terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Mulheres e fases

Isabel Hojas


E roda a melancolia 
seu interminável fuso! 
Não me encontro com ninguém 
(tenho fases como a lua...)
Cecília Meireles



“Eu já passei dessa fase!”
Ouvi a enigmática citação enquanto olhava distraída para o mar.
Virei-me e avistei um grupo de mulheres reunidas na praia conversando sobre um assunto qualquer, que não pude discernir. Audível mesmo, apenas a frase específica, dita enfaticamente.
“Quarando” ao sol (já que me bronzear é quase impossível), deitei (também literalmente) a observar o eclético grupo, protegida por detrás das lentes dos meus óculos escuros. Uma xereta, eu sei, mas não havia nada melhor a fazer...
Era um grupo de seis ou sete mulheres, entre vinte e sessenta e poucos anos, de comportamento discreto até, exceto pela fatídica frase que escapuliu do volume recomendado. Possivelmente eram da mesma família.
         Qual delas teria proferido a frase da fase?
Certo que não foram as mais jovens, considerando que ainda não passaram por grandes coisas nessa vida.
Dando asinhas à minha imaginação, comecei a matutar sobre as tais “fases”. As femininas, óbvio, pois nada entendo das fases masculinas.
Já ouvi dizer (as más línguas), que ao contrário das mulheres que são cheias de fases, os homens só passam por uma: a infância! Acho isso uma maldade! Conheço uns quarentões que até já adentraram na adolescência!
Por falar em infância e adolescência, resolvi “pular” essas etapas por puro enfado e assim, iniciar minhas elucubrações pouco profícuas a partir dos dezoito anos, que é quando as mulheres estréiam tempos mais peculiares.
Baseio-me em mim mesma, ou melhor, no que me lembro de mim, para ser exata, e no meu (não muito aguçado) senso de observação, afinal sou mulher, filha, mãe... Hei de entender um pouco desse babado.
Dos dezoito aos vinte e tantos anos, as mulheres atravessam a fase de “meninas super poderosas”. Autoritárias e cheias de disposição, acham que sabem tudo e que sempre estão com a razão. São assertivas (em excesso) positivas (em demasia), determinadas, abusadas, e têm o coração pleno de expectativas, planos e esperanças. É mais ou menos assim com quase todas, independentemente de raça, credo, diferenças sociais e econômicas. Acreditam que têm todo o tempo do mundo, e enquanto o “príncipe” não chega, vão dando uma ajudazinha ao destino beijando uns sapos aqui e outros acolá... Uma fase bem gostosa, diga-se de passagem.
Então, quase sem se darem conta, adentram aos “trinta”, e nessa etapa da vida, estão fadadas a dois destinos, ambos curiosos e com muito mais responsabilidades:
Primeiro, é se o tal “príncipe” realmente aparece e elas se casam e têm filhos. Daí, elas passam por essa fase, totalmente atarantadas, tentando dar cabo da indescritível empreitada de ser esposa, mãe, dona-de-casa, profissional, etc. Mal se apercebem de qualquer problema fora do âmbito de seu lar.
O outro destino é quando até os trinta, elas não se casam.
Atualmente, muitas mulheres optam por não se casarem, mas estou a falar do grupo que quer e não casou por falta de “sorte”.
Complicado!
Por algum motivo ignorado (até pelos mais instruídos no assunto), a maioria das mulheres com mais de trinta anos, passam por uma espécie de ‘pânico dos últimos dias’, mais conhecido como “SPCISLCQF ou “Síndrome do Preciso Casar Imediatamente Seja Lá Com Quem For”. Soletra-se “Sipicislcequife” e é diagnosticada, identificando alguns sintomas típicos que vem acompanhados de uma necessidade visceral de ficar noiva.
É aí é que a porca torce o rabo!
Bate um desespero nas “balzaquianas”, que começam a meter os pés pelas mãos.
A grande verdade é que as mulheres só têm consciência de que não precisam se casar depois de já terem cometido o despautério!
Mesmo quando são lindas, independentes e bem sucedidas, acham que precisam casar a qualquer custo, daí passam para o ataque com marcação cerrada e tudo pode acontecer.
Algumas assustam pretendentes, um após outro e ficam sozinhas eternamente; outras arrumam namorados, maridos ou amantes. É uma incógnita.
De repente uma nova fase se anuncia: Elas chegam aos quarenta anos e algo estranho acontece no íntimo das “garotas”, nessa etapa da vida. Geralmente é o oposto do que acontece aos homens da mesma idade.
Eles entram em crise e elas, ao contrário, são tomadas por uma espécie de placidez, uma resignação com o próprio destino, que as liberta dos estereótipos e as desobrigam de vários desconfortos.
As que casaram, já estão devidamente “amestradas”, e as que não casaram, também... São sobreviventes da difícil fase dos trinta, e até as consumadas “solteironas”, assim se assumem com certa serenidade. Já passaram da fase de se importar com pequenas coisas.
Claro!!!
Agora ficou óbvio que quem pronunciou a frase inicial foi uma das quarentonas do grupo, pois poucas coisas incomodam uma mulher na segurança dos seus quarenta anos além dos filhos e do marido (se ainda houver algum), e a pior de todas é o climatério...
Sim! O início da menopausa, essa vilã execrável!
Estava bom demais para ser verdade, não é mesmo?
As coitadinhas estão lá tranqüilas, gozando de merecida trégua da vida, quando de repente começam os calores...
Fiz questão de pesquisar por aí e descobri que a carência de um tal de “estrogênio” é a causa desses fogachos e responsável pelo envelhecimento da pele e pela distribuição de gordura nas mulheres. Por causa desse hormônio, ou melhor, da falta dele, elas começam a engordar na barriga e a celulite abunda, até em cotovelos e joelhos. Pode?
Os braços dobram de diâmetro, e para completar o filme de terror, é provável que tudo doa. Do verbo “doer” e não “doar”.
Tá... Acho que posso descartar cabelos e cílios. Mas, segundo minha pesquisa (não muito ortodoxa), até as unhas doem.
Além disso, diminui a libido (valha-me Deus), aumenta o colesterol, causa depressão e irritabilidade. Ai...
Deste modo, mais uma vez se muda os objetos de troca entre amigas.
Aos vinte, trocavam entre si perfumes, cremes, marcas de pílulas anticoncepcionais, batons, etc.
Aos trinta trocavam endereços de professores particulares, escolinhas, pediatras, e afins.
Aos quarenta, eventualmente trocam endereços de massagistas, escolas de ioga, etc.
Pois aos cinquenta, as mulheres trocam loucamente receitas com soja e endereços de ginecologistas, endocrinologistas, dermatologistas, oftalmologistas, geriatras, osteopatas, orthomoleculares, “Anti-age”, etc.
A bolsa de uma “cinquentona” parece agenda de plano de saúde, e armário de remédios.
Imagino que todas nós passaremos por isso, se não morrermos antes, opção que prefiro descartar por enquanto.
Eu poderia continuar até os “noventa”, mas as mulheres já se retiraram da praia, o sol está forte e estou sentindo um calorão.
Fica para a próxima.