terça-feira, 15 de novembro de 2011

E eu caí do palco!


 - Madona, Britney Spears, Amy Winehouse, Demi Lovato, Pink, Fergie e Steven Tyler também caíram. Relaxa mãe!
Esta foi a frase de minha filha ao ouvir sobre o meu mais recente “mico”.
Pelo jeito, o tombo é uma coisa aceitável e até frequente no Show Business.
Curiosa e carente de consolo, fui espiar no “Google” e soube que muito mais gente andou caindo por aí. O mais recente a descambar (que eu saiba), foi Axl Rose.
Por terras brasileira, candidatos a quedas também andam a sobejar. Além de Dinho Ouro Preto, Ivete Sangalo, Elba, até Caetano Veloso andou levando seu tombinho.
É... Pois eu também!
Depois de quase vinte anos cantando incólume em todo tipo de palco possível, dessa vez eu despenquei.
Na verdade, caí “nele” e não “dele”, mas a diferença de preposição só atenuou a gravidade do fato, mas não o vexame.
Se um tombinho já é vexatório, imagine cair com todo mundo olhando. Mortificante! Não há nada que amenize a vergonha a não ser o tempo e, inclusive por isso mesmo demorei um mês para conseguir escrever sobre.
Houve por assim dizer uma sucessão de acontecimentos que culminaram em uma ocorrência e decorrências bizarras e tenho cá comigo, que aconteceu uma conspiração astrológica além de nossa reles compreensão.
Não tem outra explicação.
Esclarecerei. Para quem não sabe, eu fui cantora de bailes e vez por outra ainda participo de alguns; e uma das bandas da qual eu participo estava fazendo dois bailes em salões contíguos de um mesmo espaço de eventos.
Num salão acontecia um baile em homenagem ao dia dos médicos, e toda a classe médica (ou quase), estava presente. O outro baile tratava-se de uma formatura de colegial. Públicos totalmente distintos, o que não tem nada a ver com o assunto.
Eu disperso fácil... 
Voltando ao que interessa, fizemos alguns revezamentos, e com a divertida correria de cantores e bailarinos, houve um momento em que fiquei sozinha com os músicos no palco do baile dos médicos, quando repentinamente vislumbrei um alvoroço que não consegui distinguir, entretanto enxerguei uma senhora correndo em minha direção bastante alterada, gesticulando e tentando falar comigo. Gritava alguma coisa que obviamente eu não conseguia nem ouvir nem compreender.
Disfarçando uns passinhos de dança, tentei me aproximar para saber do que se tratava e esse momento em especial requer um aparte para algumas elucidações.
O palco de piso negro emendava com umas caixas de som da mesma cor e da mesma altura, tendo entre eles um vão de cerca de vinte centímetros. Nem preciso dizer mais nada. Uma verdadeira armadilha!
Fui em direção à mulher e claro que pisei no vazio. Caí de cara sobre as caixas de som.
A banda ainda continuou a tocar por alguns minutos até que as luzes se acenderam. Fez-se um silêncio de uma eternidade.
Lá estava eu estatelada de bruços sobre as caixas de som em frente ao palco, numa posição que me recuso a descrever (ou lembrar), tentando entender o que tinha acontecido ao mesmo tempo em que me fazia de morta para ganhar tempo de pensar numa saída digna.
Não havia!
Tentei sentir meu corpo. Não sentia nada. Não sentia as perninhas, não sentia os bracinhos...
Ouvi vozes das pessoas especulando se eu tinha batido a cabeça, ou a boca. Ainda de olhos fechados, passei a língua entre os dentes e pude perceber que todos estavam no lugar. Que alívio!
Resolvi enfim abrir os olhos e enfrentar com coragem a situação.
Só queria desaparecer dali. Nem olhei para os lados quando dois médicos (ou seriam garçons?) me carregaram para o camarim.
Percebi que tinha estirado os nervos das duas pernas, entretanto, cabelos e  maquiagem continuavam surpreendentemente intactos, assim como as unhas e os saltos altos do sapato. Que bom...
Trouxeram gelo, fizeram massagem, apareceu todo tipo de remédio, pomadas e ungüentos. Até dorflex com uísque me ofereceram.
A senhora que tinha me chamado ficou rondando pelo camarim, provavelmente sentindo-se culpada (e era mesmo), mas ainda teve a audácia de me dar uma “dura”: - Tem que olhar por onde anda, moça. Não precisava vir!Eu só queria avisar que tinha um senhor passando mal.
Claro, dona! Eu entendi perfeitamente o que a senhora estava querendo dizer enquanto gesticulava atrás de uma cortina de fumaça e trinta mil watts de luz na minha cara...  
Foi assim que soube que quase ninguém prestou atenção ao meu performático tombo, porque concomitantemente alguém passou mal no meio do salão, motivo do destempero da tal senhora.
Parece que o homem sofreu um infarto enquanto dançava Have you ever seen the rain?”.
Mas o que a senhorinha havia de querer comigo? Eu sou apenas a cantora e havia no local pelo menos uns vinte cardiologistas. Vários deles inclusive, tomando providências junto ao paciente, com o “Resgate” devidamente solicitado.
Se ela queria que a banda parasse de tocar, era só falar com o contratante ou com os técnicos de som que estavam (aliás) bem pertinho dela, sob o palco. Fato é que em situações perturbadoras as pessoas fazem asneiras, o que me rendeu um tombo considerável.
Finalizando a história, a banda voltou para prosseguir com o show que teve que continuar a despeito do trágico ocorrido, e eu encarei a peleja de retornar ao palco mancando mesmo.
Pior de tudo foi saber que o homem não resistiu e veio a falecer. Uma tragédia... Duzentos médicos reunidos e nada puderam fazer para salvar-lhe a vida. Uma grande ironia do destino.
Havíamos inclusive brincado antes de começar o baile, dizendo que ali era o melhor lugar para se ficar doente, tal a quantidade de médicos por metro quadrado. Ledo engano...
Lembrei-me da popular história de “Alexandre, o grande” e seus três desejos à beira da morte. Interessa-me aqui só primeiro que tem tudo a ver com essa história. Ele pediu que seu caixão fosse transportado pelas mãos dos médicos da época, para mostrar que eram impotentes diante da morte.
E ainda houve quem fizesse humor negro, dizendo que banda boa mesmo é aquela que mata as pessoas de tanto dançar!
E a vida continua...

5 comentários:

Anônimo disse...

Mais uma vez, não sei se choro ou se me mato de tanto rir! Paula do Paulo.

Alexandre Vicente disse...

Rossana, excelente história. Como diria um amigo: "Se eu caísse, só sairia de maca. Senão vão rir de mim."
Só para acrescentar a lista, o vocalista do Coldplay tb levou um tomabaço em pleno Rock in Rio. Isso não foi privilégio seu. rs
Alexandre Vicente

Ane Patrícia de Mira disse...

Todo mundo cai um dia, o importante mesmo é sempre levantar.
Amei seu texto.

Abraços,

Ane

Anttonioarq disse...

Trágico e cômico ao mesmo tempo... Poderia ter ficado só no tombo (cômico); por mais que seja a dor de quem levou, é engraçado para quem viu. Eu levei um qdo sai do banho para atender o interfone. Corri e plaft!! Cai com o chão molhado e pelado. Depois, não era comigo. Foi engano de quem interfonou. Agora acho engraçado.

Paradocx disse...

"levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima..." lindo texto !!!!