quinta-feira, 14 de maio de 2015

O fim do mundo



Noite de 12 de maio de 2015 perto das nove horas da noite, eu no meu quarto “deitadinha” e descansando, assistindo um pouco de televisão, quando abruptamente adentra minha filha totalmente transfigurada.
Assustei-me com seu estado. Ela tremia muito, chorava e mal conseguia respirar. – Mãe, me ajuda, me abraça!!!
Foi o que fiz, meio ressabiada por conta da nossa última e recente discussão. Acontece que nesses momentos, uma mãe primeiro tem que socorrer, esquecer magoas e tentar ajudar. Mãe é mãe, ué...
- O que aconteceu, minha filha? Respira fundo e me conta!
Ela desembestou a falar ao mesmo tempo que chorava, completamente aterrorizada.
- O mundo vai acabar na quinta feira! Vamos todos morrer, mãe! Um asteroide muito, muito grande vai bater na Terra e destruir o planeta. Eu não quero morrer, mãe! Tenho tanto que fazer... Eu ainda não fiz nada. Quero estudar, viajar, criar... Também não quero que os cachorrinhos morram... Aliás   nenhum animal, nem você, o pai, a vovó...
Eu até comecei a rir ao ver que não era nada tão grave.
Ok! Ok! Desculpem-me. Acho que me expressei mal.
Claro que o fim do mundo não é nada trivial, na verdade é gravíssimo, mas já é uma perspectiva que não me abala tanto, já que sou uma sobrevivente de vários anúncios conspiratórios sobre esse fim de tudo que nunca chega.
Entretanto, me contive ao relembrar das minhas primeiras experiências com essa probabilidade e foi muito aterrorizante. Tentei contar para ela que isso devia ser uma brincadeira de algum infeliz.
Ela com toda certeza do mundo, disse que a notícias vinha da NASA.
Respondi que se a NASA tivesse anunciado alguma desgraça oficialmente, estaria em todos os noticiários, e que possivelmente era algum hacker, algum grupo que adora fazer uma conspiração ou apenas brincadeira de algum infeliz. Valia qualquer coisa para acalma-la.
Garanti (como se tivesse certeza plena), que não iria acontecer.
Claro que depois fui verificar no velho “Google” e realmente tem várias datas para o fim de mundo e muitas notícias a respeito da NASA, mas nada muito confiável. Entretanto, seguro morreu de velho...
- Não quero morrer, mãe...
- Corremos esse risco só de estarmos vivos, filha! (Eu e minha filosofia barata).
 Não contente, tentando consola-la, continuei: - Podemos morrer a qualquer momento, eu mesma posso morrer do coração hoje à noite, você mesmo, pode morrer atropelada amanhã, seu pai...
- Mãe!!! Pelo amor de Deus!!! Ela interrompeu.
Realmente, acho que não ajudei muito. Como sou desajeitada!
A única coisa que conseguir dizer a mais para tentar consertar minha inabilidade, é que por isso ter fé é tão importante, pois quando a gente crê em alguma coisa maior que nós, nosso medo diminui.
Disse ainda que se tudo acabasse e nada mais houvesse além da vida, nada havia que temer já que tudo estaria acabado e caso houvesse algo além da vida ou da morte (como queiram), estaria tudo bem, pois não seria o fim. Mais filosofia de botequim...
- Não gosto de religião, mãe... Mas ter fé é legal, apenas não me sinto confortável em me forçar a crer, só para poder aliviar meus medos e sofrimentos.
Cheia de grandes princípios, essa menina! Encho-me de orgulho pela forma que ela raciocina e sua noçao de certo ou errado.
Eu, sou daquelas que já saio rezando loucamente toda vez que me sinto assustada ou desamparada. Mas, louvo e agradeço também toda e qualquer benção ou graça recebidas.
Continuando nossa conversa, ela teceu algumas considerações sobre o quanto se sente frágil diante desse tipo de notícia e questionou porque as pessoas se dão ao trabalho de inventar notícias assim....  - Será que é por pura maldade, mãe?
Enquanto conversávamos, ela ia se acalmando. Começamos até fazer brincadeiras sobre o assunto:
Não ia dar tempo de ir no aniversário da amiga, o que era um coisa ruim...  Em compensação, eu não teria que pagar o salário da empregada no fim do mês, já que o mesmo não chegaria, o que era bom... E mais algumas pilherias...
No real, não sabemos de nada, mas o mais importante de tudo isso, foi que senti o amor dela pela vida. Sua vontade de realizar, criar, crescer, evoluir de várias formas.
Hoje, dia 14, sendo a data marcada para o grande evento, estou aqui escrevendo, mas com uma pulguinha atrás da orelha. Ainda nada aconteceu e parece que estamos mais uma vez sobrevivendo ao “fim do mundo”. Só não sei o quanto vale apena esse mundo continuar assim.
Se fosse de minha vontade, eu não acabaria de vez com o próprio, mas faria grandes mudanças, a começar pela população que o habita.
Cometeu alguma hediondez, tomava um raio vindo do céu bem na “lata” imediatamente, e o perverso passava dessa para melhor. Ou pior.
Muito mais fácil, considerando que o sistema penitenciário não funciona no nosso país, que no mundo inteiro terroristas têm cometido chacinas abstrusas, fabricantes de armas enriquecendo as custas de guerras financiadas por eles mesmos, mercenários, ladrões que matam sem necessidade, assassinos em geral, pedófilos, estupradores, entre outras criaturas abjetas como muitos políticos, por exemplo. Todos seriam varridos da face da Terra e só restariam as pessoas de bem, os animais e a mãe natureza ficaria calma para sempre. Eu acabaria com os terremotos, tsunamis, maremotos, vulcões, enchentes, secas, etc....
Não seria o fim do mundo, mas o começo de um mundo melhor.
Pensando bem, começo a crer que sou muito mais inocente que minha filha...


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Da fé...



Era uma tarde modorrenta de sábado. Chovia copiosamente...
Grande coisa! Mas numa casa na praia, longe da cidade, sem nada para fazer, sem internet ou sinal de telefone, só tínhamos uma televisão de poucos canais abertos. 
Essa pequena introdução é para justificar o que estava assistindo: Programa do Raul Gil!
Tudo bem, gente! Sei que não é lá muito legal, mas tem quem goste e assista. Decididamente não é o meu caso, mas respeito quem gosta.
Só que nesse dia sem opções era o que tínhamos. Passava o “quadro” de tirar o chapéu.  Explico: Uma “celebridade” é convidada para ler alguns nomes dentro de vários chapéus e decide se “tira” ou não o chapéu pra algumas pessoas ou situações conforme seu gosto.
 A minha desculpa é que o convidado era Fabio Porchat, com toda sua sagacidade, o que torna a coisa menos degradante, considerando que ele é um dos nomes mais conceituados da nova geração de humoristas.  
Durante o quadro, ele não tirou o chapéu para certa pessoa na qual Raul Gil fez grande estardalhaço que delongou em vários minutos de enrolação, suspense barato e alguns minutos de comerciais.
Pois é, por isso que dizem por aí que o ócio é oficina do diabo.
Devia ter pegado um livro ou meu violão, saído para tomar uma enxurrada com raios e trovões, qualquer coisa mais fecunda, mas confesso que fiquei firme por lá, esperando. Para piorar minha situação vergonhosa, eu confesso que estava ansiosa para saber quem era o fulano, como se isso fosse mudar alguma vírgula na minha vida.
Sabem para quem o Fabio não tirou o chapéu? Para o Datena! 
Certamente isso agrava ainda mais minha confiabilidade entre vocês leitores, se é que existe algum, certo?
Em seguida vieram as explicações de Fábio, justificando que o tal Datena criticou um facínora desqualificado xingando o de “ateu”, afirmando que a criatura só era bandido porque não acreditava em Deus.
Fábio explicou que além de ser totalmente contra o preconceito religioso, acredita que ateus e agnósticos também devam receber o mesmo respeito e que qualquer coisa diferente disso é preconceito. Não é porque uma pessoa não acredita em Deus que é bandido, no que concordo plenamente. “Ateu” não é xingamento!
É evidente que uma criatura temente a Deus há de pensar algumas vezes antes de cometer uma atrocidade, porque quando ela crê firmemente, sabe que isso terá consequências futuras, além da vida ou nessa mesma, dependendo de sua religião.
Entretanto o contrário não é recíproco, pois o fato de uma pessoa não crer em Deus, não faz dela uma pessoa má ou diferente dos outros, muito menos um facínora assassino.
Tudo isso que descrevi aí em cima serve apenas para eu poder falar de mim, acreditam? É que eu sou mesmo meu único assunto.
Eu sou cristã, e tenho tanta fé em Deus e Jesus Cristo, que me recuso a institucionalizar minha crença e submetê-la a qualquer religião. Não gosto das religiões que em sua história vêm sempre acompanhadas de guerra, destruição, poder e vaidade. Tudo em nome de um Deus, Allah, Adonay, Jeová, ou seja lá que nome receba...
Recuso-me a ser rotulada. Confesso certa afinidade com o silogismo científico da doutrina espírita. Sua racionalidade e ausência de dogmas me conforta. Sinto-me esclarecida e gosto dessa fé raciocinada.
Respeito todas as crenças, inclusive a ausência delas, menos os grupos fanáticos de terroristas que matam usando a “fé” para cometer atrocidades.
É que para mim, quando tudo o mais falha, quando me encontro em pleno esmorecimento e já não tenho mais a quem recorrer, eu fecho os olhos e oro ou rezo; como quiserem.
Fervorosamente.
O ato da oração já labora em meu favor me acalmando, e isso já é meio caminho andado para a solução dos meus perrengues, que de uma forma ou de outra sempre acabam resolvidos.
Mérito de minha oração? De minha fé? Do acaso?
Na minha fragilidade emocional, Deus é meu esteio e Jesus é um exemplo.
Eu me compadeço de quem não tem fé, não por ser um tiquinho sequer melhor ou pior que eles, mas por que o fato de eu ter esperança e convicção de que posso ser ouvida e atendida em meus anseios por uma força maior e divina, me traz um sentimento reconfortante que quem não tem fé não sente.
A minha “ingenuidade” me salva da loucura de não crer.
Aliás, a definição que mais me identifico no dicionário acerca da fé é a seguinte: Estado ou atitude de quem acredita ou tem esperança em algo. 
Confiança e esperança. É nisso que resume a fé..
Ateus e agnósticos dizem não ter essa chama dentro de si. Muitos até expõem que gostariam de crer, pois seria mais fácil viver com fé, mas alegam que fé não se prescreve como se fosse um remédio e que, portanto não são culpados de não crerem.
De fato não é possível enfiar a fé dentro da mente ou coração de alguém, mas ninguém está impedido de possuí-la, mesmo os mais refratários, já que este é um sentimento inato nos seres humanos desde os primórdios da raça, mas que se deve fazer crescer através da vontade ativa.
“A fé é a consciência das prodigiosas faculdades que traz em germe no íntimo, a princípio em estado latente.” (*)
E realmente ajuda muito crer em alguma coisa maior.
Não oro só para pedir. Alegro-me e agradeço à Deus quando abro minha janela para o dia que começa, quando vejo uma flor brotando no meu jardim ou ouço o canto de um passarinho, quando passeio no mato, quando molho os pés num ribeirão barrento, entro numa cachoeira, ouço o farfalhar das folhas no campo, quando vejo o mar...
Eu oro para a gradecer a beleza da criação e de estar viva.
Eu oro por amigos e parentes saudáveis e adoentados. Eu oro por qualquer motivo. 
Para pedir, para agradecer, para simplesmente conversar com o universo. Agradeço a Deus até por esse sábado chuvoso e pelo programa do Raul Gil, que me rendeu esse texto.
Além disso, o melhor de tudo que minha fé traz, é a certeza de que toda a maldade, improbidade e/ou atrocidade que aqui se comete, não ficará impune diante da justiça divina, ainda que por aqui, por hora, fique sem castigo.

(*) Evangelho segundo o Espiritismo - Allan Kardec