Como qualquer mulher que tem mais de quarenta anos deve
fazer, lá fui eu me submeter aos exames preventivos triviais: mamografia e
ultra-sonografia.
Tenho mais de quarenta e mais não digo...
São exames chatíssimos e desagradáveis, mas muito
importantes. Apoio e divulgo toda campanha de prevenção e combate ao câncer de
mama e outras doenças femininas.
E depois, cá entre nós, não é nada com que não possamos
lidar.
O que é uma mamografiazinha perto de depilar pernas, axilas
e até virilha? E tirar pelos da sobrancelha com pinças, parir um filho (será
que é pleonasmo?), entre outras coisinhas abstrusas pelas quais estamos carecas
de passar?
Quase nada, ainda mais quando se trata da nossa
saúde. Ressalto
que o termo “careca” foi empregado por mera força de expressão, pois esse
desgosto costuma ficar para os homens para contrabalançar um pouquinho.
Sei que os “meninos” também padecem com o tal exame da
próstata, mas eu estou a falar de nós mulheres, ora bolas. Afinal é o assunto
que entendo!
Contudo, esses exames, sempre nos deixam um pouco
apreensivas, pois os resultados podem decretar nosso futuro, mesmo quando se
trata apenas de rotina. Então, comparecer num laboratório desses não é
lá uma coisa muito divertida.
Falando nisso, vale ressaltar que a sala de espera desses
laboratórios para exames de imagem é um lugar onde o socialismo é exercido com
extremo rigor.
Tanto faz se o plano de saúde é o básicão ou um
top-vip-mega-blaster, pois somos todas obrigadas a nos vestir iguais, com um
modelito básico especialmente criado para a ocasião. Um pano com dois buracos
para os braços e uma faixa para amarrar. Medonho.
Obviamente, o “estilista” desse indumento não teria
competência para escolher cores menos repugnantes.
Custava criar uma roupinha mais estruturada, adicionar
alguns detalhes delicados e optar por uma cor mais alegre? Parece uma
conspiração laboratorial. Já passei por vários laboratórios e todos eles querem
nos enfear propositalmente. Um conluio com um intuito que ainda não consegui
determinar, mas vou descobrir.
Não é suficiente o nosso padecer?
Sei bem que esses mimos são supérfluos quando o assunto é
sério, ainda assim, nada justifica esse traje ridículo.
Não há auto estima que resista!
Entretanto, não deixa de ser interessante quando nos
tornamos todas iguais ao deixarmos de lados o que nos identifica: nossos
pertences. Tudo fica trancado num armarinho, e seguimos portando apenas uma
chave do lugar onde guardamos quem pensamos que somos.
E somos dezenas por dia, centenas por semana, milhares...
Ali, olhando aquelas mulheres sentadas ao meu lado, em
silêncio, a espera de serem chamadas, quase não sei discernir quem é pobre ou
rica, quem é a grã fina, a doméstica, a estudante, a funcionária pública, a
empresária... Estamos ali despojadas de nossos adornos e posses materiais.
Continuamos únicas e ao mesmo tempo passamos a ser tão
parecidas, sem as coisas que nos distinguem, vestindo um uniforme de gosto
duvidoso e de praticidade evidente, enfrentando nossos piores temores...
Mulheres no mesmo barco.
Entre nós quase não há palavras, mas uma cortesia
implícita, uma cumplicidade silenciosa.
Quem pode saber o que cada uma carrega dentro de si? Na
mente e no corpo? Estarão ali apenas pelo exame de rotina?
Talvez, entre nós exista alguma bem assustada ou o travando uma luta declarada com a doença, acompanhando a regressão ou o avanço de seus próprios receios. Eu não saberia apontar qual.
Talvez, entre nós exista alguma bem assustada ou o travando uma luta declarada com a doença, acompanhando a regressão ou o avanço de seus próprios receios. Eu não saberia apontar qual.
Quem sabe, apenas mulheres serenas, fazendo um simples e
rotineiro exame, como eu, e agradecendo a Deus pelos avanços tecnológicos que
permite sermos diagnosticadas com precisão e antecedência de qualquer indício
de doença.
Entretanto, nem toda a tecnologia da medicina moderna
solucionou um grande transtorno pela qual temos que passar: A tal da mamografia!
Preciso manifestar aqui a minha decepção com a classe
científica que despende tanto dinheiro e esforço em modernizar os maquinários
de exames por imagem, e não se dedica a pesquisar uma máquina que não trate
nossos peitinhos como massa de pão.
Durante uma mamografia, nossos seios são colocados em uma
plataforma especial e comprimidos gradualmente por uma placa até igualar de
espessura, de modo que todo o tecido possa ser visualizado numa tela e isso é
feito na horizontal e depois na vertical. Cada um...
Parece ruim? Pois é pior, já que as atendentes costumam achar
que a espessura ideal para visualização de um peito, é a de uma folha de papel.
Quem nunca fez uma mamografia não tem noção do martírio.
Para os homens terem uma idéia, eu explico numa linguagem
de macho: Imaginem seus testículos sendo comprimidos por uma morsa
até ficarem da finura de uma pizza.
Então?!
É um procedimento quase medieval, mas que ainda é o mais
eficaz no diagnóstico precoce do câncer de mama.
Portanto, apesar dos pesares, o custo benefício compensa.
Assim, conclamo as garotas dos vinte aos setenta anos para
que se mantenham em dia com seus exames.
Já dizia o velho e sábio ditado: Prevenir é melhor que
remediar!
4 comentários:
concordo, apóio, e dou força incondicionalmente... e para os homens, o não menos incoveniente exame de próstata é fundamental tb... vms deixar os preconceitos de lado e cuidar da saúde...
gostei muito da postagem...
abçs
Olha, mesmo sabendo que escreveste com a intenção de que nós achássemos o texto gostoso, devo dizer que ficaria constrangido de ter lido perto de ti. É que, nos momentos mais críticos, foi onde mais ri rs
Bjs deliciosos como esse texto!
O texto é tão esclarecedor e verdadeiro que chegou a doer..rs..parabens...
Escreves copm tanta desenvoltura e leveza sobre qualquer tema: isso é admirável! :-)
Beijos,
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