sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A bicharada


Eu tenho duas famílias que moram na mesma casa. Adicionar imagem
Ou melhor, eu tenho uma família formada por dois grupos de diferentes espécies. Uma - da qual obviamente faço parte - é minha família humana e a outra é composta pelos meus animais.
A minha família de pessoas, apesar de não ser lá totalmente normal, não chega a ser nenhuma aberração. Nada que uma boa conversa e eventualmente uns gritos não resolvam.
Mas o outro grupo, a minha "família animal" é totalmente atípica, para ser gentil.
Algo de muito estranho acontece com meus bichos.
Tenho um “vira-lata” que está com quatro anos. É fêmea e antes dela chegar tínhamos uma cadelinha de raça “Lhasa apso” que era uma verdadeira paixão. Não precisávamos de outro cachorro, mas temos um principio por aqui que é reservarmos uma cota de adoção para animais abandonados.
Assim sendo, um belo dia chegou nossa cadelinha; um cruzamento de Basset com todo o resto das raças caninas existentes no Vale do Paraíba, grande São Paulo e quiçá da Bahia.
Batizamo-la de Guiomar (por motivos que aqui não vem ao caso), e ela atende pelo pseudônimo de Guigui.
Com ela iniciou-se uma prole de animais de comportamento um tanto quanto bizarro.
Para começar, uma tragédia aconteceu: Logo que a “vira-lata” chegou, nossa Lhasa veio a falecer de um mal que ninguém sabe. Nada apareceu na necropsia e conjecturamos que, como a casa estava em reformas, ela pode ter sido mordida por um escorpião ou alguma aranha armadeira. Foi uma tristeza só...
A vira latas? Apesar de filhote, não sofreu uma picadinha sequer nem de pulgas, e também não se abalou nem um tiquinho com a ausência da irmãzinha. Aliás, diga-se de passagem, ficando sozinha impôs-se como rainha absoluta do meu lar.
A esta altura, o gatão persa que tínhamos (não falei?), já tinha desaparecido com a chegada da cadelinha. Estranho, não? Também achamos, mesmo assim passamos a mimá-la e dar algumas regalias que não se deve dar a bichinhos de índole duvidosa, como viemos saber mais tarde.
Acontece que ela tem aquele olhar “pidão”, de quem está sempre assustada ou arrependida. Olhos de quem conhece a tristeza do mundo...
Puro fingimento, diz meu marido que garante que ela é mesmo mau-caráter e que não tem razão nenhuma para a falsa cara sofrida, já que com dois meses de vida ela já reinava aqui de casa.
Preveni que ele precisa ter cuidado ao manifestar esse tipo de opinião pessoal, pois que poderia ser confundido com preconceito e do jeito que estão as coisas, até ser processado por “bulling” canino.
Admito que foi uma piada barata, mas não me contive.
Fato é que a Guigui é mesmo oportunista, tenho que admitir, e soube aproveitar-se da situação, passando a dormir dentro de casa e abusar do nosso amor.
Achando que devíamos dar um basta neste abuso canídeo, um amigo americano, criador, nos ofereceu um Bordie Collie. Ele faria companhia à Guigui, que certamente “baixaria a crista”, como diria minha avó. Falou (com seu sotaque de tio Sam) que íamos “pirar com o inteligência da cachorro”, aliás, outra cadela, que já veio batizada como "Bela" e é de fato.
Nosso amigo disse que essa raça é muitíssimo inteligente, aprende tudo rapidamente, e tem talentos para cão pastor, coisa totalmente dispensável por aqui.
Relutei, mas numa família democrática como a minha (puro sarcasmo), meu voto contou como nulo.
Resumindo nossa situação: Como ninguém tinha tempo para ensinar a inteligentíssima cadela, a vira-latas se incumbiu da tarefa e delegou a esta todo o trabalho sujo.
Agora a bela e inteligente pastora late o dia inteiro, avança nos motociclistas, arranca minhas plantas e flores espalhando seus galhos pelo quintal e mastiga os pés de cadeiras e mesas.

Ah! Não posso me esquecer que ela tem uma predileção por mascar calças jeans e sutiãs, que a vira-latas instruiu sobre a melhor técnica de puxar do varal. Também rouba frutas da fruteira, com predileção por bananas. Alguém pode me explicar?
Outra peculiaridade que nos inquieta e aporrinha a vira-latas, é que esta não consegue dar um passo sem que a collie a cerque. Uma verdadeira devoção canina!
Preocupados procuramos um especialista que nos informou que a Border Collie pensa que a vira latas é sua ovelha e a pastoreia em tempo integral para que ela não desgarre do rebanho (?) e fuja pelos pastos verdejantes do meu restrito quintal.
Eu avisei que não eram normais!
Para agravar a situação, adotamos um gatinho de rua que veio para nós com duas semanas e já está com quatro meses. Ele convive muito bem com as duas cadelas, o que por si só já é atípico.
É um lindo gatinho “sem raça definida”, que a cadela de “raça mais inteligente do mundo” pensa que é o filhote da ovelha.
O gatinho para não fugir do contexto, comporta-se feito um cachorro e cada vez que me aproximo deita de barriga para cima e espera afagos. Óbvio que não faz “miau”, como seria normal e sim um som estranho e desafinado que mais parece um uivo e avança e morde em quem chega a casa.
Para confundir ainda mais, nossa tartaruga ou jaboti (sei lá eu), que já tem uns doze anos, quase foi exterminada pela esquizofrênica pastora, já que podia representar uma ameaça à “ovelha e seu filhote”.
Agora, traumatizada com a situação, a tartaruga não sai mais da casinha de cachorro, que os próprios cachorros nunca usaram, o gato tenta insistentemente mamar na pastora, e o papagaio da vizinha começou a miar.
Minha filha anda querendo comprar florais para acalmar os bichos aqui de casa, mas eu penso que só o tal Cesar (uma espécie de Freud de cachorros), pode nos ajudar.

15 comentários:

Wania disse...

Rossana querida!!


Estes bichos são muuuuito amadicos, mas já cheguei a conclusão que o amor demais é que "estraga" a raça...rsrsrs! Depois de mimados não tem mais volta, mas fazer o quê, né? Eu não economizo amor pra ninguém, agora se não sabem o que fazer com as "sopras", isso já não é problema meu...rsrs!

Amiga, conheço bem o que dizes, aqui em casa meus filhos já desistiram de me mostrar todas estas teorias freAUdianas...tenho um vira-lata, o Frodo, que pensa que a ovelha sou eu....rsrsrs!


Volto amanhã pra mais um dedinho de prosa...;)


Parabéns e sucesso para o novo blog!
Bjs para toda "família"

Unknown disse...

Ross!

Porque as coisas acontecem assim? Minha caçula tem um lindo cachorrinho, branquinho etc.... Ele era doentinho. Passei três meses dando sopinha de nenê para ele não morrer.O próprio veterinário que deu o Matisse, deu outro para fazer companhia de nome Kafka, que era um galgo miniatura, mas com dois machos, os dois marcavam território na casa toda. E mais seis gatos, que à princípio estranharam mas depois (eu acho) trocaram de personalidade. Gatos e cachorros dormiam uns em cima dos outros.
Bem, foram envelhecendo e morreram tr}es gatos. Agora morreu o Kafka, que já estava com as orelhas totalmente comidas pelo Matisse. Este chora dia e noite , sente falta da orelha que ele comia e o outro deixava. Enfim ando agora à procura de uma orelha canina, mas sem o resto do cachorro.

Sugiro que leve a cadelinha mais líder à um veterinário que seja psiquiatra. EXISTE! OU...... Você vai enlouquecer.

Mas eles tiram a rotina da casa.

Espero que as coisas melhorem.

Beijos e auaus auaus e miaus.

Mirze

Eraldo Paulino disse...

Minha história com animais de estimação nunca foi das mais perfeitas. Na verdade, quando era criança, era muito frustrado porque todo cão que eu tinha morria.

E lendo tua história, acho que foram vocês que influenciaram o autor do filme Baby rsrs

Muito interessante tua nova casa.

Bjs!

Adauto disse...

Muito bom!

E agora também fazendo parte de meu acompanhamento diário...

:D

Marcantonio disse...

Estou mesmo desatualizado com esse negócio de bichos: quem é esse Cesar? Algum Dr. Dolitlle que trata os cães como se não fossem brutus? Humm, essa foi ruim...

Muito bom, Rossana! E divertido.

Beijo.

Marcantonio disse...

Agora que me dei conta dos nomes dos cães mencionados pela Mirze. Rs. Matisse comendo as orelhas de Kafka... Sensacional! Sem nenhum desrespeito ao falecido, aliás, aos dois.

Um beijo, Mirze.

*♡* Jane Dos Anjos *☆* disse...

Olá Rosana, tudo bem? A Mirze me contou que estava passando por apuros e vim ler seu post, bem vou te dar 1ª a boa noticia, pra isso tudo tem jeito, é só ter paciência, comando e atitude com sua vira-lata a Guigui e a má noticia é, Guigui tem certeza que é a verdadeira dona de casa, ela vai comandar a casa como quiser e pra reverter essa situação não vai ser fácil, cachorros, principalmente os vira-latas, precisam de um comando firme, como se fosse um patrão, ou poderoso chefão, vocês no inicio por causa de suas perdas a deixaram solta, como se ela fosse a dona de tudo e ela foi só tomando espaço e vocês deram, a culpa não é dela e sim de vocês, todo cão precisa de um tutor, alguém que diga não, alguém que comande, alguém que seja firme e fale com convicção.
Guigui é o tipo de cachorro que se fosse um Pitbull, mataria o dono e não estou sendo louca ou falando demais não, é verdade, quantas vezes vemos noticia na TV do cão que ataca e quase mata o próprio dono, eu mesma canso de ver isso na TV, então o negocio agora é mostrar quem é que manda na casa e separar a outra cachorrinha dela, isso mesmo, vai ser por pouco tempo mais pra começar é isso, ela vai saber que as coisas não são bem do jeito dela, mude o horário de comida e dos banhos e passeios, mude seu comportamento com ela, quando ela fizer algo feio, não fale e nem grite, somente olhe pra ela com olhar de brava, ela vai saber, quando ela fizer algo certo não comemore com beijos ou "Que lindo" Olhe pra ela e diga: 'Muito bem' e só, são pequenas atitudes que vão fazer com que ela veja que não é a dona de casa e o gatinho, bem só tem um jeito pra você ajeitar ele e esse jeito é adotar um gato já adulto, sim um gato já crescido, mais lembre-se adotar é uma coisa muito seria só adote se tiver pronta a ter paciência com um gato adulto... acho que falei demais, estou ficando por aqui, gostei do seu cantinho, e sua Guigui é linda, ela deve amar vocês de verdade, pois do jeito dela ela tenta cuidar de tudo... Bjs

Zélia Guardiano disse...

Rossana, minha querida
Que bom que você criou mais este espaço!
Crônica nota dez.
Muito muito divertida!
Virei sempre, amiga.
Beijos da
Zzélia

PS-Também eu estou com dificuldade para comentar em vários blogs amigos e no meu próprio.
Gosto tanto de interagir com os amigos da blogosferaa, e não estou conseguindo...
Tomara que seja, como você diz, problema passageiro.Vamos torcer!
Beijos

Tuca Zamagna disse...

Muito bom, Rossana!

Melhor ainda, a iniciativa de criar um novo blog. Há que resistir, pois parece que as redes sociais estão engolindo o tempo que as pessoas dedicavam aos blogs. Comigo mesmo tem sido assim. Mas ando com saudades do tempo, recente até, em que eu postava duas, três vezes por semana e ainda perambulava diariamente por dezenas de blogs amigos. Já estou reagindo: abandonei o twitter e logo, logo a irritação com a enxurrada de emails que recebo dos grupos que me abduziram me levará a fazer o mesmo com o FB.

Beijos

Tuca Zamagna disse...

Se a Mirze tivesse um Van Gogh, talvez o Matisse poupasse as orelhas do Kafka.

Anônimo disse...

KKKKKKKKKK
ADOREI!!!!!!!!

Adorei o novo espaço......sou sua fã.....bjs te amo Adriana maninha

Jorge Stark (Miltextos) disse...

É Freud.

Celamar Maione disse...

Ro,
cachorro e gato convivem numa " boa". E realmente, quando o gato é criado junto com um cão , ele adquire hábitos caninos. Dito por um veterinário.
Beijo no bicharada. risos.
Gostei do blog.

Boa semana !

Cris de Souza disse...

Amei!!!

Que delícia de leitura rou rou.

O bicho pega na sua casa, heim!
Sugestão: chama doutor pet.

Mirian Lamy disse...

Gostei pra caramba...sucesso...
(mas vc se esqueceu dos carrapatos...rss)
Acho q o Bush (ou a Busha) vai ter uma cronica só pra ele...ele tem muita história pra contar, vc sabe...
beijos