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“Eu ando pelo mundo
prestando atenção em cores que nem sei o nome...”
Assim
começa uma canção da Adriana Calcanhoto que gosto muito, mas confesso que isso é uma coisa que definitivamente não sou de fazer: prestar muita atenção...
Tenho um defeito crasso que já me prejudicou muito, principalmente na minha
profissão de arquiteta: a distração e total carência de senso de observação.
Sou lesa no olhar, totalmente auditiva, mas também gosto
das coisas escritas...
Todavia, não estou escrevendo para falar dos meus gostos
e das minhas deficiências, até porque (as deficiências principalmente), não
caberiam numa crônica só, e ainda sou prolixa e me enredo por caminhos que
fogem do assunto.
Acho que já escrevi isso antes.
Tentando retornar ao assunto, não sou de prestar muita
atenção nas coisas, muito menos nas cores que sei ou não o nome, mas outro dia
dei de cara com um carro cor de abóbora na rua. Não, não era “laranja”, nem
“cenoura”, “ocre”, “salmão”, “tijolo”, ou qualquer nuance semelhante. Era cor
de abóbora mesmo. Daquele “abóbora”, usado em gravuras psicodélicas dos anos
70.
Sei que esse é um assunto, digamos bocó, e não vai
acrescentar nada de novo ou de bom ao planeta, mas a crônica é minha e escrevo
sobre o que me vem à cabeça, sem querer ser impertinente.
Fiquei fascinada, pois me chamou a atenção e isso é coisa
difícil de acontecer, ainda mais considerando o estado meio apático que
ando. Então me peguei observando
inevitavelmente as cores dos carros das ruas.
Entre um ou dois vermelhinhos ou “vinho”, a maioria vai
do preto ao branco com muito mais de cinquenta tons de cinza, parafraseando o
título do livro de E. L. James, que apesar de ser um fenômeno de vendas não
comprei e não li. Não tive vontade.
Por que será?
Não sobre a vontade, mas por que será que os carros não
têm mais cores?
A Fiat até trouxe ao mercado, visando os jovens
motoristas, uma safra de carros coloridos, o Uno college. Aliás, mais que
coloridos, quase neon.
Mas não os vejo muito pelas ruas, o que me leva a crer
que, ou não venderam muito ou os compradores se arrependeram e ficaram com vergonha
de andar com eles por aí... Sabe-se lá
Eu andei pesquisando alguns carros para comprar e
encontrei um que gostei e era azul. Um tom de azul lindo!
Queria de todo jeito. Acho que “rolou” uma nostalgia, pois
era cor da Variante da que meu pai tinha quando eu era criança.
Fui inteiramente demovida da ideia por todos que se
arrebataram a debochar e opinar sobre a cor do carro, mesmo sem eu ter pedido.
Chamava muita atenção, era brega, difícil de revender, que isso,
e aquilo...
Eu ainda nem comprei e nem estou pensando em vender!
Terminei por desistir, obviamente, mas ficou em mim uma
sensação de ter sido manipulada e de não ter prosseguido com uma decisão que me
cabia.
Senti-me uma frouxa e sem opinião.
Observando a rua hoje e avistar o carro cor-de-abóbora,
que nem bonito era, percebi que quase todo mundo teme ousar e prefere ficar
na zona de conforto, variando entre o preto e o branco para não chamar a
atenção. Nossa necessidade de fazer
parte...
Parece que nem os ladrões querem roubar carros coloridos,
veja só.
A psicologia também tem sua
explicação. A maioria das pessoas opta por preto, prata ou branco ao comprar um
carro, porque busca status e sofisticação, mas a escolha por essas cores também
revela insegurança, pois impede que os motoristas expressem seus verdadeiros
sentimentos, blá-blá-blá...
Eu sinceramente sinto falta de cores e parece
que estamos vivendo tempos de Henry Ford e seus carros pretos...
Concluo que o que influencia toda essa engrenagem é mesmo
a capacidade de revenda do veículo, pois no que se refere ao valor da tinta, as
mais caras são as metálicas de qualquer cor, portanto os carro podem ser
coloridos sem custar mais por isso.
Algumas indústrias automobilísticas pelo mundo têm ousado
com cores mais espalhafatosas em seus carros, mas não chegam à América do Sul,
que tem 72% de sua frota pintada nesses tons acinzentados que nem podem ser
chamada de cores...
Na Europa, Japão e EUA é fácil encontrar carros azul-neon, verde-limão, amarelo-ouro, azul-piscina e tem até tintas especiais que deixam o carro bicolor de acordo com a luz.
Na Europa, Japão e EUA é fácil encontrar carros azul-neon, verde-limão, amarelo-ouro, azul-piscina e tem até tintas especiais que deixam o carro bicolor de acordo com a luz.
Ok, também não precisamos exagerar...
Está cada vez mais raro deparar com automóveis coloridos
e me sinto vítima dessa ditadura ou “moda” das cores sem cor.
Algumas revendedoras até atendem pedidos especiais, mas além de ser
demorado é muito caro.
Confesso que não me conformo com o encolhimento do
mercado dos carros coloridos que afinal, expressam a personalidade dos donos e alegram
nossas ruas e avenidas.
Entretanto, parece que os carros coloridos são uma
prerrogativa dos caros modelos esportivos, ou dos modelos para a garotada que
não tem medo de ser feliz.
Veio-me uma ideia agora: O governo proporciona um transporte público de qualidade, bonito e colorido e a gente diminui a compra de carros de todas as cores e tons.
Que tal?
3 comentários:
otimo...excelente texto e ótima ideia dos transporte publico colorido..
Acho que também já lhe disse antes, mas adoro seu jeito de escrever! Seu texto flui de um jeito que faz parecer que estamos sentados lado a lado proseando!
E não se sinta "diferente" só porque defende um mundo automotivo com mais cores. Cá entre nós, eu também estou fazendo minha parte através da reforma de um Opala que pintei de... laranja!
Confira um pouco de colorido nestes dois links de meu outro blog:
http://www.projeto676.com.br/20131021/back-on-the-streets/
http://www.projeto676.com.br/20131030/um-mundo-de-cores/
Beijóvskas!
Pois é, moça, a tua prosa é mesmo um raio de sol vai deixando o seu brilho na escolha de cada palavra. É uma prosa fluida como o ar. Gostei.
Um abraço,
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