terça-feira, 9 de setembro de 2014

Mãe de adolescente...




- Estamos muito atrasadas, filha?
Silêncio sepulcral.
Ainda insisto: - Maria! Estamos atrasadas? Preciso ir mais depressa? Eu a chamo pelo primeiro nome quando começo a ficar irritada.
Nada... Não adianta...
Estou falando sozinha de novo! É o que mais faço nos últimos meses, anos, eu diria.
Estou levando minha filha para um ensaio musical que, pelo que sei, é de extremo interesse dela, só dela, e não sei ao certo o horário que ela tem que estar lá e parece que ela não está nem um pouco preocupada com isso.
Por vezes penso que estou ficando louca e olho para o lado para verificar se não esqueci a menina em casa. Vai que...
Melhor verificar se tem mais alguém no carro e que não estou falando realmente sozinha. Não estou, ou melhor, estou. Ela está ali, mas é a mesma coisa que não estivesse. Ou seja, continuo só. Muito só...
Duvido que exista no mundo um ser humano mais solitário que a mãe de um adolescente.
Devíamos nos unir e fundar a União Nacional das Mães Desprezadas, tipo um grupo de ajuda, entende? Para facilitar a fase longa e difícil que provavelmente vamos atravessar...
Voltando ao assunto “tentar ser ouvida”, é de desesperar qualquer mãe, tia, avó... Eles (os filhos) mantêm o tempo todo um fone de ouvido ligado numa altura que até você ouve. Tenho para mim que não é só por gostar de música. É a forma mais eficaz que adotaram para evitar nos ouvir, ou fingir que não estão ouvindo.
Quanto a minha adolescente, tenho certeza absoluta de que ela vez ou outra finge que não está ouvindo o que estou falando. Não responde por pura pirraça.
Eu pelo menos, me sinto desamparada, e claro, tremendamente frustrada com isso. Nem brigar eu consigo!
Que adianta “dar uma dura”, discutir a relação, fazer um elaborado discurso sobre os malefícios de um fone de ouvido tão alto, dos benefícios de manter o quarto organizado e de comer melhor, entre outras coisas tão pertinentes para nós, mães, se a criatura nunca está lhe ouvindo e que, portanto nem lhe responde?
Como argumentar qualquer coisa com uma planta? É no que eles se transformam quando estamos a sós com eles.
Nós, mães de adolescentes somos seres indesejáveis na maior parte do tempo.
Somos apenas toleradas quando estamos a serviço da cria, sendo motorista, caixa de banco, cozinheiras, fazedoras de pipoca, esquadrinhadora  de coisas desaparecidas pelo quarto deles (sempre desordenado), médica para os momentos de dor ou mal estar, colo para as crises e sofrimentos emocionais e ainda “Assessora para Casos Extraordinários”, que existe para  providenciar coisas tais como uma fita colante de cor azul às 22h00 de domingo.
E por aí vai...
Ruim mesmo é a sensação de inadequação. Olham-nos como se fôssemos seres bizarros, com poder de vexá-los só pela nossa simples existência. Uma mãe fazer uma piadinha ou brincadeira na frente de qualquer amigo, colega, estranho que seja, é quase motivo para fuga de casa ou suicídio.
Tenho cá para mim, que nossos filhos, nessa idade entre doze e dezoito anos gostariam nos arquivar numa prateleira, de preferência no botão de “desligado” se tivéssemos um, e de lá só sairíamos para solucionar o que eles não conseguem resolver sozinhos, e de preferência de boca calada e voltarmos imediatamente ao problema resolvido.
Claro que isso não acontece o tempo todo.
Vez por outra eles vêm com aquela carinha de quem ainda não sabe se quer crescer, atrás de um afago desinteressado.
É nessa hora que a gente mata a saudade um pouquinho das nossas criancinhas que foram abduzidas por aqueles corpos que crescem sem parar e nos olham com tanto repreensão.
Eu tento relembrar se eu fui assim com minha mãe, o que duvido, pois ela não sabia dirigir, eu não tinha fones de ouvidos e, caso eu me atrevesse contrariar alguma ordem, não... eu não ousaria...
Seus puxões de orelhas eram literais e dolorosos.
Vai ver, eu devia ter aprendido mais com ela.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Ficando velhinhas?

               

              A gente percebe que está ficando velha quando sua irmã, quase da mesma idade, começa a fazer paninhos de crochê para dar de presente”, disse zombeteiramente e algo estupefata a minha irmã um ano mais nova, ao receber meu presentinho.
            Dei-me conta na hora o quanto ela tinha razão porque era uma situação surreal, como deve ter parecido a ela.
            Digo isso, primeiro porque parece coisa de "senhorinhas" ( o que somos, mas não nos achamos) dar paninhos de crochê de presente e depois, porque nunca tive habilidades manuais, a não ser gostar de desenhar o que culminou até por determinar minha profissão equivocadamente. Se você desenha bem, não significa que você deva ser arquiteto. Essa é a lição da minha vida que tenho a passar a esses moços, pobres moços.
            Mas voltando ao mote principal, nunca fui de fazer nenhuma arte manual a não ser algumas pulseirinhas em macramê que aprendi com um hippie velho, ainda na minha adolescência.
            Ah sim, esqueci-me de uma coisa. Pinto óleo sobre telas há muito tempo. E gosto bastante, mas não sei se tenho algum talento e talvez nunca venha saber, mas deixo claro aqui que sou uma pintora bienal já que minha produção consiste em um quadro a cada dois anos, se tanto.
            Recentemente me transferi para um setor da prefeitura do município, onde trabalho, que credencia artesãos e convivendo com esse pessoal eu descobri que adoro fazer artesanato e trabalhar com as mãos. Desse momento em diante nunca mais consegui ficar parada. Todos os dias eu produzo alguma coisa.
            Comecei com “scrappbook” que para quem não sabe o que é, “roubo” a explicação do Wikipédia que está bem sucinta e clara: O “scrapbook” é uma terminologia em inglês para definir um livro com recortes, é, entretanto uma técnica de personalizar álbuns de fotografias ou agendas com recortes de fotos, convites, papel de balas, flores secas e qualquer outro material que possa ser colado e guardado no interior de um livro.
            Começando com o “scrap”, nome mais íntimo, comecei complementar fazendo também a encadernação e após, cartonagem que usa tecido nas colagens das capas de álbuns, em bolsas, etc. É um trabalho extremamente lúdico, onde se retorna no tempo, é como voltar a ser criança cortando e colando papeis coloridos, carimbando, entre outras diversões, tudo isso usando a criatividade e desenvolvendo um estilo. E ainda se guarda as boas lembranças com fotografias especiais. É tudo de bom!
            O comércio criou uma enorme quantidade de ferramentas e variedade de papéis que tornaram a brincadeira bem séria e já tem um mercado enorme no ramo das decorações de festas, lembrancinhas, etc.
            Mas para mim é apenas um “hooby”, uma atividade praticada por prazer nos tempos livres, só que extremamente dispendioso já que a maioria do material bom vem dos Estados Unidos onde a técnica é muito difundida.
            Então resolvi variar um pouco com coisas mais baratas. Com falta de panos de prato em minha casa, comecei pintando alguns. Depois aprendi uma técnica com tecido autocolante chamada de “patch aplique” (procurem no Google), mas faltava um acabamento legal nos panos, então, por fim pesquisei no “youtube”, sim no “youtube” e assistindo alguns vídeos aprendi vários modelos de pontos de crochê para panos de prato o que deu origem a essa crônica, se é que pode ser assim chamada. 
                 Essa internet é fantástica!
              Num desses dias inspiradores, sem mais nem menos, fui até uma dessas lojas de eletrodomésticos e comprei uma máquina de costura sem jamais ter usado uma. 
                  Imaginam isso? Quem me conhece sabe do que estou falando.
            As habilidades em costura dessa pessoa que vos fala, ou melhor, vos escreve, resumem-se em pregar botões e fazer mais ou menos uma “bainha” numa calça ou saia. Prefiro até pagar para alguém fazer de tão ruim.
             Escolhi um modelo simples (de máquina de costura) e lá fui eu toda feliz com minha mais nova aquisição para casa, sem saber nem como ligava.
             Bom, como nem tudo é impossível nessa vida, eu comprei alguns panos, uma amiga me deu algumas dicas, li o manual, e saí fazendo dezenas de almofadas tortas. Eu e minha máquina tivemos algumas brigas feias, pois eu não sabia que meu pé era o único responsável pela peleja. A velocidade da máquina é determinada pela força com que o pé pisa no pedal, então foi um duro e pândego aprendizado.
            Só que aconteceu algo estranho, pois não obstante minha pouca habilidade, senti uma empatia, uma espécie de identificação com o utensílio. Alguns movimentos que eu fazia com as mãos eram mecânicos, como se meu subconsciente soubesse o que fazer.
                  É claro! Óbvio ululante!
            Desde os dois ou três anos de idade, lembro-me de minhas avós a paterna e a materna, assim como minha mãe, costurando. Interessante o que fica gravado em nossa memória.
            Daí virou uma questão de treino. O pano já não sai correndo de mim, mas só faço linha reta ou tento. Por enquanto...
            Então me apresentaram um tear de pregos. Fiz dezenas de cachecóis e enjoei. Aí aprendi fazê-los em tricô. Duas agulhas, uma meada de lã, alguns pontos e lá vou eu...
            Bordei um jogo de toalhas em “ponto cruz”, mas vi que não tenho paciência para bordados. Aprendi a fazer “fuxico”, mas acho chato, Já vi a técnica de fazer flores de E.V.A., mas não gostei, contudo ainda quero aprender muitas coisas inspirada por esses artesãos maravilhosos.
            Para ser bem sincera, não me aprofundei em nada e faço o quase básico das coisas que tenho vontade, exceto o scrap, a encadernação e a cartonagem que me apaixonei. Mas meu objetivo é todos os dias fazer alguma coisa útil com minhas mãos, mesmo que apenas alguns pontos de crochê num paninho.
            Assim sendo, minha irmãzinha caçoadeira, não vou presenteá-la com uma colcha de crochê jamais, pois sei que não terei paciência para tanto, mas você ainda vai receber muitas lembrancinhas feitas por mim de várias técnicas que vou aprendendo por aqui.   


            Pode até significar que estamos ficando velha e isso até que é bem bonito.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Eu ando pelo mundo

Imagem do google

            “Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que nem sei o nome...”
 Assim começa uma canção da Adriana Calcanhoto que gosto muito, mas confesso que isso é uma coisa que definitivamente não sou de fazer: prestar muita atenção...
          Tenho um defeito crasso que já me prejudicou muito, principalmente na minha profissão de arquiteta: a distração e total carência de senso de observação.
            Sou lesa no olhar, totalmente auditiva, mas também gosto das coisas escritas...
            Todavia, não estou escrevendo para falar dos meus gostos e das minhas deficiências, até porque (as deficiências principalmente), não caberiam numa crônica só, e ainda sou prolixa e me enredo por caminhos que fogem do assunto.
            Acho que já escrevi isso antes.
        Tentando retornar ao assunto, não sou de prestar muita atenção nas coisas, muito menos nas cores que sei ou não o nome, mas outro dia dei de cara com um carro cor de abóbora na rua. Não, não era “laranja”, nem “cenoura”, “ocre”, “salmão”, “tijolo”, ou qualquer nuance semelhante. Era cor de abóbora mesmo. Daquele “abóbora”, usado em gravuras psicodélicas dos anos 70.
            Sei que esse é um assunto, digamos bocó, e não vai acrescentar nada de novo ou de bom ao planeta, mas a crônica é minha e escrevo sobre o que me vem à cabeça, sem querer ser impertinente.
            Fiquei fascinada, pois me chamou a atenção e isso é coisa difícil de acontecer, ainda mais considerando o estado meio apático que ando. Então me peguei observando inevitavelmente as cores dos carros das ruas.
            Entre um ou dois vermelhinhos ou “vinho”, a maioria vai do preto ao branco com muito mais de cinquenta tons de cinza, parafraseando o título do livro de E. L. James, que apesar de ser um fenômeno de vendas não comprei e não li. Não tive vontade.
            Por que será?
            Não sobre a vontade, mas por que será que os carros não têm mais cores?
       A Fiat até trouxe ao mercado, visando os jovens motoristas, uma safra de carros coloridos, o Uno college. Aliás, mais que coloridos, quase neon.
            Mas não os vejo muito pelas ruas, o que me leva a crer que, ou não venderam muito ou os compradores se arrependeram e ficaram com vergonha de andar com eles por aí... Sabe-se lá
            Eu andei pesquisando alguns carros para comprar e encontrei um que gostei e era azul. Um tom de azul lindo!
            Queria de todo jeito. Acho que “rolou” uma nostalgia, pois era cor da Variante da que meu pai tinha quando eu era criança. 
            Fui inteiramente demovida da ideia por todos que se arrebataram a debochar e opinar sobre a cor do carro, mesmo sem eu ter pedido. Chamava muita atenção, era brega, difícil de revender, que isso, e  aquilo...
            Eu ainda nem comprei e nem estou pensando em vender!
      Terminei por desistir, obviamente, mas ficou em mim uma sensação de ter sido manipulada e de não ter prosseguido com uma decisão que me cabia.
            Senti-me uma frouxa e sem opinião.
        Observando a rua hoje e avistar o carro cor-de-abóbora, que nem bonito era, percebi que quase todo mundo teme ousar e prefere ficar na zona de conforto, variando entre o preto e o branco para não chamar a atenção.  Nossa necessidade de fazer parte...
            Parece que nem os ladrões querem roubar carros coloridos, veja só.
            A psicologia também tem sua explicação. A maioria das pessoas opta por preto, prata ou branco ao comprar um carro, porque busca status e sofisticação, mas a escolha por essas cores também revela insegurança, pois impede que os motoristas expressem seus verdadeiros sentimentos, blá-blá-blá...
            Eu sinceramente sinto falta de cores e parece que estamos vivendo tempos de Henry Ford e seus carros pretos...
        Concluo que o que influencia toda essa engrenagem é mesmo a capacidade de revenda do veículo, pois no que se refere ao valor da tinta, as mais caras são as metálicas de qualquer cor, portanto os carro podem ser coloridos sem custar mais por isso.
      Algumas indústrias automobilísticas pelo mundo têm ousado com cores mais espalhafatosas em seus carros, mas não chegam à América do Sul, que tem 72% de sua frota pintada nesses tons acinzentados que nem podem ser chamada de cores...
            Na Europa, Japão e EUA é fácil encontrar carros azul-neon, verde-limão, amarelo-ouro, azul-piscina e tem até tintas especiais que deixam o carro bicolor de acordo com a luz.
              Ok, também não precisamos exagerar...
            Está cada vez mais raro deparar com automóveis coloridos e me sinto vítima dessa ditadura ou “moda” das cores sem cor.
            Algumas revendedoras até atendem pedidos especiais, mas além de ser demorado é muito caro.
            Confesso que não me conformo com o encolhimento do mercado dos carros coloridos que afinal, expressam a personalidade dos donos e alegram nossas ruas e avenidas.
            Entretanto, parece que os carros coloridos são uma prerrogativa dos caros modelos esportivos, ou dos modelos para a garotada que não tem medo de ser feliz.
            Veio-me uma ideia agora: O governo proporciona um transporte público de qualidade,  bonito e colorido e a gente diminui a compra de carros de todas as cores e tons.
             Que tal?