Tudo em nome de um Deus, Allah, Adonay, Jeová, ou seja lá que
nome receba...
Recuso-me a ser rotulada. Confesso certa afinidade com o
silogismo científico da doutrina espírita. Sua racionalidade e ausência de
dogmas me conforta. Sinto-me esclarecida e gosto dessa fé raciocinada.
Respeito todas as crenças,
inclusive a ausência delas, menos os grupos fanáticos de terroristas que matam usando
a “fé” para cometer atrocidades.
É que para mim, quando tudo o mais falha, quando me
encontro em pleno esmorecimento e já não
tenho mais a quem recorrer, eu fecho os olhos e oro ou rezo; como quiserem.
Fervorosamente.
O ato da oração
já labora em meu favor me acalmando, e isso já é meio caminho
andado para a solução dos meus perrengues, que de uma forma ou de outra sempre
acabam resolvidos.
Mérito de minha oração?
De minha fé? Do acaso?
Na minha fragilidade emocional, Deus é meu esteio e Jesus é
um exemplo.
Eu me compadeço de quem não
tem fé, não por ser um tiquinho sequer melhor ou pior que eles, mas
por que o fato de eu ter esperança
e convicção de que posso ser ouvida e atendida em meus anseios por
uma força maior e divina, me traz um sentimento reconfortante que quem não tem
fé não sente.
A minha “ingenuidade” me salva da loucura de não crer.
Aliás, a definição
que mais me identifico no dicionário acerca da fé é a seguinte: Estado ou atitude
de quem acredita ou tem esperança em
algo.
Confiança e esperança. É nisso que resume a fé..
Ateus e
agnósticos dizem não ter essa chama dentro de si. Muitos até expõem que
gostariam de crer, pois seria mais fácil viver com fé, mas alegam que fé não
se prescreve como se fosse um remédio
e que, portanto não são culpados de não
crerem.
De fato não é possível enfiar a fé dentro da mente ou
coração de alguém, mas ninguém está impedido de possuí-la, mesmo os mais
refratários, já que este é um sentimento inato nos seres humanos desde os primórdios
da raça, mas que se deve fazer crescer através da vontade ativa.
“A fé é a
consciência das prodigiosas faculdades que traz em germe no íntimo, a princípio
em estado latente.” (*)
E realmente ajuda muito crer em alguma coisa maior.
Não oro só para pedir. Alegro-me e agradeço à Deus quando
abro minha janela para o dia que começa, quando vejo uma flor brotando no meu
jardim ou ouço o canto de um passarinho, quando passeio no mato, quando molho os pés num ribeirão barrento, entro numa cachoeira, ouço o farfalhar das folhas no campo, quando vejo
o mar...
Eu oro para a gradecer a beleza da criação e de estar viva.
Eu oro por amigos e parentes saudáveis e adoentados. Eu oro
por qualquer motivo.
Para pedir, para agradecer, para simplesmente conversar com o universo. Agradeço a Deus até por esse sábado chuvoso e pelo programa do Raul Gil, que me rendeu esse texto.
Para pedir, para agradecer, para simplesmente conversar com o universo. Agradeço a Deus até por esse sábado chuvoso e pelo programa do Raul Gil, que me rendeu esse texto.
Além disso, o melhor de tudo que minha fé traz, é a certeza
de que toda a maldade, improbidade e/ou atrocidade que aqui se comete, não
ficará impune diante da justiça divina, ainda que por aqui, por hora, fique sem
castigo.
(*) Evangelho segundo o Espiritismo - Allan Kardec
(*) Evangelho segundo o Espiritismo - Allan Kardec