terça-feira, 6 de março de 2012

Peixes, etc...


Por reivindicações familiares, que aqui não vem ao caso esmiuçar, passei a tarde de domingo numa escola de teatro na capital de São Paulo.
Tive medo que fosse um “programa de índio”, mas muito me enganei, pois me diverti sobremaneira.
A escola tem direcionamento para “Musicais”, trabalhando o desempenho na área de atuação, canto e dança simultaneamente. O grupo de alunos era formado por cerca de 40 jovens, cuja faixa etária variava entre 14 e 27 anos ou pouco mais.
Surpreendi-me por que tinha mais homens que mulheres. Pode não significar nada, apenas não estou acostumada.
Porque essa crônica tem “peixe” no nome?
É o que estou tentando explicar, mas tenho uma mania terrível de não ser direta. Fico dando volteios e me desvirtuo do contexto, e às vezes, até esqueço qual era o assunto.  
Seguindo com meu raciocino truncado, prometo chegar aos peixes.
Durante uma das dinâmicas, o grupo de alunos dividiu-se em duplas que se apresentavam entre si e em seguida, era apresentado pelo colega ao grupo todo.
Tudo seguia normalmente, com algumas informações supérfluas (no meu parco entendimento), mas importantíssimas para eles, pelo que pude perceber! Falavam de signos, ascendentes, hora de nascimento, cor preferida, animais de estimação, etc.
Eu já estava num estado entre o meditar e o roncar, quando um dos garotos com seus catorze ou quinze anos, ao apresentar a colega, disse que a mesma tinha um peixe, e que juntos chegaram à conclusão de que um peixe não era animal de estimação e sim um animal de enfeite.
Achei engraçado! Sempre pensei em peixe como animal comida.
Uma das alunas que era bióloga retrucou bem humorada, e um rapaz, afrontadíssimo, fez um discurso, declarando que tinha dois peixes, que conversava com eles e que os estimava muito. Pirado de tudo!
Principiou-se um estrepitoso burburinho. Gostaram de “estrepitoso”? Eu também!
Voltando ao assunto, todos tinham uma opinião ou uma piadinha a respeito de peixes e queriam manifestá-la ao mesmo tempo, até que a professora teve que intervir para dar continuidade ao exercício.
Mesmo estando já bem acordada, não obtive a conclusão da polêmica e ainda carrego comigo a tal dúvida:
Além de servirem como alimento, os peixes são animais de enfeite ou de estimação?
Não que a conclusão vá mudar minha vida, mas na falta de coisa melhor para fazer...
Lembro que quando minha filha era pequenina, ela sonhava em ter um peixe cor-de-rosa. Eu me fazia de surda, disfarçava e ia procrastinando...
Resumindo, eu não era nem um pouco a fim de cuidar de peixe, que cá entre nós, acho um animal muito bobo!
Mas aos quatro aninhos, tudo o que uma menininha pede com jeitinho, acaba ganhando. Num belo dia, chega um casal de amigos com um lindo aquário e um peixinho cor-de-rosa de presente para a pequena.
Pronto! Sobrou pra mim...
Minha filhinha ficou exultante!
Ela queria por tudo interagir com o peixinho, tocá-lo, segurá-lo nas mãozinhas pequeninas, e tenho certeza, que apesar de eu ter explicado que peixe não se pega no colo, ela deve ter tentado em algum momento em que eu estava ausente. Aliás, pelas vezes em que encontrei o aquário revirado, foram muitos esses momentos.
Talvez, peixes sirvam mesmo só para enfeite.
O peixinho era cor-de-rosa e, portanto, apesar de ser um lindo Betta macho, foi determinado (por ela), que o peixe era uma “menina” e se chamava Yasmine, para não ficar igual ao nome da namorada do Aladim.
Peguei-a conversando com Yasmine diversas vezes, que ficava olhando para ela através dos vidros reluzentes com aquela olhar de peixe morto. Talvez, peixes sejam animais de estimação, afinal de contas...
Interessa é que esse “olhar de peixe morto” não foi apenas uma expressão e sim uma profecia, pois o peixinho, não durou muito. Não sei se pela minha inabilidade em cuidá-lo ou se pelas intervenções sistemáticas da minha menina, tentando pegá-lo.
Num dia qualquer, poucas semanas após sua chegada, encontrei Yasmine mortinha no fundo do aquário. A criança estava na escolinha, o que foi uma sorte, pois me deu tempo de procurar outro parecido para substituir o finado.
Apesar de essa prática ter se repetido algumas vezes, a cada “Yasmine” nova, o tempo de vida era maior.
Acho que eu estava enfim “pegando o jeito” de cuidar de peixe ou então, a minha filha tinha desistido de pegar o bichinho.
Ela não notava a troca dos peixinhos, até que num dia fatídico, foi ela que encontrou o defunto de peixinho no fundo do aquário.
Uma comoção geral!
Os olhinhos estupefatos e assustados miravam o bichinho descorado, quase invisível no fundo aquário. Foi uma choradeira. Eu não queria que minha criança passasse por essa experiência de perda e morte ainda tão pequenina, portanto nem vacilei!
Recolhi o bichinho (ai que nojo!), coloquei num porta-jóias com todo o cuidado e disse que ia levá-lo ao médico depois de deixá-la na escola.
Seus olhinhos vermelhos se encheram de esperança e ela me deu um sorriso de gratidão que valia por todos os absurdos do mundo!
A supermãe ataca novamente!
Prometi (insensata), que ao buscá-la na escola, a Yasmine já estaria bem. Eu já estava mesmo “escolada” em comprar peixinhos e já conhecia todas as lojas da cidade. A dificuldade era só encontrar um parecido.
Adivinhem?
A dificuldade tornou-se impossibilidade! Oh Deus! Porque esse Murphy tem que se meter em tudo? Será que ele inventou até uma lei para peixes?
Passei a tarde inteira procurando um Betta cor-de-rosa. Tinha de todas as cores, menos a necessária!
Já não sabia mais o que fazer até que escolhi um de cor entre púrpura e tijolo. Era um pouco maior que a Yasmine anterior e tinha um rabo mais longo, mas não tinha jeito. Era aquele ou nenhum!
Peixe comprado, fui pegar a pequena na escola, que já entrou no carro perguntando pelo peixinho. Mostrei o saquinho de plástico com o bichinho dentro, temendo o que viria a seguir.
Ela segurou o saquinho e olhou bem para o Betta rabudo, espantada ao ver Yasmine tão diferente.
Sua lógica infantil poupou-me de dar explicações desnecessárias.
- Aposto que o tio Carlinhos (o pediatra) deu vitamina para você crescer! Você está linda Yasmine!
Que delícia! Essa foi por pouco...

5 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

Acho lindo os peixinhos quando na sua casa grande, mar ou rio. Preso em aquários, por mais lindos que sejam, ficam feios, porque o mundinho fica reduzido e lá vou eu me pondo no lugar deles. A história do peixinho cor-de-rosa é uma delícia. Supermãe tentando evitar a dor da perda (que às vezes é um bom aprendizado...)...e um final maravilhoso. Tuas crônicas fazem jus ao nome do blogue, tudo é assunto, mas tratado por quem entende do riscado, são deliciosas de ler! :-)
Beijos,

Mariliz disse...

Rô, adorei!! Comecei a ler pois achei que seria alguma coisa relacionada ao signo de peixes (o meu!). Mas me surpreendi e fiquei imaginando as várias idas às lojas de peixes...kkkk Mas é bem coisa de mãe: poupar os filhos de qualquer sofrimento! bjs

Unknown disse...

O Máximo, minha amiga querida!

Já passei muito sufoco com esses peixinhos, que numa determinada época, era moda ser "lembrancinha" de aniversário infantil. Subo num ôbibos no Leblon, em direção ao Leme com duas crianças e bolas de gás e quareo peixinhos, disputado à tapas por outras crianças. Quase enlouqueci.

Mais tarde, taqmbém tiveram peixinhos, pintinhos, hamsters e tudo mais que for imaginado. Não sei se você sabe mas o Betta é um peixe suicida. Assim, meus netinhos com o conhecimento da mãe que adora animais, tiveram seus peixinhos, antes estudados.

Hoje tem seis gatos, dois cachorros que se amam. Deitam um por cima do outro, e eu cheguei à conclusão que bichinhos, como gato e cachorro, perdem a personalidade na convivência.

Meu Deus. Ainda bem que tudo passa!

Beijos e parabéns pelo dia de hoje.

Mirze

Laurentino Gonçalves Dias Jr. disse...

Rossana,
seu blog me foi recomendado pelo "Tio Carlinhos, o pediatra"... eheh...
Parabéns pelos textos... Eles me lembram a alegria de seu pai nos artigos das "Crônicas Pitorescas" de O ESTAFETA. Nao deixam, porém, de ter sua característica.
Abraço!
Laurentino Gonçalves Dias Jr.

*♡* Jane Dos Anjos *☆* disse...

Que doce inocencia... quem dera pudessemos manter um pouco dela.
Eu não tive uma super mamãe como sua filha, aprendi a perda de um animal de estimação muitas vezes e bem nova.
Mas peixe é sim um animal de estimação, por que não, quando pegamos estima por um animal, seja qual for ele, ele deixa de ser um simples animal, para um belo animal de estimação.
Hoje tenho 14 gatos, todos de estimação, recetemente meu unico cãozinho morreu e eu tenho 3 filhos pequenos e foi com muito aperto no peito que tive que dar a noticia que o Bibigo morreu, foi uma choradeira e eu como boa mãe, chorei junto e expliquei que os cães tbm tem um ceu e que onde Bibigo estivesse não gostaria de nos ver chorando e triste.
A realidade as vezes machuca, mas tbm ensina!!
Bjs

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