Noite de 12 de maio
de 2015 perto das nove horas da noite, eu no meu quarto “deitadinha” e
descansando, assistindo um pouco de televisão, quando abruptamente adentra
minha filha totalmente transfigurada.
Assustei-me com seu
estado. Ela tremia muito, chorava e mal conseguia respirar. – Mãe, me ajuda, me abraça!!!
Foi o que fiz, meio
ressabiada por conta da nossa última e recente discussão. Acontece que nesses
momentos, uma mãe primeiro tem que socorrer, esquecer magoas e tentar ajudar.
Mãe é mãe, ué...
- O que aconteceu, minha filha? Respira fundo e me
conta!
Ela desembestou a
falar ao mesmo tempo que chorava, completamente aterrorizada.
- O mundo vai acabar na quinta feira! Vamos todos
morrer, mãe! Um asteroide muito, muito grande vai bater na Terra e destruir o
planeta. Eu não quero morrer, mãe! Tenho tanto que fazer... Eu ainda não fiz
nada. Quero estudar, viajar, criar... Também não quero que os cachorrinhos
morram... Aliás nenhum animal, nem
você, o pai, a vovó...
Eu até comecei a
rir ao ver que não era nada tão grave.
Ok! Ok! Desculpem-me.
Acho que me expressei mal.
Claro que o fim do
mundo não é nada trivial, na verdade é gravíssimo, mas já é uma perspectiva que
não me abala tanto, já que sou uma sobrevivente de vários anúncios
conspiratórios sobre esse fim de tudo que nunca chega.
Entretanto, me
contive ao relembrar das minhas primeiras experiências com essa probabilidade e
foi muito aterrorizante. Tentei contar para ela que isso devia ser uma
brincadeira de algum infeliz.
Ela com toda
certeza do mundo, disse que a notícias vinha da NASA.
Respondi que se a
NASA tivesse anunciado alguma desgraça oficialmente, estaria em todos os
noticiários, e que possivelmente era algum hacker, algum grupo que adora fazer
uma conspiração ou apenas brincadeira de algum infeliz. Valia qualquer coisa
para acalma-la.
Garanti (como se
tivesse certeza plena), que não iria acontecer.
Claro que depois
fui verificar no velho “Google” e realmente tem várias datas para o fim de
mundo e muitas notícias a respeito da NASA, mas nada muito confiável.
Entretanto, seguro morreu de velho...
- Não quero morrer, mãe...
- Corremos esse risco só de estarmos vivos, filha! (Eu
e minha filosofia barata).
Não contente, tentando consola-la, continuei: - Podemos morrer a qualquer momento, eu mesma
posso morrer do coração hoje à noite, você mesmo, pode morrer atropelada amanhã,
seu pai...
- Mãe!!! Pelo amor de Deus!!! Ela interrompeu.
Realmente, acho que
não ajudei muito. Como sou desajeitada!
A única coisa que conseguir
dizer a mais para tentar consertar minha inabilidade, é que por isso ter fé é
tão importante, pois quando a gente crê em alguma coisa maior que nós, nosso
medo diminui.
Disse ainda que se
tudo acabasse e nada mais houvesse além da vida, nada havia que temer já que
tudo estaria acabado e caso houvesse algo além da vida ou da morte (como
queiram), estaria tudo bem, pois não seria o fim. Mais filosofia de botequim...
- Não gosto de religião, mãe... Mas ter fé é legal,
apenas não me sinto confortável em me forçar a crer, só para poder aliviar meus
medos e sofrimentos.
Cheia de grandes
princípios, essa menina! Encho-me de orgulho pela forma que ela raciocina e sua
noçao de certo ou errado.
Eu, sou daquelas
que já saio rezando loucamente toda vez que me sinto assustada ou desamparada.
Mas, louvo e agradeço também toda e qualquer benção ou graça recebidas.
Continuando nossa
conversa, ela teceu algumas considerações sobre o quanto se sente frágil diante
desse tipo de notícia e questionou porque as pessoas se dão ao trabalho de
inventar notícias assim.... - Será que é
por pura maldade, mãe?
Enquanto
conversávamos, ela ia se acalmando. Começamos até fazer brincadeiras sobre o
assunto:
Não ia dar tempo de
ir no aniversário da amiga, o que era um coisa ruim... Em compensação, eu não teria que pagar o
salário da empregada no fim do mês, já que o mesmo não chegaria, o que era
bom... E mais algumas pilherias...
No real, não
sabemos de nada, mas o mais importante de tudo isso, foi que senti o amor dela
pela vida. Sua vontade de realizar, criar, crescer, evoluir de várias formas.
Hoje, dia 14, sendo
a data marcada para o grande evento, estou aqui escrevendo, mas com uma
pulguinha atrás da orelha. Ainda nada aconteceu e parece que estamos mais uma
vez sobrevivendo ao “fim do mundo”. Só não sei o quanto vale apena esse mundo
continuar assim.
Se fosse de minha
vontade, eu não acabaria de vez com o próprio, mas faria grandes mudanças, a
começar pela população que o habita.
Cometeu alguma
hediondez, tomava um raio vindo do céu bem na “lata” imediatamente, e o perverso
passava dessa para melhor. Ou pior.
Muito mais fácil,
considerando que o sistema penitenciário não funciona no nosso país, que no mundo
inteiro terroristas têm cometido chacinas abstrusas, fabricantes de armas enriquecendo
as custas de guerras financiadas por eles mesmos, mercenários, ladrões que
matam sem necessidade, assassinos em geral, pedófilos, estupradores, entre
outras criaturas abjetas como muitos políticos, por exemplo. Todos seriam
varridos da face da Terra e só restariam as pessoas de bem, os animais e a mãe
natureza ficaria calma para sempre. Eu acabaria com os terremotos, tsunamis,
maremotos, vulcões, enchentes, secas, etc....
Não seria o fim do
mundo, mas o começo de um mundo melhor.
Pensando bem, começo
a crer que sou muito mais inocente que minha filha...