quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ser mãe


Espera-se de mim mais do que tenho a dar porque afinal, sou uma mãe. Entretanto, isso não transformou minha alma como eu esperava e o fato de ter me tornado mãe não me fez saber muito mais coisas acerca do mundo. Os tais mistérios da vida...
A bem da verdade, além de saber quase nada e cada vez menos, também sirvo para poucas coisas e isso é censurável, pois, sendo “as mães”, criaturas que geram outras criaturas, estão inseridas num patamar sublime em que não me enquadro.
A expectativa que se tem de uma mãe é um grande encargo.
Imaginem vocês (só a título de exemplo), que nós, “mães” não podemos sequer dar-nos ao luxo de tomar um porre. Nem de leve...
Palavrão, nem pensar! Abominável.
A “rainha do lar” não pode!
“Mães” devem ser perfeitas, caso contrário não mereciam ter parido.
Quase todo mundo pensa assim, principalmente os exigentes filhos, incluindo o parceiro, se houver um.
Não me digam que não é verdade porque eu também sou filha (?), e hoje tenho plena consciência do tanto que exigi da minha progenitora.
Sabe aquele cara lá, tomando todas as cervejas, assistindo futebol e xingando a mãe do juiz, enquanto há tanto por fazer em casa? Garanto que existem muitas mães a fim de fazer algo parecido, mas seriam execradas.
Além de bons exemplos, as mães têm “alguns” outros deveres para com os filhotes, tais como organizar a casa, educar, zelar, alimentar...
Alimentar!
Aí a coisa pega, pois se pressupõe algum conhecimento de culinária.
Eu? Sei esquentar água e olhe lá! Ainda corro o risco de me distrair e ela entornar...
Até faço um café da melhor qualidade, mas não é possível alimentar os rebentos só com cafezinho...
Queria saber cozinhar como Sonia Hirsch, por exemplo, cujos artigos e receitas sempre me enlevaram Ela tem um jeitinho encantado de escrever sobre comidinhas e temperos, e um talento especial na arte de cozer de forma saborosa e saudável.
Quem dera!
Minha filha passou a infância comendo “miojo” e “nuggets”.
É uma iniquidade imperdoável, bem sei, e meu castigo certamente será terrível.
Por isso mesmo nasceu essa crônica, quase um pedido público de perdão.
Oxalá eu fosse uma eficiente mãe de comercial de vitaminas. Linda, elegante, bem sucedida no trabalho (óbvio que trabalho fora), habilidosa no fogão, que faz ginástica diariamente, e a noite, depois de servir o jantar, está pronta para ajudar nas tarefas escolares das crianças. E ainda mais tarde, estará linda e perfumada ao deitar-se com o companheiro. Se possível, maquiada, sorridente e sexy.
Mães têm que saber limpar a casa além de Equação de Segundo Grau. Têm que saber interpretar uma Tabela Periódica com a mesma destreza de uma receita. Aliás, como aumentou a tal, gente!
Mãe que é mãe sabe extrair uma boa Raiz Quadrada ao mesmo tempo em que bate um bolo.
Mãe que é mãe há que ter habilidade em responder quando a criança pergunta por que tem que estudar sobre o conjunto de órgãos reprodutores femininos de uma flor, se ela nunca vai querer ser “tipo bióloga” e não quer saber nada dessa “coisa de gineceu”...
Porque você não pergunta isso ao seu pai, ao MEC, ao seu professor? Eu gostaria de dizer. Porque eu não faço a menor idéia, minha filha...
Na verdade eu postergo, procrastino e desconverso.
Mãe terrível, eu assumo.
Juro que eu tentei me adequar ao modelo de ‘mãe normal’, mas não obtive sucesso...
Conhecendo-me, eu bem devia saber que não seria boa nisso!
“E para que é que você acha que serve, então?” me perguntaram por esses tempos em que andava irritada com minha inaptidão em ser uma mãe ajustada.
Eu pensei, pensei, pensei e não soube responder.
Não soube mesmo!
Lembrei dos tempos em que fiz teatro, lembrei-me das centenas de bailes em que cantei, dos poemas que eu escrevo desde menina, dos quadros que eventualmente pinto e me dei conta de que não sirvo para nada que seja útil.
Praticidade não é meu forte.
Eu sirvo para adular o meu próprio umbigo.
Tenho “cabeça de vento”, vivo no “mundo da lua”, sou “de veneta”, cheia de “caraminholas” e com sérias tendências às excentricidades de pouco proveito.
Namorei todas as Artes ou quase todas desde que me conheço. Amei e amo todas incondicionalmente, e sendo um tanto volúvel, sempre quis ficar com todas juntas.
Bem me avisaram que não se pode ter tudo...
Nem liguei e aprendi a respeitar minhas estações. Quando a poesia me foge, eu pinto uma tela ou faço um desenho, quando a preguiça me alcança, eu escrevo, e assim eu sigo, pouco me importando se faço bem. Junto com isso eu sempre canto, de tal modo que permaneço na meninice.
O difícil mesmo, é que agora, sendo uma mãe, já tarda o meu tempo de crescer.
Mas nem isso eu sei fazer...

5 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

Ah, e ter uma mãe assim tão autêntica, que escreve bem, que diz o que sente, que assume sua humanidade sem floreios...não é tudo de bom pra um filho? :-)
Beijos,

Dilberto L. Rosa disse...

Quer dizer que você também "é dessas", mãe moderninha?! Ré, ré! Pelas tuas letras e visão de mundo, com certeza já bates um bolão com os filhos, especialmente porque sabes manter a meninice cantando, escrevendo e pintando o sete sempre que dá! Afinal, sempre é tempo de gerar... Um abração e corra até os Morcegos: tem Mário Lago por lá!

Anônimo disse...

Vamos lá novamente... mas não vai sair igual ao 1º comentário...

Como assim??? você não serve para nada???

Você é uma mãe perfeita... trabalha fora para trazer dindin e alimento para dentro de casa (mesmo que seja para comprar nuggets - afinal, alimento é alimento)... canta na noite e ainda por cima escreve crônicas e poesias... quer mais o que???

Deixe esta estória de fazer bolos para a avó... que também é poetisa... hummm... neste caso, serve até bolo de caixinha da Dona Benta, que ninguém se incomoda... ou melhor, como você trabalha fora e tem dindin, pode ir saboreá-lo no Amor aos Pedaços...

Viu como você é importante??? É só mudar o referencial! Paula do Paulo

Bípede Falante disse...

Me senti tão compreendida :)
beijosss

Dilberto L. Rosa disse...

Ô, "mamãe-nissin-miojo", trate de voltar a aparecer: com novas postagens e com novas vistas - especialmente porque falei de tietagem com Mário Lago (igual a um 'post' seu antigo com seu escritor favorito) e elenquei minha listinha para o Papai Noel! Abração!