segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Precisa-se de empregada!




Uma semana sem uma empregada doméstica me permite a consciência de que esse texto será provavelmente tendencioso, considerando certo rancor que ando alimentando por essa categoria específica.
Adianto que sou e sempre fui uma patroa generosa, pontual no pagamento e bastante compreensiva e flexível. Aliás, do ponto de vista dos empregadores, sou uma anátema na categoria “patrão”, mas isso tudo não garante encontrar e manter uma boa funcionária, não importa o quanto se disponha a pagar.
Acredito que a profissão de “empregada doméstica” deva estar em extinção, ao menos no seu papel mais notório que é cuidar de uma casa, que consiste em limpar e organizar a tal, cozinhar para a família, lavar e passar roupas. Pelo menos era assim que faziam as empregadas de “antigamente”.
Atualmente, ao tentar contratá-las, elas já trazem consigo um inventário de exigências, que antes era prerrogativa do patrão. São elas que escolhem os dias que podem, o horário e o tipo de serviço que querem fazer.
Estão se “especializando”, se é que podemos assim descrever. Ficando parecidas com médicos. Se eu quiser alguém que passe roupas, terei que contratar uma “passadeira”, pois quem cozinha não lava, nem passa. E o antigo trocadilho vira realidade.
Que fique claro que essa “particularização” dos serviços, não significa benefícios na qualidade do trabalho. Muito pelo contrário! Por algum motivo que não atino, essa qualidade vem piorando consideravelmente. Um declínio vertiginoso, diria.
Mudando um pouco o foco, tenho para mim, que minha família me acusa de ser “boazinha”, demais. Dizem que é por isso que minhas empregadas “deitam e rolam”. Também sou culpada injustamente de fazer uma pré seleção cujos requisitos são “feiura”, “ignorância” e “incompetência”.
Como explicar que não consigo achar nada melhor?
Quem eles querem, afinal? A Gisele Bündchen lavando nosso banheiro enquanto declama Edgar Allan Poe?
O fato é que mesmo feias, ignorantes e/ou incompetentes, está quase impossível manter uma empregada por muito tempo.
Só sei que nos últimos tempos andei aceitando qualquer pessoa que quisesse trabalhar como empregada doméstica na minha casa, sem nenhuma exigência, referências, nadica de nada...
Nem assim!
A minha penúltima “secretária” como gostava de ser chamada, escrevia totalmente errado na lista de compras. Quantas vezes eu comprei alho no lugar de óleo, e por aí vai... No entanto, conhecia toda a legislação trabalhista concernente à profissão de “doméstica”. Sabia cada artigo, item, emenda, adendo... Sabia de todos os seus direitos, melhor que qualquer advogado. Dava até assessoria às colegas do bairro.
Deveres? Essa parte ela não se interessou em ler.
Chegava atrasada, fugia antes do horário, faltava, fazia tudo correndo e mal feito, e assim, por pressão da família tive que dispensá-la, não sem antes sofrer um desfalque nas contas.
Mal sabia que podia piorar.
E sabem o que aconteceu?
Piorou!
Se a penúltima escrevia errado, a última que consegui arrumar não sabia nem escrever. Ler tampouco. E ainda tinha raiva de quem sabe. Uma analfabeta convicta.  
Senti pena e me propus a ensiná-la, depois do expediente, ao que ela rebateu insultadíssima que aquele era o horário da hidroginástica dela.
Então tá, ué...
Todo mundo tem o direito a escolhas.
Depois, para que eu preciso de uma pessoa alfabetizada em casa? Eu só preciso de alguém que faça uma comidinha caseira para três pessoas e passe a maldita pilha de roupas que não para de crescer, enquanto os guarda-roupas esvaziam. Alguém que mantenha a casa mais ou menos organizada e me engane que limpou, pois eu trabalho fora em período integral e só quero ter paz ao chegar.
No entanto, essa se superou no quesito “pior dos piores do mundo”. Era grosseira ao atender ao telefone, e além de não anotar o recado (óbvio), também não se lembrava do nome de quem ligou ou o que queria.
Uma lista de compras a essa altura dos acontecimentos, era um luxo que não mais me pertencia.
Meus familiares me fitavam zangados todos os dias porque a comida era uma “gororoba” intragável, e além de cozinhar mal, a dita conseguia fazer uma baderna colossal na cozinha durante o processo. Totalmente desordeira e atrapalhada. Jamais vi nada parecido.
Nossa hora do almoço era um caos.
Confesso que tive ganas de fugir de casa ou passar a comer fora, esquecendo que eu é que sou a mãe.
A geladeira entulhada com dezenas de potinhos, cada um guardando um resto de alguma coisa que jamais seria reaproveitada: uma fatia de tomate num, uma azeitona noutro, um restinho de molho, um pedaço de frango velho, elementos não identificados, etc.
Não satisfeita com tanto defeito, ela se dava ao luxo de ser mandona, se intrometia nas conversas da família, não gostava dos animais e para fechar com chave de ouro, reclamava da empregada anterior, que eu, saudosa já comparava a uma governanta britânica.
Quando ela se queixou (quase dois meses depois de contratada), que o chão da cozinha estava sujo porque a outra empregada não limpava, eu tive a audácia de dizer que agora era ela quem tinha que fazer isso. “Fuzilou-me” com um olhar que variava entre furiosa e estupefata.
Quase fui limpar o chão eu mesma.
Mas de números ela entendia! Tinha dois celulares e ligava o dia inteiro sei lá para quem.
Mesmo com toda a família contra mim, cheguei a defendê-la, só para não ter que recomeçar todo o processo de procurar, entrevistar, contratar, ensinar...
E ainda assim, o inesperado aconteceu.
Ao receber seu terceiro salário, sem aviso prévio, sem despedidas, sem sequer uma carta de adeus, ela se foi...
Já faz uma semana que não vem trabalhar.
Ao ligar para casa dela para obter notícias, não me atendeu e mandou recado pela filha. “A mãe disse que não quer mais trabalhar aí porque vocês são muito desorganizados.”
É isso aí.