quarta-feira, 23 de maio de 2012

Então?!




Como qualquer mulher que tem mais de quarenta anos deve fazer, lá fui eu me submeter aos exames preventivos triviais: mamografia e ultra-sonografia.         
Tenho mais de quarenta e mais não digo...         
São exames chatíssimos e desagradáveis, mas muito importantes. Apoio e divulgo toda campanha de prevenção e combate ao câncer de mama e outras doenças femininas.         
E depois, cá entre nós, não é nada com que não possamos lidar.         
O que é uma mamografiazinha perto de depilar pernas, axilas e até virilha? E tirar pelos da sobrancelha com pinças, parir um filho (será que é pleonasmo?), entre outras coisinhas abstrusas pelas quais estamos carecas de passar?         
Quase nada, ainda mais quando se trata da nossa saúde.                Ressalto que o termo “careca” foi empregado por mera força de expressão, pois esse desgosto costuma ficar para os homens para contrabalançar um pouquinho.         
Sei que os “meninos” também padecem com o tal exame da próstata, mas eu estou a falar de nós mulheres, ora bolas. Afinal é o assunto que entendo!         
Contudo, esses exames, sempre nos deixam um pouco apreensivas, pois os resultados podem decretar nosso futuro, mesmo quando se trata apenas de rotina.   Então, comparecer num laboratório desses não é lá uma coisa muito divertida.
Falando nisso, vale ressaltar que a sala de espera desses laboratórios para exames de imagem é um lugar onde o socialismo é exercido com extremo rigor.
Tanto faz se o plano de saúde é o básicão ou um top-vip-mega-blaster, pois somos todas obrigadas a nos vestir iguais, com um modelito básico especialmente criado para a ocasião. Um pano com dois buracos para os braços e uma faixa para amarrar. Medonho.
Obviamente, o “estilista” desse indumento não teria competência para escolher cores menos repugnantes.

Custava criar uma roupinha mais estruturada, adicionar alguns detalhes delicados e optar por uma cor mais alegre? Parece uma conspiração laboratorial. Já passei por vários laboratórios e todos eles querem nos enfear propositalmente. Um conluio com um intuito que ainda não consegui determinar, mas vou descobrir.
Não é suficiente o nosso padecer?
Sei bem que esses mimos são supérfluos quando o assunto é sério, ainda assim, nada justifica esse traje ridículo. 
Não há auto estima que resista!
Entretanto, não deixa de ser interessante quando nos tornamos todas iguais ao deixarmos de lados o que nos identifica: nossos pertences. Tudo fica trancado num armarinho, e seguimos portando apenas uma chave do lugar onde guardamos quem pensamos que somos. 
E somos dezenas por dia, centenas por semana, milhares...
Ali, olhando aquelas mulheres sentadas ao meu lado, em silêncio, a espera de serem chamadas, quase não sei discernir quem é pobre ou rica, quem é a grã fina, a doméstica, a estudante, a funcionária pública, a empresária... Estamos ali despojadas de nossos adornos e posses materiais.
Continuamos únicas e ao mesmo tempo passamos a ser tão parecidas, sem as coisas que nos distinguem, vestindo um uniforme de gosto duvidoso e de praticidade evidente, enfrentando nossos piores temores...
Mulheres no mesmo barco.
Entre nós quase não há palavras, mas uma cortesia implícita, uma cumplicidade silenciosa.
Quem pode saber o que cada uma carrega dentro de si? Na mente e no corpo? Estarão ali apenas pelo exame de rotina?
Talvez, entre nós exista alguma bem assustada ou o travando uma luta declarada com a doença, acompanhando a regressão ou o avanço de seus próprios receios. Eu não saberia apontar qual.
Quem sabe, apenas mulheres serenas, fazendo um simples e rotineiro exame, como eu, e agradecendo a Deus pelos avanços tecnológicos que permite sermos diagnosticadas com precisão e antecedência de qualquer indício de doença.
Entretanto, nem toda a tecnologia da medicina moderna solucionou um grande transtorno pela qual temos que passar: A tal da mamografia!
Preciso manifestar aqui a minha decepção com a classe científica que despende tanto dinheiro e esforço em modernizar os maquinários de exames por imagem, e não se dedica a pesquisar uma máquina que não trate nossos peitinhos como massa de pão.
Durante uma mamografia, nossos seios são colocados em uma plataforma especial e comprimidos gradualmente por uma placa até igualar de espessura, de modo que todo o tecido possa ser visualizado numa tela e isso é feito na horizontal e depois na vertical. Cada um...
Parece ruim? Pois é pior, já que as atendentes costumam achar que a espessura ideal para visualização de um peito, é a de uma folha de papel.
Quem nunca fez uma mamografia não tem noção do martírio.
Para os homens terem uma idéia, eu explico numa linguagem de macho: Imaginem seus testículos sendo comprimidos por uma morsa até ficarem da finura de uma pizza.
Então?!
É um procedimento quase medieval, mas que ainda é o mais eficaz no diagnóstico precoce do câncer de mama.
Portanto, apesar dos pesares, o custo benefício compensa.
Assim, conclamo as garotas dos vinte aos setenta anos para que se mantenham em dia com seus exames.
Já dizia o velho e sábio ditado: Prevenir é melhor que remediar!