segunda-feira, 26 de março de 2012

Tempos modernos




“Não há tempo que volte, amor
Vamos viver tudo que há pra viver
Vamos nos permitir...”
(Lulu Santos)




Decididamente eu sou uma antiguidade!
Parva, eu me dei conta disso recentemente!...
Pois é, eu sou do tempo em que só existia telefones com fio. Sei que ainda existem, mas eu sou do tempo em que eles tinham apenas quatro algarismos.
Bom, também sou do tempo do LP e é possível que haja muita gente que não faz idéia do que é isso. É assim que a gente percebe que está envelhecendo.
Dia desses, assisti um filme dos “anos 80”, onde aparecia um telefone sem fio e me lembrei, que na época já foi um avanço enorme poder se movimentar (num certo raio de alcance), sem ter que ficar limitado ao fio e à tomada do telefone.
Quando surgiram então os primeiros telefones celulares, eu achei fantástico. Saber que poderia levar o danadinho para onde fosse me deixou totalmente pasma! Aquilo era muito melhor que o “sapato-fone” do Agente 86.
Sim! Eu também sou do tempo do Maxwell Smart. É certo que já era reprise, mas ainda assim faz muito tempo...
Para ser sincera, a primeira vez que vi alguém falando de um celular, me pareceu exibicionismo desnecessário. Puro preconceito de quem ainda não sabia o que o futuro prometia...  Atualmente, de dez pessoas andando na rua, vinte estão falando ao celular. É uma epidemia que virou necessidade.
Hoje, eu não vou nem ao banheiro sem o meu.
Mas o que mais me impressionou, foi que eu imaginei que nunca mais nos sentiríamos sós, o que não é bem assim.
Todavia, rapidamente o aparato me conquistou e ao mundo inteiro.
Acho bobagem quando leio por aí coisas do tipo: “No meu tempo não tinha isso, nem aquilo e fui uma pessoa feliz. Sobrevivi sem traumas a uma infância sem computadores, sem celulares, jogos eletrônicos, etc.
Claro que sobrevivemos, e nossos avós, com muito menos, e nossos bisavós e tataravós então, menos ainda! Nem luz ou água encanada, nem vaso sanitário ou papel higiênico. Foram infelizes por isso? Não sei.
Penso que ninguém sofre pela falta daquilo que não conhece e cada um busca a felicidade no seu momento e no seu ambiente.
Mas voltando às modernidades, na minha crassa ignorância, alguns mistérios me deixavam estupefata! Tantas perguntas ficaram sem respostas...
O celular liga em quê? Como assim “Satélite”? Alguém pode me explicar o que é uma “Operadora”?
Queria entender o funcionamento dessas coisas, até que desisti e aderi ao uso, mesmo sem alcançar a compreensão. Em algum momento tudo vai ficar claro, ou não...
Como censurar a tecnologia e suas consequências? A evolução é irreversível e acho uma oportunidade especial estarmos vivendo por esses tempos, tendo acesso e experimentando a modernidade em nossas mãos, e me confesso uma adepta dessas geringonças modernosas. Me atrapalho, as vezes, mas me divirto.
Aliás, acho admirável a inteligência humana e sua evolução, ao menos na área tecnológica.
Infelizmente, não posso dizer o mesmo em outros campos, já que estamos ainda “engatinhando” na evolução moral e espiritual.
Excelente mesmo seria, se os esforços destinados à área tecnológica recebessem o mesmo empenho para solucionar a fome, as doenças, e outros tantos problemas da humanidade, mas isso é outro assunto.
Falando em soluções, não posso esquecer o principal ícone dos nossos tempos modernos: os computadores.
Primeiro eles eram geringonças imensas, e até se tornarem pessoais foi um longo caminho...
Quando eu me deparei com um no trabalho, ainda era sistema MS-DOS. Uma “coisinha” meio chata, mas já ajudava. Entretanto, com o advento do Windows, tudo ficou mais compreensível para mim.
Óbvio, que no começo, eu usava apenas o “World”, e associava a uma máquina de escrever elétrica.
Fui me apaixonando e adentrando pouco a pouco nesse universo dos diversos “softwares”, até que ela chegou: a Internet!
Uau! Como assim? Eu poderia ter um endereço eletrônico no computador e trocar cartas com outras pessoas sem precisar postar no correio? Essa foi demais!
É... Eu chamava “e-mails” de “cartas”, a bronca...
Apresentada à arroba, foi @m♥r a primeira vista.
Na ocasião, os computadores ainda eram pouco accessíveis para se ter em casa, mas o “mercado”, prevendo o sucesso, resolveu isso e rapidamente cada casa teria um, cada pessoa teria o seu...
E nem imaginava o que ainda estava por vir.
Então começaram a falar em navegadores... Heim? Aplicativos, gadjets, html... Dialeto estranho e sedutor.
Assisti nosso idioma perdendo a identidade e inventando verbos, Aderimos aos estrangeirismos e neologismos, com uma facilidade que até hoje fico vexada. “Deletar”, “escanear”, “plugar”, “samplear”, “lincar”, “blogar”, “twitar”, e por aí vai...
Uma desfaçatez, que nossos irmãos lusos nãos se prestaram assim facilmente.
Daí, para enlouquecer de vez, surgiram as redes sociais, em que dezenas, centenas, milhões de pessoas se conectam no mundo inteiro e podem conversar em tempo real e até se verem através do monitor.
Meu Deus, o futuro chegou!
E eu estou aqui fazendo parte dele. Extraordinário!
Nem os Jetsons teriam feito melhor!
E foi assim, que cada indivíduo “conectado” desse planeta, passou a expressar sua opinião individual para o universo coletivo.
Cada pessoa passou a ser uma espécie de jornalista de suas próprias notícias e crenças, com direito a se auto promover através de postagens em blogger, twitter, facebook, tumblr, do quase finado Orkut, e o que mais existir, que desconheço.
É possível ainda “seguir” um ao outro, meter o bedelho na vida alheia e se agrupar por afinidades.
Existem perigos, principalmente para as crianças, o que requer cuidados e orientações, e como tudo, tem seu lado bom e ruim.
Comparo a um “Karaokê”. Tem a benesse de ser democrático e, portanto, todo mundo tem o direito de cantar se quiser, para se sentir feliz. Azar do ouvido alheio que nem sempre agradece.
Relação custo x benefício, sabem como é?
O fato é que os equipamentos se multiplicaram. Computadores, celulares, laptops, notebooks, tablets, tocadores de MP3, pendrives e muito mais, com dezenas de “aplicativos”. Tem um tal de wirelles,  o bluetooth, as plataformas de código aberto, etc.
É mágico!  A “energia está no ar”...
Com um telefone celular, posso ver televisão, ouvir música, jogar, gravar, fotografar, filmar, acessar internet e as redes sociais, e o mais legal de tudo: eu ainda posso - se quiser - telefonar!
E não preciso nem discar, nem teclar. Basta tocar ou comandar por voz...
Hoje em dia existe até HD virtual, ou seja, se seu computador não tem memória para suportar todos os seus arquivos, você pode arquivar tudo (documentos, fotos, músicas, etc.), num HD virtual.
Alguém sabe onde fica isso? Seria um mundo paralelo, uma espécie de umbral das memórias? Como diria minha filha: bizarro...
O mais curioso é observar que as crianças já nascem sabendo operar essas pequenas geringonças, como se sempre houvessem existido. Decididamente são novos tempos.
Obviamente que a nossa felicidade não está nesses aparatos, mas não está também em ficarmos num saudosismo desmedido e sem sentido.
Vamos aproveitar o que temos de bom e cada conquista que a inteligência criativa do homem inventou para o bem, porque o que ela cria para o mal nos é enfiado goela abaixo sem opção. 


@Rossana Masiero

terça-feira, 6 de março de 2012

Peixes, etc...


Por reivindicações familiares, que aqui não vem ao caso esmiuçar, passei a tarde de domingo numa escola de teatro na capital de São Paulo.
Tive medo que fosse um “programa de índio”, mas muito me enganei, pois me diverti sobremaneira.
A escola tem direcionamento para “Musicais”, trabalhando o desempenho na área de atuação, canto e dança simultaneamente. O grupo de alunos era formado por cerca de 40 jovens, cuja faixa etária variava entre 14 e 27 anos ou pouco mais.
Surpreendi-me por que tinha mais homens que mulheres. Pode não significar nada, apenas não estou acostumada.
Porque essa crônica tem “peixe” no nome?
É o que estou tentando explicar, mas tenho uma mania terrível de não ser direta. Fico dando volteios e me desvirtuo do contexto, e às vezes, até esqueço qual era o assunto.  
Seguindo com meu raciocino truncado, prometo chegar aos peixes.
Durante uma das dinâmicas, o grupo de alunos dividiu-se em duplas que se apresentavam entre si e em seguida, era apresentado pelo colega ao grupo todo.
Tudo seguia normalmente, com algumas informações supérfluas (no meu parco entendimento), mas importantíssimas para eles, pelo que pude perceber! Falavam de signos, ascendentes, hora de nascimento, cor preferida, animais de estimação, etc.
Eu já estava num estado entre o meditar e o roncar, quando um dos garotos com seus catorze ou quinze anos, ao apresentar a colega, disse que a mesma tinha um peixe, e que juntos chegaram à conclusão de que um peixe não era animal de estimação e sim um animal de enfeite.
Achei engraçado! Sempre pensei em peixe como animal comida.
Uma das alunas que era bióloga retrucou bem humorada, e um rapaz, afrontadíssimo, fez um discurso, declarando que tinha dois peixes, que conversava com eles e que os estimava muito. Pirado de tudo!
Principiou-se um estrepitoso burburinho. Gostaram de “estrepitoso”? Eu também!
Voltando ao assunto, todos tinham uma opinião ou uma piadinha a respeito de peixes e queriam manifestá-la ao mesmo tempo, até que a professora teve que intervir para dar continuidade ao exercício.
Mesmo estando já bem acordada, não obtive a conclusão da polêmica e ainda carrego comigo a tal dúvida:
Além de servirem como alimento, os peixes são animais de enfeite ou de estimação?
Não que a conclusão vá mudar minha vida, mas na falta de coisa melhor para fazer...
Lembro que quando minha filha era pequenina, ela sonhava em ter um peixe cor-de-rosa. Eu me fazia de surda, disfarçava e ia procrastinando...
Resumindo, eu não era nem um pouco a fim de cuidar de peixe, que cá entre nós, acho um animal muito bobo!
Mas aos quatro aninhos, tudo o que uma menininha pede com jeitinho, acaba ganhando. Num belo dia, chega um casal de amigos com um lindo aquário e um peixinho cor-de-rosa de presente para a pequena.
Pronto! Sobrou pra mim...
Minha filhinha ficou exultante!
Ela queria por tudo interagir com o peixinho, tocá-lo, segurá-lo nas mãozinhas pequeninas, e tenho certeza, que apesar de eu ter explicado que peixe não se pega no colo, ela deve ter tentado em algum momento em que eu estava ausente. Aliás, pelas vezes em que encontrei o aquário revirado, foram muitos esses momentos.
Talvez, peixes sirvam mesmo só para enfeite.
O peixinho era cor-de-rosa e, portanto, apesar de ser um lindo Betta macho, foi determinado (por ela), que o peixe era uma “menina” e se chamava Yasmine, para não ficar igual ao nome da namorada do Aladim.
Peguei-a conversando com Yasmine diversas vezes, que ficava olhando para ela através dos vidros reluzentes com aquela olhar de peixe morto. Talvez, peixes sejam animais de estimação, afinal de contas...
Interessa é que esse “olhar de peixe morto” não foi apenas uma expressão e sim uma profecia, pois o peixinho, não durou muito. Não sei se pela minha inabilidade em cuidá-lo ou se pelas intervenções sistemáticas da minha menina, tentando pegá-lo.
Num dia qualquer, poucas semanas após sua chegada, encontrei Yasmine mortinha no fundo do aquário. A criança estava na escolinha, o que foi uma sorte, pois me deu tempo de procurar outro parecido para substituir o finado.
Apesar de essa prática ter se repetido algumas vezes, a cada “Yasmine” nova, o tempo de vida era maior.
Acho que eu estava enfim “pegando o jeito” de cuidar de peixe ou então, a minha filha tinha desistido de pegar o bichinho.
Ela não notava a troca dos peixinhos, até que num dia fatídico, foi ela que encontrou o defunto de peixinho no fundo do aquário.
Uma comoção geral!
Os olhinhos estupefatos e assustados miravam o bichinho descorado, quase invisível no fundo aquário. Foi uma choradeira. Eu não queria que minha criança passasse por essa experiência de perda e morte ainda tão pequenina, portanto nem vacilei!
Recolhi o bichinho (ai que nojo!), coloquei num porta-jóias com todo o cuidado e disse que ia levá-lo ao médico depois de deixá-la na escola.
Seus olhinhos vermelhos se encheram de esperança e ela me deu um sorriso de gratidão que valia por todos os absurdos do mundo!
A supermãe ataca novamente!
Prometi (insensata), que ao buscá-la na escola, a Yasmine já estaria bem. Eu já estava mesmo “escolada” em comprar peixinhos e já conhecia todas as lojas da cidade. A dificuldade era só encontrar um parecido.
Adivinhem?
A dificuldade tornou-se impossibilidade! Oh Deus! Porque esse Murphy tem que se meter em tudo? Será que ele inventou até uma lei para peixes?
Passei a tarde inteira procurando um Betta cor-de-rosa. Tinha de todas as cores, menos a necessária!
Já não sabia mais o que fazer até que escolhi um de cor entre púrpura e tijolo. Era um pouco maior que a Yasmine anterior e tinha um rabo mais longo, mas não tinha jeito. Era aquele ou nenhum!
Peixe comprado, fui pegar a pequena na escola, que já entrou no carro perguntando pelo peixinho. Mostrei o saquinho de plástico com o bichinho dentro, temendo o que viria a seguir.
Ela segurou o saquinho e olhou bem para o Betta rabudo, espantada ao ver Yasmine tão diferente.
Sua lógica infantil poupou-me de dar explicações desnecessárias.
- Aposto que o tio Carlinhos (o pediatra) deu vitamina para você crescer! Você está linda Yasmine!
Que delícia! Essa foi por pouco...