sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Esse moço tá diferente

Foto do Google

Andei me estranhando com o Chico Buarque.
Soou estranho? É porque vocês não sabem (nem ele), que temos, ou melhor, tínhamos um caso.
Não, não sou doida varrida!
Talvez só um pouquinho, mas eu tenho consciência da unilateralidade e platonicidade (neologismo de minha própria autoria) do nosso relacionamento.
Contudo, isso nunca foi empecilho para mim. Não preciso ser amada para amar. Aprendi com São Francisco de Assis.
Mas cá estou a declarar publicamente que não quero mais nada com o Francisco; o “Buarque”, não o “de Assis”. Eu me desapaixonei quando vi pela internet uma foto dele com sua “nova namorada nova”, que não cito o nome por evidente ressentimento contra a dita.!
Acham que eu vou fazer propaganda de rival?
Sim, eu sei... Ciúmes é mesmo um sentimento feio e egoísta.
Além de tudo, a moça é bonita e canta bem.
Humph! (Onomatopéia para despeito.)
É óbvio que o Chico não adotou o celibato depois da separação com a dona Marieta, mas ao menos, era discreto e tinha a decência de não nos magoar.
Refiro-me a nós, as “chicólatras” (essa eu não sei quem inventou).
Mas agora que a coisa desandou e ficou pública, somos uma legião de ultrajadas, já que eu, a torcida feminina do Corinthians, Flamengo, Fluminense e Politeama juntas, idealizamos um mito.
Sagramos Chico Buarque uma Instituição, um “Patrimônio Nacional” e, portanto, ninguém tem o direito de se apoderar dele assim. Muito menos essa “zinha” que acabou de chegar e já anda querendo sentar na janelinha...
E mais! Confesso certo desapontamento ao vê-lo agindo como um homem normal, suscetível de engrossar a fileira do estereótipo de coroas, que ao se aproximarem dos setenta anos, arrumam namorada quarenta anos mais jovem.
Pelo jeito, o velho ditado continua atual: “Pra cavalo velho, o remédio é capim novo”.
Se eu fosse rancorosa, diria até que é patético...  
Bom, não adianta chorar sobre o “leite derramado”, que aliás, é um ótimo livro. Resta-me sair de cena, humildemente.
Mudando de assunto e sublimando minha inveja, divido com vocês um fato que me aconteceu.
Todo homem inteligente sabe que com Chico Buarque não se disputa, e o meu marido é um desses. Tem a perspicácia e a consciência de que o compositor é um desses incômodos incompressíveis que homens relevam e encaram como "coisa de mulherzinha", tal qual uma obsessão por sapatos ou perfumes.
Assim, tendo sido convidado por Wilson das Neves (grande sambista e baterista do compositor), meu marido decidiu me levar a um show do Chico Buarque há alguns anos atrás em São Paulo. Entretanto, sabendo da minha "idolatria", fez algumas recomendações e por que não dizer, chantagem : Eu deveria me comportar e conter qualquer ímpeto de tietagem esplícita.
Obviamente que prometi.
Prometeria qualquer coisa para assistir o show do Chico!
De qualquer forma, sou mais ou menos discreta e, nesse caso, é mais provável que eu fique paralisada.
Para resumir, antes do show, fomos ao camarim dos músicos e estávamos conversando, quando ele, o próprio Chico Buarque adentrou ao recinto.
Confesso que foi uma visão no mínimo inesperada.
Surge na porta no camarim, aquele homem de olhos verdes, com um sorriso capaz de iluminar os mais de 2.500 metros do Rebouças, super bronzeado e vestindo um roupão branco.  Para fechar com “chave de ouro”, estava comendo uma maçã!
Mulheres! Vocês têm noção?
Entrou simpaticamente dizendo que ali estava muito mais animado que o camarim dele, e veio imediatamente em nossa direção para nos cumprimentar.
Gelei!
Entretanto, controlada, fiz o que prometi e não abri a boca. Aliás, não consegui sequer me levantar para cumprimentá-lo. Apertei a mão dele sentadinha mesmo, com um sorriso amarelo.
Ai que raiva de mim...
Mas mantive a classe de uma princesa para o alívio de meu marido, dos músicos e acredito que do próprio Chico, que deve estar acostumado com fãs ensandecidas.
Só me arrependo de não ter tido a coragem de tirar uma foto para compartilhar o momento.
Restou apenas uma bela lembrança.
Mas dessa vez, foi a gota d’água, Chico! Não adianta pedir mil perdões.
Vai passar, e apesar de você e de todo sentimento, não sonho mais...

10 comentários:

Anônimo disse...

Rossana: fico feliz de ter a honra de ler um texto tão bem escrito e divertido. Parabéns (com os olhos cheios de lágrimas de tanto rir). Paula do Primo Paulo.

Paradocx disse...

Apesar de você... Sabe que eu acho que adoraria ser mulher por um dia, só pra ter um caso com o Chico !

Anttonioarq disse...

Ri muito Rossana... O que fazer diante de um ídolo? Vc me fez lembrar de uma outra "doente", como vc que, estava em Brasilia e sabia que Chico faria um show lá... Bem, não sei lembrar os motivos, mas ela perdeu o show e voltava pra sua casa triste. Seguiu até o aeroporto pensativa de ter perdido a oportunidade de ver o ídolo Chico ao vivo. Enquanto estava na fila do "chek-in" numa virada para trás ela percebeu que o cara estava atrás dela. Ele mesmo: Chico Buarque(rs). Acredito que ela tenha ficado, como vc, pálida e sem reação nenhuma.
Eu tenho minha teoria porque tantas mulheres se apaixonam por ele. De fato, ele é um homem misterioso, de pouca fala, pouca conversa, mas trás nas músicas palavras tão fortes ao universo feminino. Chico conseguiu se conservar incólume da vida pública.
Bem, minha admiração por ele não é pelo homem, mas pela arte... Tenho diferenças políticas com ele, inclusive; mas na igualdade quanto às escolhas por mulheres. Eu tbm teria uma namorada como a dele, se Chico Buarque fosse. Parabéns Rossana!!!

cointer disse...

Que carinho. O seu texto é muito gostoso. Pude ver as cenas e rir com suas estrepolias. Aliás, coisas que herdou de seu pai (quanta saudade!).
Adorei e vou seguir porque "tudo é assunto", a vida "vai passar" e "chega de saudade"...

O Neto do Herculano disse...

Trocando em míúdos,
esse malandro tá diferente.

Anônimo disse...

Menina, como você escreve bem!!! Adorei o texto, muito bom mesmo!!
bj
Arlene

Anônimo disse...

já adicionei nos meus favoritos...
bj e sucesso
Arlene

Unknown disse...

AH AH AH!

Ross! Ri demais, "doida"! E eu que não sabia ser chicólatra, amando esse homem ad eternum.

Daqui há pouco ele cansa. Quem me fez decorar o hino do Politeama, politeama, não vai nos deixar sentadas na praça ou olhando a janela.

Sempre encontro com ele, mas nem penso em falar...senão acaba o mistério de tanto sentimento!

RI DEMAIS!

Beijos, linda amiga!

Mirze

Dilberto L. Rosa disse...

Rá, rá, rá: adorei o final em tom de homenagens pontuais a clássicos do nosso Gênio-Maior! E também adoro "Leite Derramado"! Um abraço, tiete que ama de todas as maneiras que há de amar...

Francys Oliva disse...

Vi toda a cena, você parada estática sem se mexer(rs) deve ter sido um susto e tanto vê-lo bem a vontade.
rs.